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Campeonato Nacional Yole  2023

Nos dias 23 e 24 de Setembro de 2023, numa organização conjunta da FPR e da ANL, na Doca de Santo Amaro foi organizado  Campeonato Nacional de Yole e a 3ª. Etapa da Taça de Portugal de Remo de Mar. O entusiamo colocado pelo treinador na participação de uma equipa feminina na competição de yole de 8, acabou por contagiar um grande número de atletas. Dei por mim a indagar noticias sobre a provas e a constatar a falta de voluntários na sua organização. O meu contributo foi oferecer-me para apoiar a organização na alimentação, aproveitando para marcar presença na prova da "nossa equipa feminina" de yole de 8, as bravas, como ficaram logo conhecidas: Vera Barroso, Sofia Dionisio, Rosário Athayde, Montserrat Barrachina, Rosário Fernandes (Rusa), Tatatiana Sarti, Raquel Hipólito e Carlota. Todas, sem excepção, excelentes remadoras

A minha expectativa no entanto, era  passar um sábado, dia 23, a desfrutar como simples espectador as provas do campeonato. A Federação Portuguesa de Remo instalou inclusive uma bancada virada para o Tejo que permitia comodamente acompanhar o desenrolar das provas. Junto à rampa de acesso ao pontão estavam afixadas as provas e respectivos horários, os quais forma raramente cumpridos. Tudo perfeito para assistir a um espectáculo desportivo que prometia, mas nada disto aconteceu. Assim que cheguei ao clube, às 9h00 em ponto, esperava-nos um intenso treino de flexibilidade. Enquanto cada parte do corpo era esticada para nos consolar, Filipe Monteiro, chamava à atenção que vamos perdendo a força com a idade, mas a flexiblidade se acomopanhada de exercícios regulares pode manter-se por muito mais tempo. No fim deste treino de flexibilidade seguiu-se uma caminhada em passo de corrida. Era dificil acreditar que as nossas "bravas atletas" não se ressentissem deste esforço na prova que iriam realizar.

Entretanto, a Doca de Santo Amaro foi-se enchendo de atletas de clubes de Lisboa e arredores (ANL, Ferroviários, Nova), do Barreiro, Moita, Setúbal, Figueira da Foz, Aveiro, Porto e Vila do Conde. Quam andava numa enorme azáfama era o arrais da ANL. "Não quero que ninguém saia prejudicado neste campeonato por um problema técnico no barco".

 A caminho do pontão com uma preciosidade do Clube dos Ferroviários  

As provas não tardaram a iniciar-se e surgiram os primeiros precalços. Alguns atletas pelas razões diversas não compareceram. Havia que os substituir. "Tens que ser timoneiro!". Incrédulo, ainda perguntei com um ar de espanto: "Eu?...". Felizmente naquele momento estava ali perto a pessoa que me poderia substituir: o veterano João Prata. Formado na "velha escola dos anos setenta" é um repositório de memórias desse tempo. Sem grandes insistências aceitou e livrou-me desta enorme responsabilidade para agrado de todos como se verá. Julquei que estava livre para andar a cirandar na agitação do cais, onde se alinhavam os barcos e as equipas aprontavam-se para as provas. Tinha mesmo que remar, estava escrito algures . Um barco de demonstração de remo adaptado, o George necessitava de um remador. Não podia dizer que não. Era uma experiência única remar num yole de 4 com duas atletas invisuais.

Várias vezes observei treinos com estas atletas de remo adaptado, e sempre me interroguei sobre os problemas que um cego enfrentava no remo. Que instintos tinham desenvolvido para suprir a ausência da visão.

Era a altura de encontrar respostas às minhas perguntas, ainda por cima, num ambiente de competição. A mais experiente remadora invisual, a Sueli foi à voga, a Luisa à sota. O timoneiro, um jovem remador, parecia ser a primeira vez que orientava o barco destas atletas. Foi sempre muito parco nas indicações orais, o que não facilitou o desafio que tinham pela frente. Na entrada no barco, como mentalmente já tivessem o seu desenho por pequenos toques mediram as distâncias e posições do remos. Prepararam-se para fazer aquilo que sabiam, remar. Os primeiros mil metros até às boias de partida para meu espanto decorrerram muito bem, com momentos de grandes sincronismo nas remadas. George na proa, procurava suprimir a manifesta falta de palavras do timoneiro. Deu algumas indicações, nomeadamente sobre a posição que se encontravam as pás e distribuiu elogios. O alinhamento na partida, com outros barcos foi perfeito. Alguma descoordenação deu-se durante a prova. A voga acelerou a dado momento, seguindo as indicações do timoneiro. A sota não terá ouvido e ficou algo perdida, e pelas sensações que recebia tentou ajustar a remada . Eu procurei  seguir voga, indiferente aos desajustes da solta. O George à sota não sei o que fazia. O certo é que a prova foi concluida com sucesso, demonstrando que o remo adaptado é um excelente desporto também para invisuais, permitindo-lhes desenvolver uma actividade física ao ar livre em condições adaptadas às suas capacidades.  

Saída das Bravas  da Doca do imponente Yole de 8

Após a nossa excelente prova, não podia perder a largada do barco das bravas atletas. João Prata, numa manobra de experiente timoneiro, após equilibrar o barco, saiu da doca de forma irrepreensível. Em pleno Tejo fez ainda uma coreografia com os remos. Depois... foi esperar pelo início da corrida. 

 

Não venceram, mas deram uma inesquecível lição de fair play   desportivo. Por indicação do João Prata saudaram os vencedores: "hip hip hurra! hip hip hurra!", um costume antigo do remo em Portugal que se perdeu, conforme depois no confidenciou. Não estavam ali para ganhar a qualquer preço, disputar uma prova de forma leal e saudar os melhores. 

No final vencedores e vencidos nos dois clubes da Doca de Santo Amaro fizeram questão de tirar uma fotografia para a posteridade.

As provas continuaram, num dia de sol de um dia de verão. Foi então que me lembrei que ainda não tinha almoçado, tantas foram as emoções.

YOLES

Há muitas histórias sobre a origem dos Yoles que competiram no Tejo . Este tipo de construção naval terá começado na Noruega, daqui passou para o norte da Escócia.  No século XIX estava já muito difundido pela Europa. Aparece em pinturas de Manet, Renoir ou Ferdinand Gueldry. A partir de 1870 foi equipado com um banco deslizante (carrinho). Foi introduzido nos Jogos Olimpicos de 1912 (Estocolmo). É um barco muito adaptado ao treino de manutenção e a passeios.  Na Martinica, a regata de yoles (muito transformados) é um verdadeiro acontecimento local. 

O termo é de origem germânica. Em inglês e português: Yole. Francês e espanhol: Yola. Norueguês: Jol. Dinamarquês: Jolle. Holandês: Jol. Italiano: Iole: Catalão: Iol. O termo  Yolette é aplicado aos yoles mais estreitos e parelhos.           

Os yoles tradicionais são barcos muito longos de convés aberto e  borda livre. Antigamente eram constituidos por 6 ou 7 tábuas trincadas (sobrepostas), sem braçadeiras. O esqueleto da embarcação é construído depois de o casco ter tomado forma. Era uma técnica muito comum no Norte da Europa. Actualmente o casco é uma peça única constituida por materiais sintéticos que os torna muito mais leves. Os bancos móveis deslizam sobre rodas de modo a permitir utilizar as pernas na propulsão das embarcações. O timoneiro vai à popa e maneja o leme através de cabos. Os yoles mais comuns de 2 remadores (8 metros), 4 (11 metros) e 8 (17 metros) com timoneiro.

La Yola (1875), pintura de  Pierre-Auguste Renoir

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