Praticar Remo no Ferroviário
Em Janeiro inicia-se muitas coisas. Em Janeiro de 2019 fomos visitar o Clube Ferroviário de Portugal, na doca de Santo Amaro em Lisboa, e ficamos surpreendidos com as condições e o acolhimento. Até encontramos um velho amigo de Alvalade. O convite surgiu pronto, porque não praticas remo no clube? A experiência no Clube Naval de Lisboa sabia a pouco, prometemos voltar e aceitar o convite. Após o verão lá estavamos nós, eu e o meu amigo João no remo.
Após algumas sessões nos tanques e no ginásio para aprender o essencial o remo e a sua terminologia, para além de adquirir a resistência e a coordenação necessária fomos considerados aptos para iniciar a verdadeira prova: remar no rio Tejo !. De forma intermitente lá fomos remando e aprendendo com quem sabe, e até envergamos com satisfação a camisola do clube. Havia muito que aprender.
A origem do clube remonta ao século XIX. Os operários ferroviários que moravam na margem sul do Tejo, conta-se, faziam competições entre eles para ver quem chegava primeiro a Lisboa. Em 1880 alguns deles ganharam uma regata em Cascais, cuja taça constituia uma referência incontornável no clube. Em 1928 decidiram criar o Grupo Desportivo dos Ferroviários da CP - Lisboa, e em 1934 formou-se o Ateneu Ferroviário. O Grupo Desportivo da CP, em 1946, conquista o Troféu da Câmara Municipal de Lisboa, instituído neste ano, pelas suas vitórias e pontuações em "yolles de mar", nas categorias de principiantes e de seniores. Em 1961 as duas associações uniram-se para fundarem o Clube Ferroviário de Portugal.
A fundação do "Ferroviário" em 1928, corresponde a um período de forte expansão do remo, quando nas grandes empresas começaram a formar-se criação de clubes desportivos. Na década de vinte registe-se a criação do Clube Naval Setubalense (1920), a fundação do Clube Nautico em Viana do Castelo e do Clube Naval Infante D. Henrique em Valbom (ambos em 1925), culminando com o aparecimento de duas potencias do remo a partir dos anos anos trinta: o Sporting Club Caminhense (1926) e a Secção do Remo d`Os Galitos (1928). O primeiro era a filial nº. 49 do Sporting Clube de Portugal. O segundo, nasceu em 1904, em resultado de desavenças dos mais novos com os mais velhos na Soc. Recreio Artístico de Aveiro, daí o nome "galitos".
Nos anos trinta, no ambito da poltica corporativa do regime foi incentivado as competições inter-corporativas. Fundaram-se dois importantes clubes de empresa, com secções de remo: o Grupo Desportivo dos Ferroviários do Barreiro (1934) e o Grupo Desportivo da CUF (1937). Voltemos ao Ferroviário.
No dia 14 de Dezembro de 2019, o Clube Ferroviário de Portugal comemorava o seu 91º. aniversário. No cais da Doca de Santo Amaro, em Alcantara, onde o clube inaugurou em Abril de 1966 o seu "Posto Nautico", a azafama era grande. Foi-nos dado o privilégio de participarmos numa emocionante regata e no almoço comemorativo.
Ricardo e António Arnega do Carmo
A largada dos barcos é sempre um momento de grande animação e a coordenação das manobras fundamental. Não se entra na água de qualquer maneira. Cabe aos "timoneiros" verificarem o estado dos barcos, fixar os lugares de cada remador e dar todas a indicações necessárias. Uma delas que registamos foi que todos temos que seguir o "voga", o remador que marca a cadência. Nas manobras "Remar" e "ciar" são das palavras mais ouvidas. Na largada a sequência das remadas está definida: "remar a braços", "Tronco e braços", "meia calha" e remar "completo / comprido" (remada larga). Na chegada a sequência é a contrária. Com a precisão de um relógio, ou não fosse a remada um movimento ciclico, o barco põem em movimento e atinge a velocidade pretendida.
António Arnega foi nosso treinador e é uma instituição no remo. Nos seus treinos confere grande importância ao conhecimento da terminologia técnica dos barcos e do remo, fundamental para uma boa comunicação e uma rápida resposta às ordens do timoneiro. Á força de tanto o ouvir retivemos alguns termos, veja o que significam:
Calhas: pequenas travessas sobre os quais deliza o slide
Carangueja: prisão da pá do remo na água, por falta cometida opelo remador com o barco em movimento
Ciar: remar para trás
Falca: tábua que termina o casco, e que se estende a todo o comprimento do poço, e onde se vêm ligar as aranhas
Forqueta: aparelho metálico com movimento de rotação sobgre um eixo vertical, e onde assenta o tacão do remo.
Leva. voz de comando para deixar de remar
Sota: lado oposto à voga
Slide: banco móvel
Voga: remador que fica de costas voltadas para todos os outros e os guia, determinando a cadência da remada
Ficou espantado com os nossos conhecimentos?. Não fique!. Ouvimo-los do mestre Arnega e confirmamo-los em obras como "Remo" de António Jorge Bustorff Ferro (1947).
Sanoval Cruzinha, outro dos nossos treinadores, impressionou-nos pela insistência colocava nos aspectos técnicos das diferentes fases da remada, postura e movimentos correctos dos remadores. Deixando de lado as fases da remada (Ataque, Passagem pela água, final da remada e vinda para a frente), retivemos na memória os ensinamentos sobre a pega do punho do remo e os cuidados a ter numa postura correcta na remada de modo a evitar mazelas e diminuir a fadiga.
A pega do punho do remo, revelou-se para mim um problema. Diziam-me par segurar o remo com os dedos, e evitar segurá-lo com a palma das mãos, o que originava uma contracção desporcionada de todos os musculos do ante-braço e até dos ombros. A mão exterior devia ser colocada no extremo do punho do remo, de modo a conseguir o maior rendimento do impulso do remo. A outra mão a sensivelmente meio palmo da mão de fora. O tacão do remo tinha que estar sempre encostado à forqueta. A parte superior das mãos e pulsos deviam estar o mais possivel na horizontal, evitando afundamentos da pá. O leitor percebeu ?. Não hesite, está apto a iniciar a aprendizagem no desporto mais completo de todos: o remo.
O remo, dizem os especialistas, a performance é determinada, em grande medida, por factores fisiológicos. Ora, a resistência, com um peso de 60% suplanta as restantes capacidades: força (25%), coordenação (10%), velocidade (2,5%) e flexiblidade (2,5%), valores que confirmamos num excelente estudo de 2002 de Jorge Manuel Pereira Ribeiro. A nossa satisfação enquanto jornalistas está importância conferida à capacidade de resistência, factor determinante no ofício que escolhemos.
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