O Clube
Um clube de remo não é um ginásio, embora também o seja. A vida do clube, os seus problemas passam a fezer parte de quem o frequenta, o processo não é imediato. O sentimento de pertença que faz ao sócio sentir como seus a história, vivências, questões e o futuro do Clube é um percurso pessoal de aproximação a um entidade comum.
ANL - Remo. Vida Associativa
No dia 25 de Outubro de 2023 participamos numa reunião de sócios da "secção de remo". Não posso dizer que era a primeira vez que o fazia, a novidade estava no empenho da direcção do remo em ouvir os sócios, envolvendo-os nas decisões a tomar. No remo são cerca de "450" sócios, 30% dos quais são mulheres, e no Lazer ultrapassam os 50%. A noite estava particulamente chuvosa, pouco agradável para uma reunião à hora do jantar. Apesar de tudo, numa rápida contagem, mais de quatro dezenas de associados não deixaram estavam presentes. Estas reuniões proporcionam não apenas um melhor conhecimento dos problemas que enfrentam os clubes, mas também da sua "massa crítica" mobilizável para os resolver.
A ordem de trabalhos constatava de três pontos: Contas de 2022, Instalações e Frota.Esta reunião precedia a assembleia geral do clube que contará com os elementos da vela.
O primeiro tema à discussão foram os números agregados da gestão financeira do remo em 2022. Um ano de recuperação depois de dois anos de Pandemia (2020 e 2021) que afectaram em muitos aspectos a vida do clubes (organização, praticantes, finanças, etc). Nas palavras de Miguel Rolo, presidente da secção de remo, a recuperação tem sido excelente. A grande preocupação actual são os gastos evitáveis, e que resultam de danos provocados nas embarcações pelo mau uso. Um valor cerca de 15% da despesa global. Uma questão que o deixava indignado. É sabido que o material do remo é caro e os clubes desta dimensão para funcionarem andam a contar tostões. Esta lamentável situação tem afinal uma explicação objectiva: o aumento do número de praticantes, muitos dos quais sem qualquer experiência de remo. Os protocolos com várias instituições, para iniciação no remo, assim o obrigam. Foi igualmente lembrado a elevada rotatividade dos praticantes, nomeadamente na competição. Cerca de 52% dos sócios da ANL-Remo tem menos de 2 anos. Uma percentagem similar a todos o clubes em todo o mundo. Solução? Os treinadores tem que ser mais proactivos neste domínio, e darem uma mais adequada formação aos timoneiros, a quem cabe zelar pela gestão de cada barco.
O tema das instalações na Doca de Santo Amaro foi no meu ponto de vista, o mais interessante. O clube que regista uma elevada procura está limitado na sua expansão. Não tem espaço para acomodar mais barcos. A solução de recurso é colocá-los na rua, acelerando a sua degradação e expondo-os a actos de vandalismo. A alternativa passa por construir novas instalações, mas existe um mar de limitações. A principal está no próprio local. No passado recente, um dos sócios (Carlos Afonso) fez um projecto. Foi apresentado às três entidades com competências neste espaço: a CML, o Porto de Lisboa e a Cultura. O projecto foi chumbado. Motivo: as instalações do ANL-Ramo estão construídas dentro da área de protecção do célebre Caneiro de Alcantara. O único projecto susceptivel de ser autorizado tem que respeitar a volumetria do edificado existente, limitar-se ao reforço das estruturas, substituição das cobertura e a melhorias internas nas instalações. Um projecto que os sócios foram convidados a abraçar.
O terceiro tema foi o do aumento da frota. Com um entusiasmo próprio de quem vive estas coisas com paixão, foi lançando um importante desafio aos presentes: Surgiu uma oportunidade de adquirir dois yoles, um de mar. O clube tem apenas a possibilidade de financiar 50% da sua aquisição. A questão era saber se os sócios estavam receptivos à ideia de contribuirem com o restante capital. No passado foram experimentadas diversas soluções para resolver o financiamento destas aquisições, nenhuma foi consensual. A nossa convicção é que com a determinação colectiva que sentimos presente, a aquisição dos yoles vai mesmo realizar-se.
Era dificil encontrar uma assembleia mais focada em encontrar soluções para os problemas colocados.
Sede da ANL na Doca de Belém. Toda a envolvente do Pavilhão está em obras desde 1921. Foto: 6/02/2024
O Pavilhão dos Descobrimentos da autoria de Porfírio Pardal Monteiro foi inaugurado a 28/06/1940, sendo a sua decoração da responsabilidade de Conttinelli Telmo, arquitecto-chefe da Exposição do Mundo Português de 1940. A 16/02/1945 foi entregue à ANL que o converteu na sede da Secção de Vela e Montonautica. Entre 1959 e 1962 sofreu obras para albergar o clube de vela. Ao longo dos anos foram sendo cedidos espaços do pavilhão para a instalação de várias organizações ligadas à vela. Foram também realizadas obras e feitos acrescentos que modificaram a sua traça inicial.
O edificio está classificado, apresentado um elevado estado de degradação. Foto: 6/02/2024
Na fachada sul do pavilhão a criação de vários restaurantes, sem nenhum plano de ordenamento, alterou por completo o seu carácter despojados e linear. Pardal Monteiro, o arquitecto do pavilhão, foi na altura criticado pelo aspecto excessivamente "funcionalista" e "monótono" do projecto. Era constituido por dois corpos, que se intersectavam formando um "L". A construção era precária, revestida a estafe com uma estrutura em madeira e metal. Foto: 6/02/2024
ANL - Assembleia Geral do Clube
A Assembleia Geral da ANL que teve lugar no dia 25 de Janeiro de 2024, nas instalações de Santo Amaro, constituiu uma experiência singular. Era a primeira vez que estavamos frente a frente com a maioria dos dirigentes do clube, e muitos outros sócios cuja existência ignoravamos.
Atrasos. A assembleia, como era expectável, foi marcada por duras criticas ao "incompreensível" atraso no Relatório de Contas do clube. Estamos em Janeiro de 2024 a discutir contas do exercício de 2022. As de 2023, em princípio, serão apresentadas até março de 2024. A que se ficou a dever semelhante atraso? As razões foram substanciais, ainda que "indisculpáveis":
a) Desde 2017 a ANL incetou um processo de fusão das suas históricas secções: o Remo e a Vela que até aí viviam na prática separadas. O que implicou rever os Estatutos do Clube, uniformizar procedimentos contabilisticos, categorias de sócios (muito distintas), quotizações, etc.
b) Outros problemas, não menores, foram a Pandemia (2019 -2020), as obras na sede do Clube, onde funciona a secção de Vela, saída de membros das equipas dirigentes, etc.
Para quem vive intensamente a vida do clube, há apenas uma explicação: falta de empenho. Foram trazidos, como é corrente em assembleias similares, exemplos como as coisas antes funcionavam melhor, a tempo e horas.
No interior da sede da ANL, na sala dedicada a D. Manuel I, encontra-se este mural que representa a célebre embaixada enviada pelo rei ao papa em 1514. No final das obras de reabilitação do edificio deverá ser restaurado. Na exposição de 1940 Canto da Maia concebeu para esta sala, a VI, um grupo escultórico que colocou D. Manuel I ladeado por Vasco da Gama e Pedro Alvares Cabral (o gesso encontra-se guardado no Museu Machado de Castro em Coimbra). Foto: 6/02/2024
Obras. O principal ponto de discordia foram as obras intermináveis da sede do Clube (Doca de Belém), onde funciona a secção de Vela, obras que se arrastam desde 2021. O edificio está classificado e recebeu importantes apoios da CML para a sua reabilitação. O problema tem sido os crónicos atrasos nos processos burocráticos: aprovação de projectos, licenças, reconhecimento da legalidade da ocupação do edificio, etc . Depois foram outras obras que também se tornaram necessárias, como a instalação de um nova grua, um novo contratado para a exploração do restaurante (25 anos !), etc. Como se isto não bastasse, o Porto de Lisboa está a fazer demoradas obras na envolvente da sede, afectando a actividade desta secção, o restaurante (fonte de receitas), etc.
Dos sócios ligados à secção de Vela, choveram acusações de inoperância, de decisões tomadas sem os sócios serem consultados. Os animos exaltarem-se e houve demissões na direcção da secção de Vela, tendo sido decidido marcar novas eleições. Ficou a garantia da direcção cessante que as obras serima concluidas e que o clube iria ter uma sede mais dignificada. Ouvimos de um sócio da secção de remo, um reparo sobre o valor final das mesmas e se as decisões tomadas não acabarão por condicionar o futuro do clube.
Dependências. Ninguém dá nada sem retorno, esta um das grandes preocupações resultantes da discussão das contas do clube. Os resultados financeiros são equilibrados foram obtidos à custa de uma excessiva dependência da CML. Esta dependência financeira torna o futuro do clube incerto, caso haja um a mudança na política camarária nos apoios aos desportos nauticos. A Câmara de Lisboa, através de vários programas destinados ao incentivo à pratica desportiva nas escolas da cidade tem financiado o clube. Muito limitado nas suas instalações, como na secção do remo, estas "contrapartidas" acabam por limitar outras actividades. Uma das medidas aprovadas para minorar a dependência foi o aumento das quotas dos sócios. Não deixou de ser criticada a tendência, manifestada em alguns discursos, de transformar as actividades do clube, em particular as ligadas ao "lazer" num negócio lucrativo.
Sócios. "Os sócios são o principal activo do Clube", esta afirmação constitui outra das críticas ao Relatório da Direcção do Clube. Faltava informação no Relatório sobre os sócios, nomeadamente quantos são em cada secção e respetivas categorias, resultados desportivos alcançados, etc. "Não estamos mal ! No remo estamos em 3º. lugar no Ranking nacional, na Vela abaixo do 10...". Era perceptivel que a uniformização dos sócios no Clube, continua a ser um histórico problema.
No remo, existem duas categorias fundamentais: os sócios e o sócios-praticant . Em 2010, eram 248 e 145 respetivamente. Em 2017, o número já tinha subido para 307 e 227. O número de 2019 são muito expressivos de uma mudança que ocorreu entretanto nos praticantes de remo: dos 251 que o faziam, 124 eram no lazer, a grande distância da segunda categoria mais representada nesta secção, a dos veteranos (31). Uma tendência que se reforçou.
Na Vela, como ocorria já no século XIX, os sócios diferenciam-se pelo seu "estatuto" no Clube, nomeadamente entre os que têm embarcações (cerca de 30%) e os que não as possuem. A possibilidade de armazenamento de barcos e outro equipamento no clube torna-o mais ou menos atrativo. O emprestimo de dinheiro ao clube, em momentos de crise ou para aquisição de embarcações, contribui também para fixar estes "estatutos". Para contemplar estas diferenças foram criadas nove categorias de sócios. Em 2020, os números apurados eram os seguintes: sócios vitalícios: -70; sócios efectivos: - 74; Outros (comodoro; mérito vitalício): -1; sócios juvenis: - 52; sócios tripulantes: -25 . |
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