Oh Não ! (1)
O país entrou em estado de
choque, com a mera possibilidade de ter como primeiro-ministro o actual
presidente da CML e como ministro dos negócios estrangeiros o ex-vereador
Paulo Portas. Andando pelas ruas de Lisboa, no dia em que se confirmou esta
hipótese (28 de Junho de 2004), ninguém queria acreditar no que
os deuses estavam a urdir. Num povo habituado a lidar com os fados da vida,
cantando-os num tom alegre ou magoado, mas sempre mantendo a mesma
determinação, o desânimo não podia ser maior. "Oh não
!", dizia um lisboeta sucumbindo perante a notícia avançada pelos
vários canais de televisão.
Porquê este pavor que se
apossou dos portugueses tanto à esquerda como à direita? O assunto merece uma reflexão
ponderada de todos os que vivem nesta cidade. A situação em nada honra os lisboetas.
Como é possível que estes dois políticos, eleitos para a CML nas eleições autárquicas de Dezembro de
2001, sejam actualmente considerados pela esmagadora maioria dos portugueses como um perigo para o próprio país?
Várias são as respostas
possíveis para esta humilhante situação em que se encontram os lisboetas,
dado que lhes deram cerca de 800 votos a mais do que aos seus opositores, mas
que foram suficientes para os elegerem.
Primeiro: Avaliação
Os portugueses fazem uma avaliação muito negativa da sua "obra "
na CML e não gostariam ver a mesma serem repetida ao nível do país. Temem
que a sua acção à frente do país coloque em causa a sua própria
sobrevivência. Tem razão para pensarem deste modo?
a) Paulo Portas. É verdade que logo a seguir a
ter sido eleito vereador (Dezembro de 2001) não tardou a abandonar a CML.
Nada fez, mas também ninguém esperava que nada fizesse por Lisboa.
Limitou-se a fazer promessas durante a campanha eleitoral e depois de eleito
desligou-se do cargo para o qual tinha sido eleito. Os que o substituíram
(Henrique de Freitas, Faist, etc) revelaram-se uma desastre no cumprimento
das suas funções autárquicas, acabando sucessivamente por abandonar o
barco quais ratos de um navio prestes a afundar-se. Pior era impossível,
temos de reconhecer.
b) Santana Lopes é sabido
que promete muito e nunca se cansa de o fazer, parecendo mesmo que é a única
coisa que sabe fazer. Mestre na política-espectáculo, transformou a gestão
autárquica num espectáculo com que alimenta as primeiras páginas do jornais. A sua vida privada, convenientemente exposta, fornece por
sua vez abundante material para as revistas "cor de rosa" fazendo
a delícia daqueles que se vêem obrigados a lê-las quando têm que
frequentar os cabeleireiros, dentistas, médicos, etc. O que sobra das suas
promessas á frente da CML são cartazes, muitos cartazes anunciando coisas
mirambulantes que nunca foram cumpridas nem sequer tentadas, como o
rejuvenescimento da população da cidade. Por todos estes motivos só
podemos estar de acordo com José Pacheco Pereira (Publico, 1/7/2004) quando
afirma que os resultados desta política populista são simplesmente ruinosos (
ver ).
Segundo: Transparência.
Portugal ocupa, como é
tristemente sabido, um dos piores lugares na União Europeia em termos de
corrupção. O que temem agora os portugueses ?
Na verdade Santana Lopes e Paulo
Portas durante a campanha eleitoral afirmaram repetidas vezes que iriam
combater a corrupção que grassa na CML. Anunciaram o fim do sistema das
cunhas, do compadrio e até do amiguismo, defenderam sem tibiezas o mérito
e a competência. Por força das circunstâncias, Santana acabou ficar
sózinho neste combate contra a corrupção, mas rapidamente se percebeu que
não era essa a sua guerra. Ás clientelas já instaladas na CML, novas
clientelas se vieram juntar. Assistiu-se a algo inacreditável neste
contexto: O presidente da CML a pôr na ordem uma vereadora do seu partido
que resolvera transformar o erário público em pertences pessoais. A
comunicação social não tardou em fazer eco do que estava a acontecer na
CML, cada vez mais inundada por bandos mafiosos cujo único
elemento relevante no currículo para justificar o lugar que ocupavam era o
o de serem amigos do presidente ou de um qualquer vereador.
Terceiro:
Sucessões
A situação é particularmente
dramática, quando se equaciona a questão das diversas sucessões: primeiro de Durão Barroso (morador no Campo Grande)
e depois de Santana Lopes na CML. Ver este último como primeiro-ministro de
Portugal, pelos vistos era um cenário que nem o mais ignorante e distraído dos
portugueses era
capaz de perspectivar. Não faltam argumentos aos que se opõem a esta hipótese, a começar
pelo facto da escolha de um primeiro-ministro não poder ser
uma questão resolvida apenas no seio de um partido político, onde um grupo de
amigalhaços decidem entre si quem vai ficar à frente de Portugal. Recorde-se
que Santana Lopes não se submeteu a nenhuma eleição para este cargo, sendo
apenas eleito para presidir à CML.
O problema não se reduz todavia ao
país, arrasta também Lisboa. Um exaltado cibernauta escrevia aterrado com
os cenários que se desenham para a cidade."
Já imaginaram os que irão substituir Santana Lopes na CML ? Os que o
rodeiam já deram provas mais do suficientes da sua total inaptidão para os
respectivos cargos. Se o lisboetas não querem saber da sua cidade, nós
como portugueses, estamos preocupados com o futuro da capital do
país!". Ânimo Como lisboetas, não
podemos deixar de nos indignar com imagem que está a ser da veiculada da cidade
por mais reles que sejam os seus dirigentes
autárquicos. Todos sabemos que em Lisboa reina o populismo e a incompetência
perante a mais completa indiferença da maioria dos lisboetas. Reconhecemos que
Pacheco Pereira tem razão. Fazemos todavia um pedido: por favor não diminuam
ainda mais a auto-estima dos lisboetas.
Não podemos entrar numa situação
de total desanimo.É preciso recordar que na história milenar de Lisboa, os
seus habitantes já viveram situações de idêntico descalabro na
administração municipal, como foi aquela que se seguiu ao terramoto de 1755 ou
durante a guerra civil (1828-1834). Mas uma coisa é certa: os lisboetas sempre
encontraram energia para as superar, fazendo renascer das cinzas uma nova cidade,
onde apesar de tudo, gostamos de viver.
MP - Sub-Director
do Jornal da Praceta ..,
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