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Quem
Ganha com o Descalabro das Autarquias?
Os municípes deste país vivem
hoje uma situação, paradoxal: Por um lado, sentem mais confiança nas
autarquias do que no Estado, dada a sua maior proximidade. Por outro,
temem-nas, dada a forma danosa como são frequentemente geridas,
reflectindo-se estes efeitos não apenas a nível local, mas também em todo o
país.
Quatro exemplos:
Os descalabros orçamentais nas
autarquias, tornaram-se tão habituais que deixaram de ser notícia. Nas últimas
eleições autárquicas (2002), o desnorte das contas municipais atingiu dimensões
colossais. Num único mês, durante a campanha eleitoral, para caçarem votos,
as câmaras contraíram dividas no valor de 0,3 do Produto Interno Bruto. Como
é sabido estas agravaram de forma insustentável o incumprimento do acordo
assumido por Portugal com a União Europeia em matéria de divida pública.
A proliferação das empresas
municipais, neste panorama já de si preocupante, acabou por tornar ainda mais
difícil o controlo das despesas municipais. Estas empresas vagueiem acima de
qualquer fiscalização do Estado, albergam todo o tipo de pessoas e cometem
as mais incríveis impunidades.
É sabido que as autarquias se
tornaram numa das principais fontes de financiamento dos clubes de futebol e
até de partidos políticos. O ano de 2002 e 2003 tem sido fértil em
revelações escabrosas. Alguns autarcas foram ao ponto de ignorarem as
carências mais básicas das populações, desviando para os clubes de
futebol, os recursos financeiros que deveriam ter aplicado na melhoria dos
equipamentos escolares e culturais, arruamentos,saneamento básico,
despoluição dos rios e ribeiras, áreas de lazer, etc. Tudo o que é
essencial foi esquecido. É por tudo isto que o país continua a apresentar
níveis de atraso gritantes e injustificáveis na União Europeia.
As nossas cidades, vilas e
aldeias, apesar dos enormes investimentos feitos no seu melhoramento,
apresentam frequentemente uma imagem deprimente quando comparadas com as suas
congéneres europeias. Por todo o lado crescem os
protestos do moradores contra a degradação do ambiente. Acumulam-se os
aberrações urbanísticas, as obras mal planeadas ou executadas muito acima
do seu valor inicial, etc.
É sabido que as autarquias,
padecem de todos os males da administração pública e mais alguns: 1. Baixa
produtividade;2. Funcionários com baixas qualificações profissionais, e
desenquadrados funcionalmente; 3. Grande permeabilidade a todos os tipos de
corrupção; 4. Excessiva dependência de receitas provenientes da construção
civil; 5.Ausência de planeamento, fiscalização e avaliação;
6. Um modelo
de gestão pouco eficaz e eficiente; 7. Uma coordenação inexistente a nível
regional; etc,etc. A quem interessa este
descalabro das autarquias? Aos municípes não é certamente, ao país nem
pensar. Aos incompetentes e corruptos com toda a certeza.
Carlos
Fontes Director
do Jornal da Parceta
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