Quando os moradores têm um problema na cidade de
Lisboa, a primeira coisa que lhes ocorre é logo contactarem a televisão para
denunciarem o caso. Dir-se-á que procuram protagonismo. Tendo em conta
o que se passou na Praceta da Jardim da Rua José Lins do Rêgo, julgo que a questão é
muitíssimo mais grave.
1.Estamos em crer que os
habitantes de Lisboa há muito que deixaram de confiar na Câmara Municipal de
Lisboa e nos seus serviços. Nutrem idêntica desconfiança pela generalidade
das instituições públicas. Aos seus olhos, os dirigentes camarários e uma
boa parte dos seus funcionários, não trabalham para servir a cidade, mas para se
servirem a si mesmos e alimentarem inúmeras clientelas a que estão ligados.
Analisando o que nos é dado conhecer, ouvindo o que os moradores afirmam
sobre modo como a cidade é gerida, em consciência, ninguém pode deixar de
formar outra ideia.
2. É por tudo isto que os
canais de televisão e os jornais são assim encarados pelos municípes como o
último recurso para obterem a desejada justiça. Acontece que os orgãos de
comunicação social actuam não segundo uma lógica de justiça, mas de
canibalização dos fenómenos sociais. Alimentam-se deles enquanto estes dão
lucro, isto é, são susceptíveis de venderem jornais ou geram
audiências.
3. Este
tratamento sistemático da coisa pública, acaba por
minar os fundamentos da própria democracia, ao levar o comum dos cidadãos a
alhear-se da coisa pública, porque sente que a mesma não lhe pertence.
4.Olhando para os actuais
dirigentes da CML, à esquerda e à direita, o panorama que encontramos parece
reforçar estas percepções muito generalizadas.
5. O actual presidente
(Santana Lopes), parece ter apenas três preocupações na vida: construir um casino em
Lisboa, promover a sua pessoa e acumular vencimentos. Tem tempo para
tudo menos para receber os municipes e tratar com seriedade e serenidade os
problemas da cidade.
Os vereadores são apontados pelo próprio
presidente de incompetentes. A oposição acusa-os também de acumularem
vencimentos na CML, servindo-se das empresas municipais. A sua resposta às acusações que são alvo é paradigmática do estado da cidade e do pais:
"Não somos os únicos. Todos fazem o mesmo na CML, quer estejam na
maioria, quer na oposição".
É fácil de perceber que estes autarcas estão longe de
servirem de exemplo a quem quer que seja. A única esperança para a cidade e
o país para sair deste pântano assenta no desenvolvimento e no reforço de
uma cultura cívica .
Carlos Fontes
Director
do Jornal da Praceta
Exemplo
da bagunça que reina na CML: "Helena
Lopes da Costa. A propósito de uma questiúncula sobre o corpo de segurança
especial atribuído a Santana Lopes, esta vereadora do PSD na Câmara
Municipal de Lisboa veio atirar com as mordomias camarárias à cara da
oposição: o vereador Vasco Franco do PS acumula com o cargo na empresa
Sanest da Câmara Municipal da Amadora (Vasco Franco diz que é verdade, mas
que saíu em Outubro), o vereador António Abreu do PCP duplica os vencimentos
com 800 contos que recebe da Sociedade Monte da Lua da Câmara de Sintra
(Abreu corrige para 600 contos líquidos), etc. A oposição lembrou-lhe os
ordenados que ela acumula na Câmara e como administradora da EPUL.
Assim se fica saber o nível das mordomias e do debate político no fascinante
mundo do poder autárquico". J.A.L., Expresso, 28/2/2004. Recorde-se
que já se tornou uma rotina a passagem de vereadores da esquerda ou da
direita da câmara directamente para empresas de construção, nomeadamente
quando expiram os seus mandatos. Comentários |