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Bairros velhos,
bairros novos - os mesmos problemas !
O trânsito e o estacionamento na cidade de Lisboa
ultrapassaram todos os limites.
À falta de civismo junta-se a total
incompetência dos serviços municipais encarregues do planeamento urbanístico.
A prova da verdade desta afirmação está nos novos bairros que por toda a
cidade estão a serem construídos: - os problemas de transito e de
estacionamento são neles iguais ou piores aos que existem nos bairros antigos. Também aqui
se estaciona em cima dos passeios por falta de lugares, obrigando as pessoas a
andar nas ruas entre os automóveis; as ruas estão mal
dimensionadas para o tráfego corrente; os espaços verdes são inexistentes, etc.
É preciso apurar responsabilidades e correr com a chusma
de dirigentes e funcionários incompetentes e corruptos que pululam pelos
serviços camarários, prontos a venderem-se ao primeiro construtor que se lhes
pague um almoço...
Agonia de uma cidade
(1991-2001)
As
estatísticas confirmam: Lisboa está a ser afogada por automóveis devido a
políticas suicidárias da CML.
O mais grave é que não
se apuram responsabilidades e o desvario continua.
O atual caos que se verifica no
estacionamento em Lisboa era mais do que previsível, mas a CML resolveu ignorar
a situação:
Estudo do INE e do Ministério das Obras Públicas, Transporte e Habitação,
à população da Grande Lisboa, conclui que entre 1991 e 2001, a situação dos
transportes nesta região do país não tem parado de piorar, apesar de todo o
dinheiro já gasto. A incompetência é total !
O uso dos transportes
públicos não pára de diminuir.
Em 1991, mais de 50 por cento das deslocações eram realizadas nos transportes públicos, mas dez anos depois essas deslocações baixaram para os 37 por cento, enquanto que o recurso ao
veiculo automóvel subiu dos 26 para os 45 por cento.
45 % anda só de carro particular
Em 2001 cerca de 45 por cento
dos residentes da Área Metropolitana de Lisboa usaram os seus carros nas
deslocações entre casa, trabalho e escola. O autocarro foi usado em 22 por cento das viagens, as deslocações a pé contaram com 16 por cento, o comboio com dez por cento e o eléctrico e o metropolitano com três por cento.
Onde se anda
mais de carro ou a pé
Os residentes dos concelhos de Loures e Odivelas são os que mais usam os
autocarros.
Nos concelhos da Amadora, Moita, Barreiro
predominam as deslocações a pé.
Lisboa: o
principal destino
A cidade de Lisboa continua a ser o destino da maioria dos residentes da
Grande Lisboa, com cerca de 340 mil pessoas a entrarem diariamente na capital, por motivos de trabalho ou de estudo.
Este valor é 1,3 vezes superior à população empregada ou estudante que reside no interior da
cidade.
Tempo passado
nos Transportes
A duração média das viagens não se alterou
significativamente, apesar dos enormes investimentos que foram feitos na
construção de novas auto-estradas, vias rápidas, duplicação de vias,
viadutos, túneis, etc. Em 1991 era de 35 minutos, e em 2001 baixou apenas para os 32 minutos.
Os concelhos periféricos de Azambuja e Mafra revelam os tempos médios de deslocação mais baixos, com 23 minutos.
Conclusões:
As políticas e os
investimentos feitos pelo governos e as autarquias em termos de acessibilidades
e em transportes públicos são um escandaloso desvario
Os
transportes públicos estão a ser abandonados a favor dos transportes
privados. Ora isto é, precisamente o contrário do que todos os governos e
autarcas prometeram que iria acontecer.
Em consequência destas
políticas desastradas, a cidade de Lisboa está hoje literalmente inundada de
automóveis, não se perspectivando qualquer melhoria no horizonte.
Muito pelo contrário,
Santana Lopes e Carmona Rodrigues parecem estar apostados em instalar o caos
completo na cidade, facilitando a entrada de mais carros. Para quem quem quiser
no futuro entrar na cidade de automóvel particular, a CML projecta construir
novos viadutos, túneis, vias-rápidas, auto-estradas, etc. Mostra-se disposta
também a destruir jardins públicos para construir parques subterrâneos de
estacionamento, como se anuncia para a Rua José Lins do Rego.
O estudo divulgado em finais de
Fevereiro de 2003, foi realizado pelo Instituto Nacional de Estatística, o Gabinete de Estudos e Planeamento, do Ministério das Obras Públicas, Transporte e Habitação e a Auditoria Ambiental
deste Ministério. Foram analisados um milhão e 381 mil activos empregados ou estudantes residiam na Área Metropolitana de
Lisboa, com base nas respostas dadas nos censos de 1991 e de 2001.
"O Automóvel na Cidade
Eu também sou dos que deixam o automóvel à porta
de casa, esperando a hora duma deslocação necessária, sem os
apertos do transporte colectivos. Sou um homem do século das
facilidades mecânicas, da vida em ritmo acelerado, das mil e uma
ocupações quase simultâneas em locais distantes e da permanente
falta de tempo nestes dias curtíssimos de agora, que só têm vinte e
quatro horas. Sou mais um dos centauros da nova espécie com cabeça e
tronco de homem, garupa e rodas de automóvel...
Mas a condição de automobilista, que me permite
exercer uma actividade profissional ao ritmo da época e algumas
deslocações agradáveis ainda não me impediu de observar, de
raciocinar e de acumular por essas vias sérias apreensões quanto ao
futuro da cidade em que vivo.
Receio muito que o modo como estão sendo
encarados os problema do trânsito e do estacionamento de automóveis
em Lisboa (ou como não estão sendo encarados, se preferirem) nos
reserve dolorosas surpresas. Entre outras, a de nos encontrarmos, num
futuro relativamente próximo, num cidade onde ainda se conseguirá
circular, mas onde as funções urbanas tradicionais - habitar,
repousar, produzir, conviver, recrear o corpo e espírito. etc. - tenham sido excessivamente sacrificadas à imprevidência, à
descoordenação e a uma visão estreita e parcial dos problemas do trânsito.
Entendamo-nos ainda:
Não enfileiro entre os que trazem na manga,
prontas para impressiona o ouvinte ou o leitor, soluções salvadoras.
Nem mesmo acredito que problemas desta natureza tenham soluções
salvadoras - cabais, - completas definitivas. Tão complexo é o
encadeado de relações de causa-efeito, que os êxitos do momento
podem abrir os caminhos a novos problemas e dificuldades.
Mas creio que se consegue, com inteligência,
estudo, previsão e coordenação de esforços, um certo domínio
sobre as circunstâncias que nos compelem, ou afligem; e se pode, até,
tirar delas algum partido. Creio ainda que um importante passo para
que os problemas se resolvam da melhor maneira consiste em equacioná-los
devidamente. Objectivo que exige -e aqui toco em algo de essencial - não
apenas conhecimentos técnicos especializados e actualizados, mas uma
análise dinâmica dos problemas em causa, sem os desintegrar das
circunstâncias em que se processam e evoluem bem como das suas
interligações com variados outros problemas. No caso de que nos
ocupamos, essa verdadezinha elementar reveste-se duma importância
excepcional. Porque o automóvel não criou na Cidade apenas problemas
de trânsito, mas um encadeado de situações e dificuldades que
requerem solução conjunta com eles. ", F. Keil do Amaral, in Lisboa,
uma Cidade em Transformação (1970)
F. Caetano Keil do Amaral, nasceu em Lisboa a 28 de
Abril de 1910 e aqui faleceu em 19 de Fevereiro de 1975. Formou-se em
arquitectura nas Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Trabalhou para a CML
onde foi responsável por diversos projectos para parques e jardins, como o
Monsanto, Parque Eduardo VII e a renovação do Jardim do Campo Grande (obras
dos anos 40 do século XX); No jardim do Campo Grande foi ainda o autor das
piscinas (1960).
O REINO DOS AUTOMÓVEIS !
Portugal está completamente
dominado pelos automóveis e em breve serão mais que os habitantes do país.
Portugal antes da crise económica de 2008 era dos países europeus com maior
número de automóveis por 1000 habitantes (548/1000 em 2008). O aumento foi
exponencial. As estatísticas são reveladoras - Automóveis ligeiros, veículos
comerciais
e pesados: 1982: 1.370.000 veículos;
1992: 2.707.000; 2002: 5.138.000; 2012: 5.807.100
veículos (fonte: ACAP). Os números disparam se tivermos também em conta os
motociclos e quadriciclos que povoam as nossas estradas.
Os
especialistas apresentam inúmeras razões para este brutal aumento de
viaturas:
1.
A melhoria do nível de vida da população;
2.O
"status" que a sua posse ainda representa para a maioria da população;
3.
As enormes facilidades que actualmente existem para a sua aquisição;
4.
A proliferação de viaturas em 2ª. mão oriundas de outros países da União
Europeia e que aqui são vendidas a preços irrisórios. Portugal tornou-se
neste aspecto um verdadeiro armazém de sucata. Nas mais recônditas aldeias
é hoje possível encontrar um "stand" ao ar livre, com dezenas
destas viaturas de todas as marcas.
5.
O baixo custo do combustível, sobretudo do diesel. Sob o pretexto das
viaturas se destinarem à agricultura ou uma actividade profissional
qualquer, milhares e milhares de indivíduos aproveitam-se desta facilidade
fiscal, e adquirem para uma empresa fantasma ou real um automóvel para uso
privado. A falta de fiscalização faz o resto. Quem paga duplamente a
factura é o conjunto dos contribuintes. Paga os subsídios atribuídos pelo
Estado indirectamente às empresas, e leva com a poluição (o diesel é
mais poluente que a gasolina);
6.O
custo zero que representa a circulação e estacionamento dos automóveis
nos centros urbanos, dado que não existem praticamente nenhumas restrições
à sua circulação ou estacionamento. Estaciona-se onde se quiser, inclusive
em jardins públicos. É a bandalhice total. Lisboa:
automóveis-10 Habitantes - 0
A política de
transportes em Lisboa tem um vencedor antecipadamente conhecido: os automóveis.
Todas as regras do jogo foram viciadas para que assim acontecesse. Os automóveis
irão ganhar aos habitantes de Lisboa porque:
1. Todos os veículos
motorizados, sejam eles automóveis, camiões, carrinhas, motas têm direito a
ocupar todos os espaços públicos (ruas, praças, passeios, jardins, passadeiras
para peões, etc); Apesar da legislação existente, em termos práticos, não há
qualquer restrição real a esta ocupação. Diariamente os automóveis expulsam os
habitantes de Lisboa dos passeios que aparentemente lhes estavam reservados.
2. Os automóveis
podem circular a qualquer velocidade pela cidade. Os estudos estatísticos são
conclusivos a este respeito. Muitas artérias da cidade como a Av. de Roma, Av.
Gago Coutinho, Campo Grande, 2ª. Circular, etc, estão transformados em
verdadeiras pistas para corridas de automóveis;
3. A poluição
atmosférica da cidade atinge já proporções tais que ameaçam a saúde dos
habitantes, fazendo disparar o número de doentes por problemas respiratórios e
cardiovasculares.
4. Em muitas ruas a
poluição sonora tornou simplesmente impossível aí residir. Não há vidros duplos
que resistam. A única alternativa que resta aos moradores é mudar de casa.
5. A construção
selvática de parques subterrâneos não poupa nada. Se não fosse a oposição dos
moradores muitos mais jardins de Lisboa já teriam desaparecido. Por vezes o
impensável acontece: a destruição de um bairro islâmico na Praça da Figueira
para dar lugar a um parque de estacionamento.
6.Multiplicam-se
desde há décadas os licenciamento camarários que não levam em conta os problemas
do estacionamento e circulação do tráfego, contribuindo desta forma para
aumentar a desordem do trânsito, e deteriorando a qualidade de vida dos
habitantes. Após a detecção destes casos, não se observa qualquer intenção de
apurar responsabilidades e afastar funcionários incompetentes ou corruptos. Tudo
é simplesmente silenciado. A impunidade é total.
7. Não existe uma
fiscalização minimamente eficaz para evitar que garagens de prédios de habitação
sejam transformadas em armazéns, escritórios, etc. Tudo se passa no "reino do
faz de conta".
8.Não existe uma
regulamentação digna desse nome para as cargas e descargas na cidade. Estas
podem ser feitas na prática, a qualquer hora e lugar.
9.A PSP e a Polícia
Municipal demitiram-se por completo de grande parte das suas funções em matéria
de transito. O estacionamento e por vezes a circulação foi confiado a marginais.
A PSP diz-se sem efectivos e "desmoralizada" (?). Os altos dirigentes camarários
encolhem os ombros e afirmam que nada podem fazer, porque se trata de um
"problema social". Este "trabalho" permite aos marginais obter dinheiro para
comprarem droga sem andarem a roubar. Equacionado o problema desta forma não há
solução possível.
10. Não existem
medidas restritivas para a entrada de automóveis na cidade, pelo contrário, tudo
é feito para estimular a sua entrada e livre circula. No pensamento do
projectistas camarários está o modelo de uma cidade feita à imagem e semelhança
de um enorme parque de estacionamento, rasgado por amplas artérias interiores
para a circulação de automóveis. A orientação neste espaço é feira por grandes
centros comerciais, escritórios e torres-dormitórios.
CF, 2004 |