Idade
Moderna
No século XVI, os campos de
Alvalade, continuavam a ser mencionados como especialmente
férteis e produtivos. As suas múltiplas quintas abasteciam Lisboa em viveres e vinho.
Ao contrário de outras zonas,
como o Lumiar, Carnide ou Benfica, não existia aqui um núcleo habitacional
definido a partir do qual se desenvolvia uma malha urbana. O que existia
eram quintas ligadas por azinhagas, e uma grande estrada que fazia a ligação de
Odivelas a Lisboa, tendo neste local um vasto terreiro público (Campo Grande),
junto do qual foi erguida primeiro uma ermida e depois uma igreja.
É preciso esperar pelo inicio do século XVIII para que à volta do terreiro
público - o Campo Grande - se comece lentamente a formar uma núcleo
habitacional. Para o crescimento desta aglomeração no Campo Grande ficou a
dever-se o terramoto de 1755 que levou muitos moradores de Lisboa a procurarem
nos arredores melhores ares, que uma cidade em reconstrução certamente não
oferecia. O crescimento demográfico própria cidade com a sua expansão para
norte também acelerou este processo. A designação de Campos de Alvalade começou
a cair em desuso a partir do século XVII sendo substituída pela de Campo Grande, dando conta da nova aglomeração.
Terreiro
O terreiro do
Campo Grande de Alvalade, tinha no século XVI um carácter oficial,
nomeadamente para a prática de exercícios militares. Era um amplo espaço
que a coroa e câmara municipal procurava conservar livre de outras ocupações.
Em 1520, uma carta régia interdita a ocupação destes terrenos. Em 1578 D.
Sebastião passa aqui revista às forças armadas antes de partirem
para Alcácer Quibir. Em finais do século XVII sofre obras de
embelezamento, o que voltará a acontecer ao longo da segunda metade do século
XVIII. O Campo Grande vai-se afirmando como um passeio público.
Freguesia
Alvalade fazia parte do termo de Lisboa. No princípio do século XVII provavelmente ainda fazia da freguesia do Lumiar, tendo-se separado neste século. No mais antigo documento oficial que enumera das freguesias do termo de Lisboa, datado de 1654, não consta a freguesia do Campo Grande. No entanto, na obra Livro das Grandezas de Lisboa de Frei Nicolau de Oliveira, datado de 1620, aponta o Campo Grande como uma das freguesias do Termo de Lisboa.
Paróquia
Ainda no século
XVI e junto à mencionada estrada surge uma ermida, a invocação dos Três
Santos Reis, num local já então denominado de Campo Grande, para o
distinguir de outro mais a sul, dito campo pequeno. Afastado da cidade e da
sua turbulência, prestava-se igualmente a reuniões de grande importância
social.
Na Ermida dos Santos Reis Magos, em 1580, reuniram-se os vereadores
da câmara de Lisboa, os membros da Casa dos 24 para procederem à eleição
dos 2 procuradores que se seriam enviados às Cortes de Setúbal.
A paróquia
da Ermida estava agregada à de São João Baptista do Lumiar. No entanto, à medida que aumentava a população no Campo crescia o desejo dos moradores terem a sua própria paróquia, o que se consolidou no século XVII.
O terramoto de 1755 destruiu, quase por
completo, a Igreja dos Três Santos Reis. Procedeu-se quase de imediato à
sua reconstrução, ou melhor dizendo, a construção de uma Igreja mais
adequada às necessidades da população que não parava de aumentar. Esta
obra contou não apenas com os donativos dos moradores locais, mas também
com o apoio de Rainha D. Maria I que autorizou, em 1778, a realização de
uma feira. As receitas da feira foram exclusivamente destinadas às obras de
reconstrução da igreja. Esta foi reconstruída e a feira continuou a
realizar-se, neste local e até princípios dos século XX.
Palácios e Quintas
As notícias
dos campos de Alvalade são muito dispersas, no entanto, a partir do século
XVI é possível distinguir dois outros tipos de referências históricas:
O primeiro é
sobre a qualidade das suas quintas capazes de servirem de paço a figuras
reais. D. João III, por exemplo, em Outubro de 1551, aqui se detém oito
dias, após a transladação de seu pai, D. Manuel I, para o mosteiro dos
Jerónimos em Belém.
O segundo é
sobre a qualidade dos seus ares. Os tratados de medicina dos séculos XVI e
XVII davam na altura uma enorme importância à qualidade do ar, não apenas
porque este permitia preservar a saúde, mas também curar doenças. Os ares
dos campos de Alvalade tinha faziam milagres à saúde. Esta terá sido uma
das razões que estimularam o aparecimento de muitas quintas de veraneio ao
longo dos séculos.
Dos séculos XVII e XVIII subsistem alguns palácios, palacetes e vestígios das suas grandes quintas. O Palácio das Galveias (Campo Pequeno), embora fora da freguesia de Alvalade é indissociável dos seus campos e imaginário. O Palácio Pimenta (Museu da Cidade desde 1979) foi construído entre 1744-1747, segundo a tradição a mando de D. João V, para aí residir a sua amada Madre Paula Oliveira do Convento de Odivelas. Possui uma estrutura em U, com azulejos datados de 1746 da autoria de Policarpo de Oliveira Bernardes. Vastos jardins à francesa. Palácio Valença/Vimioso, a norte do jardim do Campo Grande, foi construído pelos marqueses de Valença, pouco depois de 1731. Foi quartel general de D. Pedro IV (outubro de 1833), por lá terá andado a Severa, sede do concelho dos Olivais, e de muitas outras histórias. quinta etc.
Das muitas quintas que existiam nos campos de Alvalade subsistem poucos testemunhos materiais, de que registamos os seguintes: Quinta dos Lagares del` Rei, cujas primeiras noticias são do século XIII, o actual solar foi construido nos séculos XVII/XVIII. A Quinta dos Coruchéus finais do século XVIII ?) e a Quinta da Santa Rita dos Ameixiais ou da Malpique (século XVII?), onde em 1935 foi instalado o Colégio Moderno.
A qualidade dos ares de Alvalade
terá sido também a principal razão porque depois do terramoto de 1755, a Ordem Terceira de S. Francisco aqui construiu um hospital e uma
Igreja ligada ao Convento de Nª. Srª. das Portas do Céu, em Telheiras.
Estrada, Tascas e Oficinas
No
século XVII e XVIII existem
noticias dispersas sobre a instalação de várias "fábricas",
mas estamos em crer que estas não passavam de casos isolados numa paisagem
essencialmente rural. Ao longo da estrada a situação parece ser diferente.
A partir da segunda metade do século XVIII, o aumento do tráfego
suscitou o aparecimento de serviços de apoio aos viajantes. Ao longo do
trajecto surgem barracas e casas de comes e bebes, e até se explora a água
de um poço que muito deu que falar. O Campo Grande torna-se um lugar de
paragem obrigatório, para quem saí ou entra em Lisboa.
Carlos Fontes |