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EDITORIAL
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Vamos Para a
Televisão ! (Março / 2004)
Quando os moradores têm um problema na cidade de
Lisboa, a primeira coisa que lhes ocorre é logo contactarem a televisão para
denunciarem o caso. Dir-se-á que procuram protagonismo. Tendo em conta
o que se passou na Praceta da Jardim da Rua José Lins do Rêgo, julgo que a questão é
muitíssimo mais grave.
1.Estamos em crer que os
habitantes de Lisboa há muito que deixaram de confiar na Câmara Municipal de
Lisboa e nos seus serviços. Nutrem idêntica desconfiança pela generalidade
das instituições públicas. Aos seus olhos, os dirigentes camarários e uma
boa parte dos seus funcionários, não trabalham para servir a cidade, mas para se
servirem a si mesmos e alimentarem inúmeras clientelas a que estão ligados.
Analisando o que nos é dado conhecer, ouvindo o que os moradores afirmam
sobre modo como a cidade é gerida, em consciência, ninguém pode deixar de
formar outra ideia.
2. É por tudo isto que os
canais de televisão e os jornais são assim encarados pelos municípes como o
último recurso para obterem a desejada justiça. Acontece que os orgãos de
comunicação social actuam não segundo uma lógica de justiça, mas de
canibalização dos fenómenos sociais. Alimentam-se deles enquanto estes dão
lucro, isto é, são susceptíveis de venderem jornais ou geram
audiências.
3. Este
tratamento sistemático da coisa pública, acaba por
minar os fundamentos da própria democracia, ao levar o comum dos cidadãos a
alhear-se da coisa pública, porque sente que a mesma não lhe pertence.
4.Olhando para os actuais
dirigentes da CML, à esquerda e à direita, o panorama que encontramos parece
reforçar estas percepções muito generalizadas.
5. O actual presidente
(Santana Lopes), parece ter apenas três preocupações na vida: construir um casino em
Lisboa, promover a sua pessoa e acumular vencimentos. Tem tempo para
tudo menos para receber os municipes e tratar com seriedade e serenidade os
problemas da cidade.
Os vereadores são apontados pelo próprio
presidente de incompetentes. A oposição acusa-os também de acumularem
vencimentos na CML, servindo-se das empresas municipais. A sua resposta às acusações que são alvo é paradigmática do estado da cidade e do pais:
"Não somos os únicos. Todos fazem o mesmo na CML, quer estejam na
maioria, quer na oposição".
É fácil de perceber que estes autarcas estão longe de
servirem de exemplo a quem quer que seja. A única esperança para a cidade e
o país para sair deste pântano assenta no desenvolvimento e no reforço de
uma cultura cívica .
Carlos Fontes
Director
do Jornal da Praceta
Exemplo
da bagunça que reina na CML:
"Helena
Lopes da Costa. A propósito de uma questiúncula sobre o corpo de segurança
especial atribuído a Santana Lopes, esta vereadora do PSD na Câmara
Municipal de Lisboa veio atirar com as mordomias camarárias à cara da
oposição: o vereador Vasco Franco do PS acumula com o cargo na empresa
Sanest da Câmara Municipal da Amadora (Vasco Franco diz que é verdade, mas
que saíu em Outubro), o vereador António Abreu do PCP duplica os vencimentos
com 800 contos que recebe da Sociedade Monte da Lua da Câmara de Sintra
(Abreu corrige para 600 contos líquidos), etc. A oposição lembrou-lhe os
ordenados que ela acumula na Câmara e como administradora da EPUL.
Assim se fica saber o nível das mordomias e do debate político no fascinante
mundo do poder autárquico". J.A.L., Expresso, 28/2/2004.
Recorde-se
que já se tornou uma rotina a passagem de vereadores da esquerda ou da
direita da câmara directamente para empresas de construção, nomeadamente
quando expiram os seus mandatos.
Comentários .
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PJ Limpa (Sózinha
) CML (Novembro / 2003)
Faz em breve dois anos que ocorreu uma das mais
prometedoras campanhas eleitorais para a CML. Como escrevemos neste Jornal,
qualquer observador por menos atento que estivesse, face às afirmações dos
candidatos Pedro Santana Lopes e Paulo Portas não teria dúvidas em concluir
que Lisboa e em particular a CML estava dominada por dirigentes e
funcionários corruptos. Estes intrépidos guerreiros prometiam
uma luta sem tréguas, nem conciliações para limpar a CML. Combate mais
corajoso não poderiam ser escolhido. Portugal é percepcionado como um dos países
mais corruptos da União Europeia. Estamos perante uma vergonha nacional. Mais do que um roubo
aos cidadãos, a corrupção na administração pública mina a própria
confiança nas instituições públicas, violando os seus princípios sagrados
de igualdade, imparcialidade e equidade. Os lisboetas
perante tão desejado desígnio não tiveram dúvidas em dar-lhes a maioria
dos votos.
Passados estes anos, os resultados deste combate são
demasiado modestos. A única limpeza que ocorreu na CML ficou a dever-se à
iniciativa da Policia Judiciária que em Maio de 2003 irrompeu pelas
instalações da Câmara no Campo Grande e na Rua da Cruz Vermelha para ouvir
11 funcionários suspeitos de corrupção. Na sua maioria estariam
alegadamente envolvidos em trafulhices com as obras de realojamentos. Casos
menores, típicos de funcionários de níveis inferiores. Face a um universo
de cerca de 9 mil funcionários, o que espantou foi o número de
suspeitos ser tão insignificante. De dirigentes só se ouviu falar de
um alegado pedófilo que trabalha nas instalações do Campo Grande. Nada
portanto relacionado com corrupção, a não ser de menores.
O desinteresse parece ser a única explicação para
tão magros resultados. O que terá conduzido a esta
inesperada situação? Paulo Portas, eleito
vereador em Dezembro de 2001, abandonou pouco depois, como se sabe, a CML.
Não se viu todavia livre das questões da corrupção. No Tribunal do
Monsanto foi chamado a depor não como acusador, mas para esclarecer o
seu grau de envolvimento nos desfalques da Universidade Moderna. Saiu-se bem,
dizem. Santana Lopes aparentemente deixou cair a questão da
corrupção na autarquia. Remeteu-se sobre o assunto ao mais completo
silêncio. Alguns comentadores afirmam que a sua principal
preocupação desde meados de 2002 é não ser colado aos casos
que entretanto surgiram e que envolvem alguns dos seus amigos, como Isaltino
Morais. Como é sabido, este "autarca modelo", ao fim de alguns
mandatos amealhou o suficiente para ter nos bancos suíços uma choruda conta cuja origem nunca cabalmente esclareceu. A imprensa entretanto não pára revelar a enorme teia de interesses que instalou na Câmara Municipal de
Oeiras capaz de alimentar uma vasta comunidade de familiares, amigos, amigas,
etc.. Fontes próximas do autarca lisboeta aponta outra razão
de peso, para o ensurdecedor silêncio . Santana Lopes desde que foi eleito
presidente, o pouco tempo que tem disponível para
tratar dos assuntos da CML dedica-o a tentar parar o
desvario de alguns do seus vereadores, como Ana Sofia Bettencourt.
Como é do conhecimento público, Santana Lopes teve que exigir a
demissão desta vereadora pois a mesma estava a transformar a CML numa coutada privada,
com que alimentava uma pequena corte de apaniguados. Situação que se mostrou duplamente
incómoda:
- Dadas as proporções que assumiu o caso, se fechasse os
olhos, poderia ser acusado de trazer para a CML mais corruptos, em vez de os eliminar.
- Por outro, e mais importante que tudo, este desvario
estava a consumir enormes
recursos camarários, imprescindíveis para recordar aos lisboetas a existência
da sua pessoa e da sua candidatura a Belém. As campanhas eleitorais, como
se sabe estão cada vez mais caras.
Concluindo, o combate à corrupção na CML está pois
entregue quase que exclusivamente à PJ. Contudo, com a conhecida falta de meios
que possui, teme-se o pior.
Carlos Fontes
Director
do Jornal da Praceta
Nota:
Uma das formas de corrupção mais largamente difundidas e aceites nas
autarquias está no pagamento de almoços a funcionários camarários por
empreiteiros. Quando o seu número é elevado, o que já tem acontecido,
chegam a alugar-se camionetas para o seu transporte.
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O
Triunfo da Demagogia (Outubro / 2003)
O comum dos lisboetas vive hoje uma situação de profunda perplexidade.
Ele não sabe no que deve acreditar, se naquilo que os seus olhos vêm, se no que se afirma diariamente na televisão.
A sua qualidade de vida na cidade piora a olhos vistos, mas o actual presidente da CML à
força de tanto aparecer na televisão e nos jornais procura-o convencer do
contrário. Segundo este autarca nunca a cidade foi melhor gerida, nem nunca
se viveu melhor. Os lisboetas tem pois todos
os motivos e mais alguns para se sentirem no paraíso, respirarem felicidade.
A suprema felicidade será todavia atingida quando Lisboa tiver dois
estádios de futebol construídos de raiz e um Casino !
A demagogia deste tipo de discursos torna-se mais evidente quando
analisamos situações concretas ao nível dos bairros. Neste nível a
demagogia é facilmente confrontada com a evidência dos factos.
Um caso paradigmático é o do Parque de Estacionamento
Subterrâneo da Rua José Lins do Rego. O mais elementar bom senso
recomendaria a suspensão da sua construção e a escolha de uma das alternativas apontadas pelos moradores.
Os serviços da CML e reputados
especialistas contratados pela própria Câmara manifestaram-se contra a sua localização.
Apontaram graves problemas que poderão resultar da sua construção no local, nomeadamente
o aumento da precaridade das construções envolventes, o desvio dos lençóis friáticos
na zona, a sua elevada vulnerabilidade aos sismos, etc. O anterior
presidente da CML- João Soares - face a estes e outros estudos deu razão aos moradores
e suspendeu a sua construção. Santana Lopes, o actual presidente,
prometeu durante a campanha eleitoral acabar com a construção de parques
estacionamento subterrâneos em jardins públicos.
Como se tudo isto não bastasse, a comunicação social denunciou as
negociatas que envolviam a construção destes parques, tendo mesmo sido
levantado um inquérito criminal ao vereador que os promoveu. Os moradores
também nunca viram as suas dúvidas esclarecidas sobre as negociatas que
envolviam o referido parque.
Acontece
que um ano após se ter instalado na CML, Santana Lopes dá o dito por
não dito e faz aquilo que antes condenou.
Dir-se-á que o caso não
tem novidade nenhuma, a maioria dos autarcas procede de modo semelhante. Alguns
estão mesmo a contas com a polícia, um muito carismático e popular fugiu
inclusive para o Brasil para não ser preso. A verdade é que nenhum deles tem tanta cobertura
mediática, nem sequer se anda a pavonear ser um candidato
"natural" à presidência da república. A única dúvida que temos
neste ponto é sobre a República que Santana Lopes anda a pensar: a das Berlengas ou
a das bananas ?. Carlos Fontes
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Quem Ganha com o Descalabro das Autarquias?
(Julho / 2003)
Os municípes deste país vivem
hoje uma situação, paradoxal: Por um lado, sentem mais confiança nas
autarquias do que no Estado, dada a sua maior proximidade. Por outro,
temem-nas, dada a forma danosa como são frequentemente geridas,
reflectindo-se estes efeitos não apenas a nível local, mas também em todo o
país.
Quatro exemplos:
Os descalabros orçamentais nas
autarquias, tornaram-se tão habituais que deixaram de ser notícia. Nas últimas
eleições autárquicas (2002), o desnorte das contas municipais atingiu dimensões
colossais. Num único mês, durante a campanha eleitoral, para caçarem votos,
as câmaras contraíram dividas no valor de 0,3 do Produto Interno Bruto. Como
é sabido estas agravaram de forma insustentável o incumprimento do acordo
assumido por Portugal com a União Europeia em matéria de divida pública.
A proliferação das empresas
municipais, neste panorama já de si preocupante, acabou por tornar ainda mais
difícil o controlo das despesas municipais. Estas empresas vagueiem acima de
qualquer fiscalização do Estado, albergam todo o tipo de pessoas e cometem
as mais incríveis impunidades.
É sabido que as autarquias se
tornaram numa das principais fontes de financiamento dos clubes de futebol e
até de partidos políticos. O ano de 2002 e 2003 tem sido fértil em
revelações escabrosas. Alguns autarcas foram ao ponto de ignorarem as
carências mais básicas das populações, desviando para os clubes de
futebol, os recursos financeiros que deveriam ter aplicado na melhoria dos
equipamentos escolares e culturais, arruamentos, saneamento básico,
despoluição dos rios e ribeiras, áreas de lazer, etc. Tudo o que é
essencial foi esquecido. É por tudo isto que o país continua a apresentar
níveis de atraso gritantes e injustificáveis na União Europeia.
As nossas cidades, vilas e
aldeias, apesar dos enormes investimentos feitos no seu melhoramento,
apresentam frequentemente uma imagem deprimente quando comparadas com as suas
congéneres europeias. Por todo o lado crescem os
protestos do moradores contra a degradação do ambiente. Acumulam-se os
aberrações urbanísticas, as obras mal planeadas ou executadas muito acima
do seu valor inicial, etc.
É sabido que as autarquias,
padecem de todos os males da administração pública e mais alguns:
1. Baixa
produtividade;
2. Funcionários com baixas qualificações profissionais, e
desenquadrados funcionalmente;
3. Grande permeabilidade a todos os tipos de
corrupção;
4. Excessiva dependência de receitas provenientes da construção
civil;
5.Ausência de planeamento, fiscalização e avaliação;
6. Um modelo
de gestão pouco eficaz e eficiente;
7. Uma coordenação inexistente a nível
regional; etc,etc. A quem interessa este
descalabro das autarquias? Aos municipes não é certamente, ao país nem
pensar. Aos incompetentes e corruptos com toda a certeza.
Carlos
Fontes Director
do Jornal da Praceta
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