Jornal da Praceta


Informação sobre a freguesia de Alvalade

(Alvalade, Campo Grande e São João de Brito )

 

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Paredes Meias

Marta Almeidas Santos de forma muito animada apresenta o livro e as suas colaboradoras.

Foi um verdadeiro acontecimento a apresentação do livro - Paredes Meias - da autoria de Marta Almeida Santos que contou com a colaboração de Carolina Neto Henriques, Catarina Reis e Raquel Montez, assim como testemunhos de moradores. É um registo de memórias e imagens destes espaços, pensados para serem de usufruto da comunidade e que terminaram degradados, cercados e apropriados por alguns, e que se encontram em fase de reabilitação. 

A obra está estrurada seis partes de forma a permitir uma abordagem ao problema dos logradouros do Bairro das Caixas em várias perspectivas.  

António José Borges, num registo institucional destaca  a "clarificação" da propriedade destes espaços em 2014. Os terrenos sobrantes que eram do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social passaram para a Câmara Municipal de Lisboa, e por delegação de competências a Junta de Alvalade assumiu a incumbência de os requalificar. Acabaram-se as desculpas para não intervir e pôr cobro à  impunidade que reinava (e reina) nos logradouros.  

Marta Almeida Santos chama à atenção que, embora as intenções iniciais que constam no Plano de Alvalade tenham sido ignoradas pelas novas gerações de moradores, os logradouros continuam a serem espaços públicos com um enorme potencial. Nada está perdido.  

Seis testemunhos de moradores ( Luisa Feitinha, José Silva, Paulo Lopes Ribeiro, Tiago Lambim e filhos, Maria Joana Santos e Michela Paolicelli e Mohamed Masmouli) que nos permitem detectar diferentes  relações com os logradouros e no que eles podem significar para os moradores. 

Catarina Reis procura enquadrar a "história dos logradouros" na história de Lisboa e no Plano do Bairro de Alvalade, apontando para as suas enormes potencialidades. 

Carolina Neto Henriques, num registo próximo da investigadora anterior, sublinha a sua importância como espaços de convivialidade.

Luisa Feitinha, cujas memórias do logradouro constam no livro, aproveita a ocasião para expor as suas queixas a elementos do actual executivo da Junta de Freguesia

A "História" dos Logradouros das Caixas.

Da leitura desta obra, sobretudo tendo em conta os diferentes testemunhos destacam-se três fases distintas nos usos dos logradouros do Bairro das Caixas. 

Fase inicial:  1947 aos anos oitenta.

Os logradouros eram verdadeiros espaços de encontro e uso colectivo. As crianças brincavam e  jogam neles à bola. Os caminhos pedonais eram em "calçada portuguesa" e permitiam uma livre circulação. Nos espaços mais amplos, próximos da Escola Básica Santo António (antiga 33) que ligavam duas ruas,  existiam bancos que proporcionavam o descanço, a conversa era posta em dia com quem ali passava. O parque infantil fazia as delicias de muitas crianças, apesar do escorrega ser de pedra. Todas as casas eram arrendadas, dispondo cada edificio nas traseiras de 5 metros para uso privativo. Os moradores para além deste espaço começaram a criar pequenos jardins, hortas e pomares. O espaço mantinha-se limpo e cuidado. Não raro juntavam-se para o limpar e arranjar. As caixas de previdência que haviam financiado a sua construção mantinham algum controlo sobre os edificios e os espaços públicos envolventes.  A CML manteve-se indiferente à gestão deste espaço.

Anos Oitenta a  2014.

Ao longos de várias décadas os espaços que eram para usufruto colectivo começaram lentamente a ser apropriados. Alguns moradores "mais abastados" ou "influentes"  começam a construir nas traseiras nos 5 metros e para além deles, pequenas arrecadações, cuja volumetria nunca parou de aumentar para novas funções: garagem para viaturas, oficinas, armazéns de material de construção, quartos para alugar, etc. O abandono que a CML votou estes espaços acabou por incentivar a sua degradação e apropriação individual. Após 1974 o processo foi acelerado quando a Segurança Social começou a vender os apartamentos. Os logradouros foram sendo retalhados com muros, vedações e até arame farpado. Começou a guerra entre os moradores em torno da ocupação e a diputada dos terrenos públicos.

A partir dos anos oitenta do século XX instalou-se o caos, quando os próprios moradores abandonaram os logradouros. Os caminhos pedonais desapareceram ou foram cortados por muros e outras construções de forma a impedir a circulação. As pequenas hortas e jardins tiveram o mesmo caminho. Estes vastos espaços tornaram-se vazadouros de lixo, nomeadamente de obras realizadas no Bairro das Caixas ou fora dele.  Nos anos noventa os passaram a ser procurados como parques  de estacionamento por quem se deslocava a Lisboa. Uma devassa que aumentou o abandono e a insegurança local. 

Os logradouros em frente dos edificios seguiram o mesmo processo de abandono e começaram  a ser acimentados pelos próprios moradores. A Rua Afonso Lopes Vieira que era uma das mais belas de Lisboa foi das primeiras em Alvalade onde o fenómeno ocorreu.  O estacionamento em cima dos passeios obrigou aquem por ali passava a andar na estrada entre automóveis em circulação. O caos estava instalado.    

A terceira fase começa em 2014.

A mudança passou a ser reclamada por um número crescente de moradores, antigos e novos. O Jornal da Praceta desde Junho de 2001 que vinha desenvolvendo uma ampla campanha para uma intervenção nos logradouros em Alvalade, em particular no Bairro das Caixas.

Impunha-se uma limpeza geral nestes espaços, onde se acumulavam toneladas de lixo. A saúde pública estava em risco. Era urgente acabar com o estacionamento selvagem nos logradouros e passeios, permitindo uma circulação segura das pessoas. Os idosos e deficientes eram as grandes vítimas do caos instalado. Era preciso proceder à requalificação sistemática dos logradouros, segundo o modelo da "cidade-jardim", tendo em conta os contributos do arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles e diversos estudos técnicos, sempre em diálogo com os moradores. Era e é naturalmente um processo que se arratava há décadas, acabaria por provocar uma forte reacção de todos aqueles que se apropriaram impunemente destes espaços públicos. O processo avançou e bem. É com evidente satisfação que temos visto avançar a requalificação dos logradouros, muito embora reconheçamos que foram cometidos alguns erros e que se devia ter ido mais longe.

 

 

   
 

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