Estante Comunitária de Alvalade
A Biblioteca dos Coruchéus ao fim de nove anos de existência resolveu criar uma estante dedicada com obras de autores que moram na freguesia e com obras sobre a freguesia de Alvalade. Leonoreta Leitão foi quem deu a sugestão da estante, a inaugurou e também foi a primeira autora a ser homengeada ( 5 de Maio de 2022). Foram suas algumas iniciativas semelhantes em prol da cultura local, como o nome Parque José Gomes Ferreira e a criação da Biblioteca Manuel Chaves Caminha quando foi secretaria da Junta de Freguesia de S. João de Brito (1994-1997).
Leonoreta, manifestou-se perplexa com a própria homenagem. Porquê ela?. Recordou que em tempos fizera uma listagem de antigos e novos escritores moradores em Alvalade.Uma lista onde constavam nomes como Aquilino Ribeiro, José Gomes Ferreira, Cardoso Pires, José Saramago, Virgilio Ferreira, Alexandre Cabral, Lídia Jorge, Ana Maria Magalhães, Isabel Alçada, Isabel de Castro, Vanda Ramos, Rogério Fernandes, Lindley Cintra ... Na assistência não paravam de apontarem-se outros nomes.
Durante as sessão foram lidos vários poemas de Lonoreta Leitão da sua obra Amanhã é Domingo.
Natural de Leiria, filha do escritor Acácio Leitão (1894-1945) e de Mariana Leitão veio para Lisboa, em 1940, quando contava 12 anos de idade. A sua mãe, após a morte do marido, conseguiu uma "casa" rua Rua 24 (Rua Alberto Osório de Castro). Numa breve biografia de Leonoreta, Elisabete Santa-Barbara referiu a principal razão para a construção do Bairro de Alvalade: a demolição de muitas casas em Lisboa para a abertura de praças e eixos viários. Para o novo bairro vieram os desalojados do Martim Moniz, Alcântara, Bairro Alto e outras zonas de Lisboa onde estavam a ocorrer demolições. Vieram pessoas como Leonoreta e a mãe (funcionária pública), mas até nomes de rua que haviam desaparecido: a Rua Silva e Albuquerque (antiga Rua dos Canos) foi transplantada da Mouraria para Alvalade.
Leonoreta, antiga professora na Escola António Arroio, recordou em particular dois outros escritores que marcaram a sua vida: o poeta Afonso Antonio Vieira, seu padrinho, com quem passava temporadas em São Pedro de Moel, e Urbano Tavares Rodrigues, com quem desfrutuou de uma intima relação durante décadas. Apoiou-o nas eleições durante a Ditadura em Beja, no envio de correspondência para o estrangeiro quando estava preso, etc. Apesar da sua ligação ao PCP (aderiu em 1994), não deixou de apoiar a eleição à presidência da República de Ramalho Eanes ou de Maria de Lurdes Pintassilgo. A boina que usa, e que muitos confundem com a de Che Guevara, foi-lhe dada pela sua mãe para não se constipar... Uma associação fácil de fazer tendo em conta o seu percurso político contra a Ditadura. Com uma forte preocupação social, a homenageada não deixou de fazer uma homenagem, a Silvina, uma assistente social, funcionária no FAOJ. Ao fim de semana vinha prestar um serviço voluntário na Igreja de S. João de Brito, no apoio a milhares de pessoas que viviam em bairros de barracas em Alvalade. A modernidade do bairro convivia com as mais degradantes condições de vida que se possam imaginar.
Nas traseiras da Igreja de S. João de Brito existia um dos vários bairros de barracas de Alvalade. Quinta do Narigão. Foto: Fernando Cardeira. 1968
Foram imagens como estas em Alvalade que levaram a agir em prol da comunidade a assistente social evocada por Leonoreta Leitão. Foto: Fernando Cardeira. 1968.
À pequena "Estante Comunitária de Alvalade" deixou um exemplar do seu primeiro livro: "Amanhã é Domingo" (poesia), editado em 1965 e que esgotou em pouco tempo. A Sociedade Portuguesa de Escritores atribuiu-lhe na altura o prémio revelação, mas nunca o recebeu. A PIDE (polícia política da Ditadura) assaltou e destruiu as instalações desta sociedade após a mesma ter atribuido um prémio a Luandino Vieira pelo romance "Luuuanda".
A sala foi pequena para a numerosa assistência (pormenor).
Na véspera desta inauguração visitamos a Biblioteca dos Coruchéus. Quisemos saber qua a lista dos escritores que já tinham lugar na estante. Helder Ferreira da equipa da Biblioteca e Ana Santos da ADCAM e do projecto Vidas e Memóriasque, com alguma dificuldade consiguiram indicarem-nos os nomes de Leonoreta Leitão, José Castrelas (poesia), Paulo Silva e Vanda Ramos (falecida). Obras sobre a freguesia de Alvalade, apenas duas: uma biografia de S. João de Brito e uma outra sobre a antiga Freguesia de Alvalade, copiada do Jornal da Praceta ! Era pouco, dirão alguns, mas estamos ainda no inicio. As obras expostas são para consulta e empréstimo.
Leonoreta Leitão e Gaspar Santos, escritor e colaborador do Jornal da Praceta. Fotos: 5/05/2022
História Local
Há anos que reivindicamos por uma biblioteca local onde existisse uma estante com livros sobre a freguesia. Como em tempos escrevemos, ninguém estava interessado no assunto. Na ausência de obras sobre a história local, cada um podia inventar o que quisesse. A última vez que visitamos a Biblioteca Manuel Chaves Caminha da Junta de Feguesia de Alvalade, a 4 de Novembro de 2021, constatamos que existia uma já uma parteleira para livros sobre a "História Local". Nem um estava lá para mostra !.
Os livros disponíveis sobre a História Local de Alvalade ! Foto: 4/11/2021
Projecto Vidas e Memórias de Alvalade
A Biblioteca do Coruchéus entre 19/09/2019 e 19/12/2019 organizou um encontro de moradores da freguesia de Alvalade tendo como objectivo recuperar, preservar e divulgar histórias de vida associadas à freguesia. A partir daqui, muito graças ao entusiasmo de e trabalho de Elisabete Santa-Bárbara estava uma dinâmica de grupo que se manteve em actividade durante a pandemia (2020 e 2021).
Iniciativas de "Vidas e Memórias de Alvalade"
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Alvalade homenageia António Cartaxo |