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Lisboa em Revolução. 1383-1974

26 de Maio 2024 - 05 de Janeiro de 2025. Museu da Cidade (Campo Grande).

Exposição sobre seis períodos de grandes mudanças no país que tiveram em Lisboa como epicentro. No inicio da exposição um planta da cidade assinala os locais os principais acontecimentos se passaram.

1383. A crise dinástica que sucedeu à morte de D. Fernando que havia casado a sua única filha com o rei de Castela, motivou a invasão de Portugal por duas vezes para reclamar o trono. Na primeira invasão, na primavera e verão de 1384, os castelhanos cercaram cidade pelo rio, com uma frota de 70 embarcações e uma força em terra de cerca de 12.000 efectivos, onde se contavam portugueses e mercenários franceses. Foram obrigados a retirar devido à peste que então deflagrou. Na segunda invasão, em 1385, cercaram a cidade pelo rio e avançaram por terra, mas foram derrotados em Aljubarrota. O textos da exposição destaca a heróica defesa da independência e da liberdade de Portugal por parte da população. É o núcleo mais bem estruturado. A resistência da população de Lisboa, e as figuras do Mestre de Avis (D. João I ) e de Nuno Alvares Pereira são postas em relevo nesta revolução. Dois espaços estão ligados ao inicio da revolta popular, contra aqueles que congeminavam o fim da independência do reino: o Paço dos Infantes (Limoeiro), onde foi assassinado o Conde de Andeiro, fidalgo glego e amante da rainha Leonor Teles. A Sé. onde foi também assassinado o bispo de Lisboa (catalão).

"A peste obrigando os castelhanos a levantar o cerco de Lisboa", pintura de Constantino Fernandes (1878-1920)

1640. O golpe de 1 de Dezembro 1640 que conduziu à restauração da independência de Portugal está bem documentado. Evoca-se a crise da sucessão na sequência da morte de D. Sebastião, em 1578, na desastrosa batalha de Alcácer-Quibir, o apoio de parte da nobreza e da Igreja a Filipe II de Espanha. A decadência em que o país entrou, e as revoltas populares que se seguiram. Assinala-se as hesitações do Duque de Bragança (futuro rei). Recorda-se a morte de Miguel de Vasconcelos, escrivão da fazenda fiel servidor de Espanha que se havia refugiado num armário no Paço Real. Nenhuma referência é todavia feita à guerra durante 28 anos para sustentar a independência, e que contou com o apoio de holandeses, suecos e ingleses.

1820. Assinala-se uma mudança de mentalidade no século XVIII que levou à afirmação dos direitos do homem e do cidadão, proclamados durante a Revolução Francesa. Em toda a Europa, como em Portugal, luta-se pela Liberdade e Democracia contra o absolutismo. Em Agosto de 1820 ocorre no Porto um levantamento militar que reclama uma mudança política no país. A 15 de Setembro a revolta eclode em Lisboa exigindo uma constituição e eleições. O princípio da soberania popular afirma-se pela primeira vez em Portugal. A constituição de 1822, malgrado as suas limitações, constituiu um marco neste processo. A reacção das forças absolutistas não se fez esperar, assim como uma guerra civil (1828-1834). A figura de D. Miguel, apoiado pela Igreja e os defensores do regime absolutista, é caricaturada numa imagem que vista de um outro angulo é uma cabeça de burro.

Lenço de propaganda liberal

1836. O princípio da soberania popular proclamado em 1820 estava longe de ser aceite pela corte, a revolta de Setembro de 1836 foi mais uma tentativa de a consagrar. O facto relevante foi a intervenção da população de Lisboa no apoio à revolta de militares que defendiam este princípio. No confronto, a realeza acabou por ganhar, mas a tensão manteve-se acabando com o fim do próprio regime monarquico.

1910. A ideia de uma república, assente nos três princípios da revolução francesa - Liberdade, Igualdade e Fraternidade - galvanizou a população de Lisboa para derrubar a monarquia no dia 5 de Outubro de 1910. Enquanto Machado dos Santos se manteve acantonado na Rotunda (Marquês do Pombal), a população mobilizou-se para atacar as forças leais à monarquia. Neste revolução morreram mais civis do que militares.

Busto da república, em gesso patinado, com o barrete frígio da autoria do escultor Simões de Almeida, sobrinho (1880-1950). Ilda Puga serviu de modelo.

No espaço dedicado à Revolução do 5 de Outubro de 1910 foi colocado em destaque um modelo do cruzador Adamastor, construído em Itália (Livorno), com verbas resultantes de uma subscrição nacional organizada na sequência do ultimato britânico (1890). O ultimato, recorde-se, provocou a revolta contra o regime monárquico favorecendo a difusão das ideias republicanas em Portugal. No golpe de 1910 hasteou a bandeira da carbonária que indicava a sua adesão à revolução, tendo bombardeado o Palácio das Necessidades.

1926-1974. A longa Ditatura, militar (1926-1933) e do Estado Novo (1933-1974) é assinalada com algumas imagens e referências textuais, muito incompletas. Diz-se, por exemplo, que entre 1945 e 1974 foram presas por motivos políticos cerca de 15 mil pessoas, mas ignora-se que no período anterior o seu número foi muito superior, assim como os assassinatos. Desta forma, a resistência dos anarquistas e republicanos é omitida.

1974. A figura de Salgueiro Maia impõe-se como o simbolo da revolução. Um mapa de Portugal com o planeamento das operações militares do golpe é um das peças imperdíveis da exposição. Algumas evocam episódios ligados ao derrube da ditadura, mas sem legendas, como é o caso do semáforo do Campo Grande/Alameda da Universidade. O visitante que não conheça a história que as envolve não percebe a razão da sua presença.

As frases provocatórias dos "anarcas" nas paredes de ruas e retretes, entre outros lugares, depois do 25 de Abril de 1974, desmontavam a propaganda dominante, dessacralizavam os diversos poderes instituidos, estimulando um pensamento crítico sobre a situação política.