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Às 5 horas da madrugada do dia dia 25 de Abril de 1974 ocorreu um episódio hilariante do golpe mlitar que derrubou a ditadura. A coluna militar que saiu da Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, por volta das 3 horas, contituída por 25 veiculos de guerra, incluindo de transporte de pessoal com cerca de 240 homens. À frente da coluna, num jipe seguia o célebre capitão Salgueiro Maia. Ao sinal vermelho dos semáforos no Campo Grande, mesmo em frente da Cidade Universitária, o motorista do jipe parou respeitando as regras de transito, obrgando toda a coluna a fazer o mesmo. Um motorista da carris, cuja viatura esperava igualmente o sinal verde, olhou espantado para semelhante aparado mlitar àquela hora do manhã.
Ao longo dos anos o episódio foi várias vezes comentado, incluido pelo próprio Salgueiro Maia. O jornal Público (21/04/2024), no ano que se comemora os 50 anos do golpe militar, revelou finalmente a identidade do motorista do jipe militar: Francisco João Ferreira, morador no lugar de Sobreiro Curvo, em A-dos-Cunhados (Torres Vedras). Acordado na caserna durante a noite, foi-lhe dito se queria vir a Lisboa como chofere, ofereceu-se, desconhecendo todavia o objectivo da missão. Pediram-lhe para se armar e levar caixas de munições e assim o fez. O tempo era de guerra nas colónias, sucessidiam-se os exercício mlitares, e aparentemente nada de anormal se passava. Nas traseiras do jipe seguia o furriel miliciano João Ilharco, responsável pelas transmissões. Durante o trajecto das conversas que ouvia com Salgueiro Maia, nada percebida do que estava a acontecer. Apenas sabia o local de destino: o Terreiro do Paço.
Nem paragem nos semáforos no Campo Grande, lhe permitaram vislumbrar no que estava metido, nem mesmo o raspanete pela paragem que fez:” Pergunta-lhe Maia: “O que é que estás a fazer?” Resposta: “Parar.” Ordena o capitão: “É sempre a andar!”.
Salgueiro Maia, avisada que a PSP avisara o comando que uma coluna militar estava em marcha, não quer perder mais tempos com semáforos e manda tocar as sirenes das autometralhadoras EBR [Panhard] até chegar ao Terreiro do Paço. É aqui que Francisco João Ferreira toma verdadeiramente consciência no que está metido, ao aceitar vir para Lisboa. A fragata Gago Coutinho, leal ao regime, ameaçou abrir fogo sobre os revoltosos. Sentiu medo, entrara sem saber numa viagem que lhe poderia custar a vida. Em defesa da mesma, afastou-se por momentos do jipe que tinha ordens para em circunstância alguma abandonar.
Com Salgueiro Maia de novo a bordo, o mecâmico e inesperado chofer de uma revolução, dirigiu-se para o Largo do Carmo para obter a rendição do ditador Marcelo Caetano.
Não tardou a sentir que algo havia mudado naquele dia: uma multidão vinda de todos na Baixa de Lisboa tomou as ruas, aplaudia os militares e acompanhava alegremente as viaturas militares, contrariando as ordens que eram das pela rádio pelos militares revoltosos. Entrara sem o saber numa festa, com a barriga a dar horas. Há muito tempo que não comia nada. No Largo do Carmo, apinhado de pessoas, esperou a rendição do ditador Marcelo Caetano. Sentiu-se intimamente um herói, aplaudido pela população que lhe deu comida, cigarros e até uma "menina que saiu de um prédio" lhe deu um terço e desejou "Tudo corra bem".
Foi no Largo do Carmo que recebeu uma nova missão com o seu jipe, a de conduzir os mensageiros do regime deposto (Pedro Feytor Pinto e Nuno Távora) e um jornalista do DN a casa de António de Spínola, para acordar os termos da rendição da ditadura. Se na primeira serviu aqueles que defendiam um regime democrático, na segunda estava a servir aquele (Spinola) que procurava dar continuidade ao "Império Colonial", controlar os militares revoltosos (MFA) e pretendia acabar com os movimentos populares que emergiram no dia 25 de Abril. Spinola após sucessivas derrotas irá comandar uma organização terrorista responsável por dezenas de mortos em Portugal: o MDLP.
O episódio do semáforo do Campo Grande/Cidade Universitária revela afinal a história de um homem, como muitos outros, que sem terem consciência das implicações das suas acções que estiveram envolvidos em momentos decisivos na história recente do país. Este actual agricultor em Torres Vedras nunca saiu do anónimato, até que um jornal o descobriu.
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