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De Alvalade à Capela do Rato

Grupo de participantes da acção na Capela do Rato. Foto: Vida Mundial. Fev.1998

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  Lisboa. 31 de Dezembro de 1972

A polícia deteve 91 pessoas que haviam escolhido o altar de uma Igreja de Lisboa ( Capela do Rato) para meditar sobre sentido a guerra de África. Um assunto que a ditadura proibia que fosse discutido. 24 horas depois deste acontecimento, mais de uma dezena e meia acabam na Prisão de Caxias.

O facto teve enorme repercussão, dado que era a primeira vez tantos católicos enfrentava publicamente a ditadura e condenavam a guerra colonial.

Desde 1969 que este grupo, em reuniões clandestinas, se questionava sobre a guerra colonial e a ditadura. Entre os principais mentores dos encontros destacava-se o arquitecto Nuno Teotónio Pereira e a sua mulher Maria Natália.

Não é de estranhar que a acção da Capela do Rato tenha sido meticulosamente combinada na sua residência no Bairro de Alvalade (Bairro de S. Miguel).   

No dia 23 de Janeiro de 1973, Miller Guerra, deputado na chamada ala liberal, coloca a questão das prisões na Capela do Rato na Assembleia Nacional. Os deputados ligados ao regime impedem que a discussão prossiga e Miller Guerra é obrigado a pedir a demissão 15 dias depois.

Contexto

Como veremos, muitos outros acontecimentos ligam a vigilia da Capela do Rato a Alvalde. Recordemos, que a paróquia Paroquia e no Liceu padre António Vieira (PAV) havia padres, leigos, professores e alunos envolvidos nesta acção. Entre os professores do PAV alguns tem sido justamente mencionados pela sua ação em prol da liberdade: Alberto Neto (1931-1987), padre da capela do Rato entre 1961 e Outubro de 1972, onde ocorreu a célebre Vigilia da capela do Rato (30 e 31 Dezembro de 1972) contra a Guerra Colonial. Era metodólogo da disciplina d religião e moral  em vários colégios e escolas, como o PAV.  O seu primeiro envolvimento  político ocorreu aquando das cheias de 1967 em que morreram mais de quinhentas pessoas, o númro exacto o governo não permitiu que fosse apurado e divulgado. incentivou os jovens a socorrerem as populações, a recolherem bens e donativos para as mesmas. A polícia encarou esta acção como subversiva, pois colocava os jovens face a face com a extrema miséria em que vivia grande parte da população.  

No dia 30 de Dezembro, um grupo de católicos, depois da missas das 19 horas, decide fazer uma vigilia na capela, em consonância com a indicação do papa Paulo VI, para a celebrar o Dia Mundial de Oração pela Paz. Queriam fazer uma greve da fome contra a guerra colonial e a violência da ditadura.  O padre Alberto Neto  estava retido em casa com uma peneumonia. Em vários pontos de Lisboa rebentam petardos e espalhados panfletos informando a população sobre os acontecimentos na Capela do Rato.

No dia seguinte, já estavam presentes na capela cerca de 300 pessoas. Pelas 20h00 começaram as detenções e a capela foi fechada. Entre as 60 pessoas detidos, estavam dois padres, e pelo menos um estudante do PAV: Bernardo de Vasconcelos.       

Alberto Neto na sequência deste acontecimento foi transferido para a Paróquia de São João de Brito. A 6 de Julho de 1987, perto de Setúbal, foi descoberto o seu cadáver. Fora assassinado com um tiro de pistola na nuca. Quem veio para Alvalade foi Maximiano Barbosa de Sousa, mais conhecido por "Padre Max". Em França absorveu a influência do Maio de 1968. Fez-se padre para poder ajudar os mais necessitados. Exerceu docência no Liceu Padre António Vieira. A seguir a 25 de Abril prosseguiu a sua militância política por uma transformação radical da sociedade. Foi barbaramente assassinado em Abril de 1976