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Museu da Cidade

Após vários anos fechado, em Setembro de 2024 foi finalmente concluida a remodelação da  exposição permanente do museu da cidade de Lisboa. A história da cidade tem agora uma sequência cronológica coerente e as peças expostas, com  raras excepções, correspondem aos diferentes períodos. Neste domínio o salto qualitativo foi enorme face ao museu-depósito anterior. Esta sensação desapareceu, mas tornou-se mais evidente que Lisboa carece de um verdadeiro museu sobre a sua história. O espaço do Palácio Pimenta não o permite. Os textos explicativos em cada sala são ainda marcados uma visão tradicionalista e limitada da cidade da história de Lisboa e do próprio país.

No andar agora remodelado, o primeiro, a história começa numa sala dedicada ao período de domínio espanhol (1580-1640) e a Restauração da Independência. O texto da sala refere que durante o domínio filipino, em termos urbanisticos, a cidade pouco mudou em relação ao período dos descobrimentos (exposição no piso 0). A grande obra filipina foi a ampliação do Paço da Ribeira, conferindo-lhe dimensão mais imponente. Do periodo entre 1640 e o inicio do reinado de D. João V (c.1706 a 1750), o desenvolvimehtos da cidade foi afectado pela longa guerra que se seguiu contra os espanhóis (1640-1668), holandeses (até 1663) entre outras. A grande obra de D. João IV foi a instituição de uma Aula de Fortificação e Arquitectura Militar. Um texto que revela um conhecimento histórico confrangedo. As peças expostas realçam sobretudo a ligação de Lisboa ao Oriente.

Modelo do grupo escultórico para o túmulo do comendador Manuel Pereira Sampaio (c.1753). Filippo della Valle (1698-1768)

A sala dedicada o reindo de D. João V, o texto de sala refere que o desenvolvimehto da cidade fez-se à beira-rio, e estendendo-se todavia também para norte, como os Prazeres, Santa Isabel, Rato, Santa Marta, Campo de Sant`Ana, Graça e Senhora do Monte. Foram então concretizados importantes projectos arquitetónicos, como a Igreja da patriarcal, a Igreja do Menino de Deus, o Palácio das Necesidades, abertura de novos cais e sobretudo a construção do Aqueduto das Águas Livres.

Na sala dediacada ao terramoto de 1755, para além das gravuras da época, destaca-se uma curta citação de Voltaire, extraida do seu célebre poema. Refere-se que a construção do Teatro da Ópera do Tejo foi concluido poucos meses do terramoto e por ele destruido. A referencia fundamental do texto introdutório da sala regista o decrescimo da população na cidade que passou de 250 mil habitantes, para 165 mil, devido ao elevado número de vitimas, mas também aos que dela fugirem.

A sala dedicada à reconstrução de Lisboa (1755-1834) centra-se na figura do Marques de Pombal, e no facto do mesmo ter entregue os planos da reconstrução a engenheiros militares e não a arquitectos. Um solução que privilegiou na altura a rapidez, a racionalização dos métdos e recursos, em detrimento da diversidade de propostas. A saa única desculpa é o espaço exiguo. Exiguo é também o espaço e as referências dedicadas à escravatura.

Num canto da sala, escuro, surge o espaço dedicado à inquisição, a sua instituição em Portugal (1536), a perseguição aos judeus e africanos escravizados ou livres. Terão sido instruídos mais de 45 mil processos e mortas de mais de 2 mil pessoas. Foi extinta em 1821. Não é esquecida a Ordem dos Dominicanos, na figura de S. Domngos (1170-1220), como os executores das perseguições, prisões e mortes.

A sala dedicada á reconstrução pós-pombal é outro amontado desconexo de peças, com os quais se assinala a a partida da familia real para o Brasil e as invasões francesas (1807-1814), assim como o longo periodo de turbulência que se seguiu.

Na visão da cidade ao longo do século XIX até ao fim da Primeira República (1910-1926), repete-se o mesmo amontoado de peças sem coerência. Salvam-se todavia as plantas expostas que dão uma ideia da expansão territorial de Lisboa, sobretudo para norte.

Feira das Bestas no campo Grande (1848), Hoffman

A Lisboa do Estado Novo (1933-1974) é igualmente desconexa. Assinala-se, e bem, os aparelhos repressivos do regime, assim como algumas obras e eventos com as quais se pretendeu engrandecer a capital de um vasto "Império colonial", como as festas populares, exposição do mundo português (1940), o Estadio Nacional (1938-1944), o parque florestal do Monsanto, a autoestrada até Cascais, o Bairro do Restelo,o Bairro de Alvalade, os miradouros, a ponte sobre o Tejo, entre outras. Refere-se igualmente, uma cidade nos anos sessenta povoada de bairros de barracas, casas em ruina, habitada por cerca de 800 mil pessoas.

A Lisboa contemporânea (1974-1998), evoca o 25 de Abril de 1974 e termina com a Expo98 de um forma sem nexo.

Após percorrer a exposição permanente, agora completa, o visitante não pode deixar de se interrogar sobre que cidade é esta não consegue criar um museu à altura da sua longa e rica história.

Visite a Exposição, mas não deixe de protestar contra a forma como os funcionários do Museu da Cidade transformaram o largo em frente do Palácio Pimenta num parque privativo de automóveis. Mais