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Regresso ao Passado?
Foto:18/05/2024
As laterais ajardinadas da Alameda da Universidade, no passado dia 18/05/2024, voltaram a virar um improvisado parque de estacionamento. Durante anos o espaço esteve ao abandono até que em 2013 foi requalificado. Sucederam-se as tantativas para a sua ocupação como parque de estacionamento por parte dos chamados "arrumadores". Desde Abril de 2018 que a questão parecia arrumada, mas com a actual CML/Junta de Freguesia estamos de regresso ao passado.
Até quando ?
Face à crescente degradação da zona norte da Alameda
da Universidade de Lisboa a Junta de Freguesia de Alvalade e a CML resolveram, em Abril de 2018,
colocar novos obstáculos de forma impedir o estacionamento selvagem na zona. A
verdade é que os clientes do Horto do Campo Grande e os arrumadores locais em
dias de futebol resolveram rapidamente removerem os blocos de cimento, perante a
total indiferença da divisão de transito da PSP ou a Policia Municipal. O caos
instalou-se na Alameda da Universidade. A CML colocou novos blocos de pedra para tentar conter a destruição. O Horto também aumentou (finalmente) a área de estacionamento. A situação melhorou, mas os resultados são incertos dado o histórico local.
2017: Abandono Consumado
As carrinhas do Horto do Campo Grande passaram também a
estacionar sobre a pista da ciclovia e o que resta da zona ajardinada. De nada
serve uma placa colocada pela CML/JF de Alvalade alertando os automobilistas que
é proibido estacionar no local. Foto: Janeiro de 2017
2016: A Alameda da Universidade, de novo
ao abandono?
Os blocos de cimento foram arrancados para facilitar o estacionamento ilegal nomeadamente por parte dos clientes dio Horto Campo Grande, arrumadores em dias de futebol e dos pais das crianças que frequentam as escolas da Rua João Soares.
Passeios, ciclovias, revelados tudo é inundado por
automóveis perante a total indiferença da divisão de transito da PSP ou da
Policia Municipal de Lisboa inúmeras vezes alertada para a situação. Foto:
28/11/2016
A entrada do Horto pela Alameda da Universidade foi
transformada num parque de estacionamento.
Os clientes do Horto estacionam as viaturas na
relva, ciclovia, passeio. Arvores, postes de iluminação, pilaretes, tudo tem
sido derrubado. Alguns dos candeeiros já estão às escuras...
Dia 6 de Junho de 2016, 17h45. O Eng. Joaquim
Silveira, diretor geral do Horto do Grande manifestou ao Jornal da Praceta a sua
indignação pela a destruição que está sofrer toda a zona junto ao horto. A causa
imediata é o estacionamento ilegal. Os infractores, como testemunhou, são na sua
maioria clientes do próprio Horto, mas também todos aqueles que aqui estacionam
em dias de futebol. A responsabilidade pela continuidade desta situação deve ser
atribuída à ineficácia da atuação da PSP, Polícia Municipal, Câmara Municipal de
Lisboa, Junta de Freguesia de Alvalade, mas também ao abandono do local pela
Universidade de Lisboa....
Dia 15 de Janeiro de 2016. O SCP jogava em Alvalade
com o Tondela. A PSP, em colaboração com a EMEL montou com um apenas guarda uma
ação de vigilância ao estacionamento selvagem no jardim do Campo Grande, mesmo
em frente do Museu da Cidade (Palácio Pimenta). No jogo anterior, o parque da
EMEL tinha ficado praticamente vazio, mas o relvado que o envolve e a ciclovia
que o atravessa fora completamente danificado pelo estacionamento selvagem.
Acontece que nenhuma medida tinha sido montada para
impedir o estacionamento no relvado e na ciclovia da Alameda da Universidade.
A destruição que ocorre nesta zona deixou de preocupar a PSP, Policia Municipal
de Lisboa, CML e a própria reitoria da Universidade de Lisboa. Em breve nada
restará das obras realizadas em 2011-213.
Um grupo de "arrumadores", depois de derrubar os
pilaretes e afastar pedras do local discute como vão dispor os automóveis na
relva, ciclovia e passeio. Foto: 15/01/2016
Duas horas antes do jogo o espaço começa a ser
preenchido com automóveis. As pessoas que ainda se aventuram pelos passeios,
encontram pela frente viaturas em circulação. Foto: 15/01/2016
A confusão de automóveis não tarda a instalar-se. Os
"arrumadores" ocupam com viaturas todo o espaço disponível, não importa o seja
destruído. Foto: 15/01/2016
2013: Recomeça a Destruição
Jogo em Alvalade = Destruição
Anunciada no Campo Grande
Depois de quase três anos de obras (2011-2013)
e vários
milhões gastos na recuperação do Campus da UL, e em particular da Alameda da Universidade, recomeçou
logo em 2013 a sua
destruição, perante a indiferença da PSP, Policia Municipal de Lisboa, CML e da
própria reitoria da UL.
Os jogos de futebol e os concertos no Estádio do Sporting de
Portugal provocaram sempre, desde os anos oitenta do século XX, verdadeiras
ondas de vandalismo em toda a zona do Campo Grande e Lumiar. Estações do Metro e
outras paragens de transportes públicos são frequentemente alvo de atos de
destruição. O estacionamento selvagem em jardins - perante a
passividade da PSP e da Policia Municipal de Lisboa -, é os dos atos que mais
contribui para o vandalização dos espaços públicos.
A PSP e a Policia Municipal de Lisboa é alertada, mas mostram-se
indiferentes a esta destruição dos espaços públicos.
Estaciona-se na relva, na ciclovia, no
passeios, onde calha (2013)
Em dia de futebol no Estádio do Sporting
é esta a imagem da zona norte da Alameda da Universidade. No local
não se vê um único agente da policia. Dentro em breve nada restará
das obras de requalificação que aqui foram realizadas. (Foto: 2013)
No dia 31/8/2013, por exemplo, nada
escapou no jardim, sistema de rega, passeio, bancos e ciclovia que foi criado na
zona norte da Alameda da Universidade de Lisboa, junto ao Horto do Campo
Grande. A Polícia Municipal de Lisboa, segundo vários leitores, foi
informada do que estava a acontecer, mas como é hábito nada fez.
Um grupo de moradores do Campo Grande, voltou a
manifestar a sua indignação no dia 22/9/2013, aquando de um novo jogo no estádio
de Alvalade. A mesma zona na Alameda da Universidade voltou a ser varrida por
uma onda de destruição, provocada pelo estacionamento selvagem, perante a
inacção da PSP e da Polícia Municipal.
A verdade é esta: sempre que há jogo no Estádio
de Alvalade é
"normal" que o Campo Grande, as Telheiras e o Lumiar se
transformem num pandemónio. Os carros invadem e destroem tudo.
Se os
jogos se proporcionam, é também "normal" a ocorrência de
desacatos: pancadaria entre adeptos, destruição de equipamentos
colectivos como estações de metro, o apedrejamento de autocarros, etc, etc.
No final
do ano os prejuízos acumulados são sempre elevados. Quem a paga são
sempre os mesmos: os moradores e os contribuintes. |
2011-2013: Recuperação
Apenas em 2011 a CML e a
Universidade de Lisboa (UL) resolvem iniciar a sua recuperação da Alameda da
Universidade. O reitor da UL- Sampaio da Nóvoa (2006- 2013) e o novo
presidente da CML- António Costa ( 2007-2015) prometem mudar a situação
calamitosa em que se encontrava o campus da UL.
A UL, a grande proprietária
local, entrega na altura a exploração do estacionamento até então gratuito à EML
(empresa municipal responsável pelo estacionamento na cidade).
Agora (?) (Até quando ?)
Antes de 2013
O estacionamento
(caótico) na Alameda da Universidade estava confiado a
toxicodependentes. Eram frequentes os assaltos na zona. Os carros amontoavam-se por todo o lado. No meio deste caos, acontecia de tudo
um pouco: assaltos dos transeuntes, exibições de orgãos
genitais por tarados sexuais, acampamentos de ciganos romenos, etc. |
Agora (?)
Até quando ?
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1995-2011:
Abandono e destruição
A Alameda da Universidade, como
todo o Campo Grande depois de 1995 é complemente abandonado. João Soares
(1995-2002), que substituiu Jorge Sampaio à frente da CML, tinha um único
objectivo: acabar com os bairros de barracas em Lisboa. Os restantes
problemas da cidade foram entregues a figuras sinistras, vereadores como Machado
Rodrigues ou Rui Godinho.
Como se tudo isto não bastasse,
Barata Moura, é eleito reitor da Universidade em 1998, cargo que exerce
até 2006. Nunca o mesmo manifestou publicamente qualquer preocupação com a
crescente degradação do campus universitário. Não lhe passava pela cabeça
também, como membro do Partido Comunista, pressionar a PSP ou a Polícia
Municipal para combater o estacionamento selvagem na zona.
Santana Lopes (PSD,
2002-2005) e Carmona Rodrigues (PSD,2005-2007), enquanto presidentes da
CML, identificavam a UL como um antro de comunistas, tendo bloqueado qualquer
entendimento com a câmara. O presidente junta de Freguesia do Campo
Grande - Valdemar Salgado (PSD, 2002-2013) - encarou sempre a UL como um
problema, procurando ignorar a sua presença na freguesia...
A verdade é que a Cidade
Universitária rapidamente passou a ser uma das zonas mais perigosas de Lisboa,
os assaltos eram frequentes, a prostituição e o tráfico de droga instalaram-se.
Aspecto da Alameda da Universidade de Lisboa. Foto:
Outubro de 2003
A Alameda passou a ser usada para
as mais diversas manifestações que, sem qualquer controlo, deixam no
local rastos de destruição, como ocorreu em várias festas de estudantes, ou nas
comemorações do 1º. de Maio de 2004, que Santana Lopes havia proibido a sua
realização na Alameda D. Afonso Henriques.
"Caos na Cidade
Universitária"
(Durante mais
de uma década o Jornal da Praceta procurou por todos os meios que a CML e a UL
procedessem ao arranjo da Alameda da Universidade e disciplinassem o
estacionamento. Uma batalha ainda não totalmente ganha. Nos dias em que
se disputa um jogo no Estádio de Alvalade, a zona norte da Alameda da
Universidade é inundada de automóveis que já estragaram uma boa parte do que foi
arranjado. A impunidade continua.)
"O
panorama que se oferece a quem atravessa esta zona, durante a semana, é
simplesmente assustador.
Milhares
e milhares de automóveis de professores, estudantes e funcionários invadem e
acabam por destruir tudo o que encontram pela frente. Arvores e arbustos são
arrancadas, barreiras são impunemente derrubadas. Edifícios como os da
Reitoria, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, ou o do Arquivos
Nacionais -Torre do Tombo ostentam marcadas bem visíveis deste vandalismo
perpetrado com automóveis.
Estaciona-se
por todo o lado, nos jardins, passeios, passadeiras para peões, faixas de
rodagem, nos pátios, escadarias e até nos corredores de edifícios, entre
escombros e entulho de obras, etc. Estamos perante um cenário mais próprio de
um subúrbio degradado do que de um "campus" universitário. Tudo
parece estar a ser feito para piorar a situação:
1.A
abertura e o alargamento de grandes vias de acesso a esta zona, mais não
fizeram do que contribuir para aumentar o tráfego que por aqui circula. Onde
era esperado que houvesse um ambiente de concentração propiciador de reflexão,
existe a mais completa confusão e um barulho constante, agravado pela
passagem ininterrupta de aviões...
2.
A criação de novos parques de estacionamentos, neste contexto, mais não fez
do que estimular que as cerca de 80 mil pessoas que aqui trabalham, nos vários
estabelecimentos de ensino e de pesquisa, trouxessem os seus carros. Facto
agravado pelo brutal aumento do parque automóvel do país (cerca de 7.500.000
em 2001! ). Resultado: a única solução possível que se começa a
congeminar é a destruir todos os vestígios de espaços verdes e transformar
tudo num imenso parque de estacionamento.
3.
A entrega da regulação do estacionamento a marginais e toxicodependentes,
acabou por contribuir, com a sua cota parte, para a desordem. O alheamento da
polícia desta tarefa de regulação, mais não fez do que proporcionar a
expansão destas práticas.
Estamos
perante um caso que merece uma reflexão mais atenta, sobre o país em que
vivemos. No mínimo é suposto que nestes estabelecimentos, trabalhe uma boa
parte da nossa elite cultural. Não está em causa as suas competências científicas,
mas o modo como quotidianamente se relacionam com o espaço envolvente, dado que
parecem imunes à sua degradação. Numa interpretação imediata estamos
provavelmente perante um fenómeno extremo de separação entre o plano teórico
e o plano prático. A retórica académica não tem qualquer tradução no
plano das acções quotidianas. Numa interpretação cínica ( escola filosófica)
diremos que são pessoas de tal forma ricas interiormente que desvalorizam a
realidade exterior.
A
posição da CML perante o principal "campus universitário" da cidade
é mais difícil de perceber. Em primeiro lugar somos levados a pensar que para
os seus dirigentes este não existe pura e simplesmente como um espaço
diferenciado, de tal forma se mostram incapazes de estabelecer uma qualquer ligação
entre o ambiente e o estudo. É talvez por isso que não mandam retirar as
lixeiras que aqui abundam.
Em
segundo lugar, e tendo como referência a política que tem vindo a ser seguida
na última década para esta zona, diremos que a CML olha para a cidade
universitária acima de tudo como um enorme obstáculo à fluidez do tráfego. O
ideal para qualquer projectista camarário seria esquartejá-la com vias rápidas,
deitando abaixo uns quantos dos seus edifícios.
Em
terceiro e último lugar, diremos que estamos perante um ódio não manifesto
contra todos os que nela trabalham. Este fenómeno já tinha sido identificado
por Leite de Vasconcellos (cfr. Etnografia Portuguesa), quando se refere à boçalidade
revelada por muitos lisboetas que identificam o estudo como uma actividade inútil,
própria de ociosos. Exemplo desta posição é dada pela Junta de Freguesia do
Campo Grande, para quem a única utilidade da Universidade é garantir clientela
para o restaurante Quebra-Bilhas...
Na
sua aparente diversidade, estas posições tem a mesma matriz cultural: a
indiferença perante os espaços públicos, a res-pública."
Carlos
Fontes (2002) |
1961-1974
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