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A Igreja Católica nas Eleições Autárquicas 2025

A Paróquia do Campo Grande, no passado no dia 30 de Setembro, na Biblioteca dos Coruchéus, entre as 19h45 e as 21h30, resolveu levar à pratica a encíclica Laudato si’ – Sobre o cuidado da casa comum do papa Francisco, promovendo um debate sobre as  diferentes propostas dos candidatos às eleições em Alvalade. Estivarem presentes cerca de cinquenta pessoas, na sua esmagadora maioria moradores em Alvalade. Alguns dos presentes  manifestaram-nos a sua preocupação com a iniciativa, não fosse a Igreja Católica repetir em Portugal, aquilo que as Igrejas evangélicas fazem no  Brasil, intervindo na política partidária, negociando inclusive o voto dos seus fiéis.

Fizeram-se representar a coligação Por Ti, Lisboa (Tomás Gonçalves), Viver Lisboa (Francisco Costa), CDU (Ricardo Varela) e Volt (Mateus Carvalho).  No inicio, a moderadora, de forma sumária enunciou um conjunto de ideias da referida encíclica sobre a sua visão da Igreja de uma "Ecologia Integral e Cuidado com o Bem Comum". Trata-se de uma visão renovada dos franciscanos que a partir de uma relação irmanada e responsável com a natureza, elevam a mente para os mistérios da criação. Os termos usados não sendo novos, permitem todavia amplas interpretações, a começar pelo conteúdo filosófico de uma "ecologia integral".  A questão  não foi debatida, partindo-se de uma ideia mais simples: o que pretendemos deixar para as gerações futuras, com base nas nossas atitudes e acções no presente. Foram abordados três temas genéricos, para os quais cada partido apresentou a sua visão e propostas.

1. Espaços Verdes

A moderadora, como se verá, pretendia  os intervenientes enquadrassem as suas propostas sobre os espaços verdes, numa perspectiva global que tivesse em conta várias dimensões, como identitárias (Alvalade é verde), sociabilidade, ecológicas, diversão, económicas, sustentabilidade, etc. A primeira intervenção, a de Tomás Gonçalves (PSD/CDS-PP/IL) os espaços verdes foram logo reduzidos à contabilidade do número de árvores e arbustos plantados em quatro anos de mandato. Duas árvores por quinzena. Francisco Costa (PS, Livre, BE e Pan), recordou que não basta plantar árvores, a maioria por falta de manutenção, morrem. Os espaços verdes, na sua visão deve, ser entendidos como locais de lazer, mas formadores de comunidades, de laços de pertença. Ricardo Varela (PCP, Os Verdes), referiu que a freguesia tinha abundante espaços verdes, o problema é que estavam mal cuidaddos. As intervenções são pontuais,sem planeament. Mateus Carvalho (Volt), insistiu na ideia que era preciso mudar mentalidades, pôr a população a andar a pé, fechar ruas, etc. Em suma, acabar com a supremacia do automóvel.

2. Mobilidade e Segurança. 

A tentativa da moderadora de introduzir uma perspectiva mais global caiu por terra. Ficou evidente que existem duas visões muito distintas no modo de pensar a cidade, expressa no modo como foi abordada a relação entre peões, bicicletas e automóveis. Uma que dá primazia às pessoas e a outra aos automóveis. Tomás Gonçalves (Por Ti, Lisboa) assumiu o discurso da continuidade, defendendo mais carros e mais bicicletas na cidade. A solução que propõe são "vias partilhadas", baratas de fazer e evitam as criticas sobre a "inutilidade das ciclovias". Para acomodar o aumento de carros na cidade, a solução é a construção de mais parques de estacionamento para uatomóveis. Francisco Costa (Viver Lisboa) recordou-a elevada sinistralidade na cidade, as mortes, nomeadamente em passadeiras. A transformação dos principais eixos viários na freguesia, como a Avenida de Roma ou a Avenida dos EUA em vias rápidas, fazendo desaparecer as árvores. Um horror em dias quentes, gritou-se na assistência. As medidas que foram tomadas, como pintar ruas de vermelho, não funcionam. Ricardo Varela (CDU), reforçou a ideia que era preciso dar prioridade às pessoas, aos transportes públicos, ligar as ciclovias, melhorar os passeios. Era preciso uma visão global. Mateus Carvalho (Volt), voltou a insitir que era preciso mudar mentalidade, acabar com o predomínio do automóvel, o que foi aplaudido por várias pessoas na assistência. Emocionada, uma conhecida autarca do PSD, membra da Assembleia de Freguesia de Alvalade, recordou ao Jornal da Praceta, a morte de um filho atropelado na Avenida de Roma.

3. Higiene Urbana

A questão resvalou de imediato para a constatação que tudo piorou neste domínio. Um dos intervenientes (Ricardo Valério, PCP/Os Verdes) sustentou que a calamidade começou em 2013 quando parte das competências da higiene urbana passaram da Câmara Municipal para a Juntas de Freguesia. A maioria, como se verá, atribuiu as culpas à falta de coordenação e incompetência do actual executivo da CML e da Junta de Freguesia. Alternativas existem e muitas. Tomás Gonçalves, proseeguiu no seu registo contabilistico sobre o lixo recolhido, para concordar que a higiene urbana na freguesia piorou. Atribuiu a culpa ao COVID (2020/2021), durante o qual as escolas deixaram de abordar o tema nas aulas. Era preciso mais informação e sensiblização da população. Para Francisco Costa havia que clarificar a divisão de tarefas entre a CML e a Junta de Freguesia, densificar as eco-ilhas e a recolha do lixo. Emvolver as universidades no estudo do problema. Mateus Carvalho, para além do aumento de funcionários afectos a este serviço, sugeriu a participação de voluntários em diversas acções, nomeadamente de sensibilização. As sugestões foram muitas, na sua maioria constam dos programas das várias candidaturas

A questão resvalou de imediato para a constatação que tudo piorou neste domínio. Um dos intervenientes (Ricardo Valério, PCP/Os Verdes) sustentou que a calamidade começou em 2013 quando parte das competências da higiene urbana passaram da Câmara Municipal para a Juntas de Freguesia. A maioria, como se verá, atribuiu as culpas à falta de coordenação e incompetência do actual executivo da CML e da Junta de Freguesia. Alternativas existem e muitas. Tomás Gonçalves, proseeguiu no seu registo contabilistico sobre o lixo recolhido, para concordar que a higiene urbana na freguesia piorou. Atribuiu a culpa ao COVID (2020/2021), durante o qual as escolas deixaram de abordar o tema nas aulas. Era preciso mais informação e sensiblização da população. Para Francisco Costa havia que clarificar a divisão de tarefas entre a CML e a Junta de Freguesia, densificar as eco-ilhas e a recolha do lixo. Emvolver as universidades no estudo do problema. Mateus Carvalho, para além do aumento de funcionários afectos a este serviço, sugeriu a participação de voluntários em diversas acções, nomeadamente de sensibilização. As sugestões foram muitas, na sua maioria constam dos programas das várias candidaturas

Da perspectiva de uma "ecologia integral" ninguém mais falou no debate, a visão franciscana desapareceu. No final, todos, incluindo a assistência, ficaram agradados com o debate. A moderadora a contento também de todos, concluiu que a freguesia estava bem entregue tendo em conta os candidatos presentes.

 

Os Franciscanos e o Livro da Natureza

O Jornal da Praceta promete que nos próximos dias abordará neste espaço as contribuições dos franciscanos, como Santo António de Lisboa, para uma "ecologia integral". A questão, como se verá é filosoficamente pertinente. O Cristianismo ao afirmar que o mundo é um criação a partir do nada de um Deus bom e e misericordioso, passou a louvar a natureza, a sua harmonia e a descobrir o sentido de cada coisa. Nada foi criado ao acaso, como explicará entre outros, Santo Agostinho. No século XII e XIII, multiplicaram-se os tratados que classificam o sentido das coisas criada por Deus e a mensagem que carregam (moralização). S. Francisco de Assis, o patrono católico da Ecologia, acentua a ideia que todos e todas as coisas sendo "filhos" de Deus fazem parte da nossa família, e como tal devem ser respeitadas. Fê-lo de maneira admiravel num belissimo poema escrito em fins de 1224:

Cântico das Criaturas (Canticum ou Laudes Creaturarum)

Altíssimo, omnipotente, bom Senhor, a ti o louvor, a glória, a honra e toda a bênção.
A ti só, Altíssimo, se hão-de prestar e nenhum homem é digno de te nomear.


Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas, especialmente o meu senhor irmão Sol, o qual faz o dia e por ele nos alumia.
E ele é belo e radiante, com grande esplendor: de ti, Altíssimo, nos dá ele a imagem.


Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã lua e as estrelas: no céu as acendeste, claras, e preciosas, e belas.


Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão vento e pelo ar, e nuvens, e sereno, e todo o tempo, por quem dás às tuas criaturas o sustento.


Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água, que é tão útil, e humilde, e preciosa e casta.


Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão fogo, pelo qual alumias a noite, e ele é belo e jucundo e robusto e forte.


Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa, e produz variados frutos, com flores coloridas, e verduras.


 Louvado sejas, meu Senhor, por aqueles que perdoam por teu amor e suportam enfermidades e tribulações.


 Bem-aventurados aqueles que as suportam em paz, pois por ti, Altíssimo, serão coroados.


 Louvado sejas, meu Senhor, por nossa irmã a morte corporal, à qual nenhum homem vivente pode escapar.
Ai daqueles que morrem em pecado mortal! Bem-aventurados aqueles que cumpriram tua santíssima vontade, porque a segunda morte não lhes fará mal.


 Louvai e bendizei a meu Senhor, e dai-lhe graças e servi-o com grande humildade.