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Carlos Moedas, o Sr. Unicórnio

Terceiro Ano

Moedas anda desnorteado, já não confia nos próprios membros do partido. José Amaral Lopes, ao confundir a gestão da Junta de Freguesia de Alvalade com a de promotor de espectáculos deixou-o inquieto. Organizar espectáculos é, no seu entendimento, função do presidente da câmara, não do presidente de uma Junta de Freguesia. No dia 22 de Março de 2024, veio a Alvalade comprar vegetais no Mercado Jardim e ouvir as queixas dos moradores. "Está tudo ao abandono, senhor presidente" foi o comentário que mais ouviu.

O fabuloso "estado social local" com o qual pretendia mostrar ao governo que a CML fazia melhor, redundou num fracasso anunciado. No célebre Plano de Saúde, os números revelados em março de 2024 espelham este fracasso: o número de pessoas atendidas em 2022 e 2023 foi inferior ao que um único médico do SNS atende no mesmo período de tempo (Público, 24/03/2024). Estamos perante uma típica acção de propaganda, que não se traduz em nenhuma melhoria para o sistema de saúde local ou nacional.

Segundo Ano

Não tendo nenhuma visão sobre Lisboa e sobre seu desenvolvimento avançou na lógica distributiva directa, eís alguns exemplos:

a) Seguros de Saúde. Não é presencial, mas por telechamada para quem tiver mais que 65 anos. Num universo de mais de 130 mil pessoas, não chegaram a 3 mil os inscritos até final de 2023.

b) Habitação Social. O insuspeito José António Saraiva, director do semanário Sol, a 17/06/2023, dava conta da forma como Carlos Moedas forma populista como gera a cidade e de modo o criar a imagem de um "Santo dos Desprotegidos". Na entrevista que concedeu a Tânia Ribas de Oliveira (Programa A Nossa Tarde), afirmou que anda pelas ruas de Lisboa e ouvir os problemas dos moradores, a tomar notas e a resolver problemas pessoais. Pedem-lhe um casa, Moedas dá-lhes uma casa. Afirmou que já distribuiu mais de mil e espera distribuir muitas mais. Não há concursos, critérios de selecção... tudo se resolve à sua vontade discricionária do momento. O próprio PSD tem chumbado as suas propostas sobre habitação, não passam de simples propaganda. Desde que foi eleito não lançou um único projecto de habitação na cidade.

A forma atabalhoada de encarar o problema da habitação evidenciou-se aquando da tragédia do dia 4/02/2023 na Mouraria. Numa casa sobrelotada de imigrantes um incêndio vitimou mortalmente dois pessoas e feriu 14 com gravidade. Resposta de Moedas: é preciso estabelecer conta a entrada de imigrantes. Uma resposta que procurou desviar a atenção da CML do problema da exploração dos imigrantes.

c) JMJ. A polémica em torno das Jornadas Mundiais da Juventude (1 a 6 de Agosto de 2023), revelam o devario de Moedas. Comprometeu a CML em investimento sumptuosos na recepção ao Papa.

d) Investimentos no Espaço Público. Em meados de Junho de 2023 resolveu dar às Juntas de Freguesia, ao abrigo dos contratos de obras por delegação por competências 50 milhões. Obras a realizar durante os próximos dois anos, isto é, até às próximas eleições.

A Freguesia de Alvalade vai receber três milhões para a requalificação da Praça de Alvalade e do separador central da Avenida de Roma. A Requalificação do Centro Social e Paroquial de São de Brito, para a sua posterior integração no programa Um Teatro em Cada Bairro, e a requalificação dos espaços verdes no Bairro de S. Miguel.

Quem assistiu à intervenção ao discurso de Moedas no Pavilhão quando foram apresentadas as marchas a concurso, a 2 de Junho de 2023, não deixou de sorrir perante as basófias do presidente da CML. Afirmou que acabara de prometer a uma criança que não deixaria que as marchas jamais acabassem. Não era um desejo pessoal, mas uma decisão tomara e a estariam obrigadas a cumprir as futuras gerações. A ansia de se tornar uma figura "popular", depois das histórias do alcoolismo do pai, da vida desregrada quando jovem, deu-lhe agora para tiradas hilariantes.

"Fui eu que dei!"

"Fui eu que dei!" traduz bem a mentalidade de políticos como Carlos Moedas. A coisa pública é assumnida como coisa sua, e como tal quando no exercício de um cargo público, aquilo que fizeram com recursos públicos é um dádiva pessoal. "Fui eu que dei!" é a expressão desta apropriação da coisa pública, própria de tempos em que os reis assumiam o território e as populações como coisa sua. É certo que também na população portuguesa, onde existe um profundo deficie de cidadania, muitos são aqueles que afirmam: "O país nada me deu!". Uma afirmação que se insere nesta relação feudal/absolutista em que os reis davam de forma pessoal e arbitrária tudo o que nos seus reinos existiam. Estes portugueses não assumem como seu os recursos públicos que lhe são permanentemente facultados (hospitais, escolas, estradas, etc. etc). Estes recursos públicos, produto do trabalho de séculos de gerações, é paradoxalmente algo que não conta para o que consideram que lhes foi dado. Só quando algo lhes é distribuido sob a forma de uma dávida, é que assumem  que receberam algo do país. A política, como esfera organizativa, gestora e distributiva dos recursos públicos não existe. Nenhum político, seja ele um ditador ou uma personagem como Carlos Moedas, não dá nada a ninguém. Usa apenas recursos que são de todos, para os distribuir conforme entende (ditador) ou foi eleito para o fazer (democracia). Carlos Moedas não percebeu isto ou está apenas explorar a pouca consciência de cidadania de muitos  lisboetas.

Papa em Alvalade

Durante as Jornadas Mundiais da Juventude (1 a 6 de Agosto de 2023), causou alguma perplexidade a actuação do actual presidente da CM de Lisboa. Na ansia de aproveitar todos os momentos para promover a sua figura, montou uma máquina de propaganda para colar-se ao evento. Um facto tanto mais notório quanto é sabido que que não esteve na sua origem das jornadas em Lisboa, planeamento ou organização. A intervenção da CML, sob a sua liderança, foi pautada pela total descoordenação, trapalhadas e desvarios em gastos desnecessários, cujos montantes até agora apurados ultrapassam os 35 milhões. A colagem à Igreja, chegou ao ponto de tornar indistinta a separação entre o Estado e a Igreja estabelecida em 1911. Não se conteve quando as mesmas terminaram. Os episódios que se seguiram às jornadas, inundou Lisboa de cartazes, procurou colar-se ao cardeal cessante que o repudiou. É uma actuação política em tudo idêntica à seguida pelo actual executivo da Junta de Freguesia de Alvalade. O que é prioritário - o que serve a população - é secundarizado em prol do espectáculo. Mais Foto: O papa Francisco acena às pessoas que o esperavam na Avenida do Brasil, mesmo em frente à Rua Afonso Lopes Vieira. Créditos: Alessandra Oliveira.


Carlos Moedas, contra todos os procedimentos, pretendeu  dar o nome ao cardeal cessante a esta ponte sobre o rio Tracão. O cardeal recusou.  Sobre o mesmo recaem acusações de ter silenciado casos de pedofilia na Igreja.

Primeiro Ano

O unicórnio, animal mitológico, foi associado desde a antiguidade clássica à pureza e à força. Nos nossos dias foi associado a negócios de lucros rápidos de milhões. Carlos Moedas durante a campanha eleitoral para as autárquicas de Setembro de 2021 prometeu criar em Lisboa uma Fábrica de Unicórnios. Sob a sua direcção a CML as antigas instalações da Manutenção Militar no Beato seriam transfornadas, não apenas numa Hub Criativo (projecto em curso desde 2016), mas numa fábrica de milionários. A miragem do dinheiro a rodos teve certamente efeito entre os que se deixaram seduzir pela obtenção do dinheiro fácil que a CML iria patrocionar. Um ano depois das eleições, as obras avançam a contas gotas e o discurso dos milhões de milhões desapareceu. O que ressalta da sua gestão camarária é a impreparação, o que se tornou uma evidência gritante.

A escolha em 2021 de Carlos Moedas foi cuidadosamente planeada pelo PSD. Natural de Beja 1970), engenheiro civil com um sólido percurso pela banca e empresas de investimentos financeiros internacionais (França, EUA e Espanha) perspectivava grandes negócios. A sua projecção pública ocorreu em 2014 quando foi nomeado comissário europeu responsável pela investigação, inovação e ciência por um governo do PSD.

Das suas intervenções públicas sobre Lisboa, durante a campanha eleitoral de 2021 era fácil perceber que pouco conhecia da cidade e dos seus problemas concretos, tarefa que esperaria delegar noutros.

1. Distribuição de dinheiro pelos municipes: 3% do IRS, redução de 50% no estacionamento automóvel em Lisboa, passes sociais gratuitos para menores de 25 anos ou maiores de 65, seguros de saúde gratuitos, etc. A única coisa que avançou foram os passes sociais gratuitos. Quanto à redução no valor do estacionamento, o que temos visto tem sido justamente o contrário. Quanto a outras promessas distributivas por magia eclipsaram-se.

2. Parques Estacionamento. Prometeu aumentar os lugares para estacionamento na cidade de modo a acomodar todos os automóveis que nela circulam e entrassem, anunciando a criação em cada freguesia um silo para automóveis. Alvalade seria a primeira a ser contemplada com um enorme silo junto à Avenida da Igreja, com o qual iria resolver definitivamente os problemas de estacionamento locais. Diz-se que está tudo em estudo. A sua fúria contra as ciclovias, em particular a da Avenida Almirante Reis, desapareceu rapidamente umaa vez eleito. Por vontade própria retirou o tema da agenda camarária.

3. Teatros e centros culturais em cada uma das 24 freguesias da cidade. Não foi preciso chegar a um ano de mandato para mandar tudo às ortigas.

4. Conselho de Cidadãos. Prometeu e criou uma suposta assembleia representiva dos municipes. Cedo se percebeu que a sua ideia era anular a Assembleia Municipall, Prometeu seguir as suas recomendações. Após uma intensa e dilatada propaganda, nem os próprios participantes ficaram convencidos da utilidade deste conselho.

5 Habitação Social. Meses depois de ser eleito já estava a propor cortar nos apoios à habitação social, uma medida emblemática do seu programa eleitoral. O PSD, perante tanto descaramento "chumbou" a medida na Assembleia Municipal.

6. Inundações. A única medida estruturante que tomou, em fins de 2021, foi ditada por as inundações neste ano. No dia 16 de Dezembro, recorde-se, lo piso da Rua da Prata abateu. O projecto para minorar os efeitos das chuvas na cidade estava já concluido. Perante a dimensão do que então ocorreu não restava senão dar inicio às obras de drenagem na cidade, mas fê-lo de forma descoordenada provocando o caos na moblidade da cidade.

7. Controlo de Pragas. Entre 1 de Junho e 19 de Agosto de 2022 a CML esqueceu-se de contratar uma empresa para ações de combates a ratos, baratas e percevejos. Choviam os pedidos anti-pragas e nada era feito. A CML "esquecera-se" de prevenir estas situações.

8. Festas. Os eventos festivos deram sempre votos. Um assunto que os autarcas do PSD na cidade de Lisboa são particularmente sensíveis, a julgar pelo que se passa na CML e na Freguesia de Alvalade. Não raro a ansia de os promover contraria a própria lei. Foi o caso da autorização de uma festa na Tapada da Ajuda, dentro do perimetro florestal do Monsanto, numa altura em que era probida a sua realização devido aos fogos florestais que lavravam por todo o país.

9. Reunião Descentralizada Alvalade e Marvila (21 de Setembro de 2022). A reunião descentralizada do dia 21 de Setembro ilustra o conceito de participação política de Carlos Moedas. A reunião tinha como objectivo ouvir os municipes de duas freguesias de Lisboa: Alvalade e Marvila. Como era para os ouvir quase ninguém foi informado da reunião.  Para dificultar ainda mais a assistência, sobretudo para os moradores de Alvalade a reunião teve lugar em Marvila.  Como se tudo isto não bastasse, o número de moradores que puderam intervir foi limitado a 4 de Alvalade e 16 de Marvila. Quando a intervenção não agradava a Carlos Moedas, como ocorreu com a vereadora do PCP, cortou-lhe a palavra e censurou a intervenção. Uns dirão que se tratam manifestações autoritárias, quanto a nós, sem excluirmos esta hipótese, pensamos que o problema também é outro: a impreparação de Carlos Moedas para o cargo que desempenha.

Não foi preciso esperar muito para se contatar as consequências do desvario: o espaços públicos ao abandono, regresso das lixeiras, transito caótico, marginalidade,etc..

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