Jornal da Praceta


Informação sobre a freguesia de Alvalade

(Alvalade, Campo Grande e São João de Brito )

Câmara Municipal de Lisboa

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Santana Lopes: Um Político Pós-Moderno 

Há anos que acompanhamos o percurso deste político, e sempre nos espantou a sua capacidade pós-moderna de transformar a política em espectáculo, tendo entre os seus mais fieis espectadores e apoiantes as vítimas da sua política.  Santana é desde há muito a encarnação viva de Cálicles, a célebre personagem do Górgias de Platão. Ou se quisermos, numa versão mais moderna, um concorrente por direito próprio ao "Big Brother", onde a vida pública e o privada se confundem num mesmo espectáculo.  O caso é tanto mais de espantar quando na sua juventude nada o fazia prever, sobretudo a quem conheceu e privou com o "Paralítico" alcunha pela qual era conhecido no Liceu Padre António Vieira) e catequista da Igreja de S. João de Brito. 

SEC

Após um brilhante percurso, cheio de altos e muitos baixos, Santana Lopes floresceu para a grande opinião publica no princípio dos anos 90. Enquanto era Secretário de Estado da Cultura (1991-1995), de pouco serviu a imprensa (Diário de Notícias, Público, Expresso) e até o Tribunal de Contas denunciar a forma sistemática como utilizava os dinheiros públicos à margem de todos os procedimentos legais. De pouco serviu igualmente mostrarem a confusão que reinava na SEC e a forma como era delapidado o erário público em acções mediáticas sem qualquer repercussão para a melhoria das infra-estruturas culturais do país. Santana Lopes sabia melhor que ninguém que a sua avaliação como Secretário de Estado da Cultura, não seria feita por estes desperdícios, nem pela monumental ignorância que dava mostras atribuindo, por exemplo, a Chopin concertos que este jamais compôs. 

A sua avaliação pública seria feita em função da sua capacidade de se sair bem das embrulhadas em que se metia, que derrubariam qualquer outro político mas não a ele. Certa imprensa dava particular atenção às suas novas conquistas amorosas, outras às benesses que a si mesmo se atribuía nos exercício dos diversos cargos no Estado, outras ainda às confusões que gerava entre política e futebol. Pelo meio contabilizava-se uma choruda reforma que passou a receber da Assembleia da República, continuando no entanto, a exercer a actividade política. Quanto mais escandalos provocava maior era o fascínio que gerava na opinião pública: até onde iria a sua capacidade de sobrevivência no espectáculo que continuamente produzia. 

Figueira da Foz

Depois da cultura, seguiu-se o futebol, e depois deste, a Câmara Municipal da Figueira da Foz. Quando decidiu candidatar-se à presidência do município, os proprietários do Casino, hotéis, restaurantes, cafés, pastelarias, discotecas acreditaram que lhes tinha saído a sorte grande. Há muito que esta antiga estância balnear, se ressentia da falta de animação nocturna. A maioria dos habitantes sonhou que com Santana Lopes iria voltar o antigo esplendor da época estival.  A verdade é que a cidade por algum tempo voltou a ser notícia na comunicação social. 

O problema é que o magro orçamento da câmara, não permitiam, como se escreveu, manter a intensa vida social e familiar do seu presidente. Trabalhando a 200 km de casa, Santana Lopes não teve outro remédio senão passar a administrar o município nos intervalos de comentários desportivos na televisão e nos jornais, onde auferia proventos mais substânciais. Os municípes da Figueira da Foz contentavam-se facilmente com um presidente em "part time", Santana é que não se conformava. Sabemos aqora que para além da reforma que recebia de "deputado aposentado", queria receber também por inteiro o ordenado de Presidente do Município em acumulação com outras actividades que exercia em Lisboa, nomeadamente a de responsável pelo Centro de Sondagens, criado pelo seu amigo Paulo Portas, na Universidade Moderna. A lei não permitia tais acumulações de vencimentos sem reduções. Farto de tanta incompreensão acabou por rumar para Lisboa, com a Figueira no coração e muita mágoa na carteira. O caso prossegue em tribunal, dado que o ex-autarca da Figueira não se conforma com as limitações da Lei.

Lisboa

Em Dezembro de 2001, averba uma importante vitória ao destronar João Soares da CML. Durante a campanha eleitoral promete acabar com o regabofe que se havia instalado na autarquia, tornando Lisboa Feliz. Os lisboetas estavam por tudo, queriam era mudar de presidente e acabar com a bandalhice. Quase um ano depois das eleições autárquicas, respiram de felicidade por todos os poros:

Automóveis e condutores foram postos em ordem.

  A especulação imobiliária foi irradicada. 

Os serviços camarários foram reorganizados e são agora um modelo de eficácia, eficiência e transparência. 

Os vastos equipamentos culturais da CML funcionam com pessoal motivado e com brio profissional,  desenvolvendo uma actividade cultural que faz inveja a qualquer outra capital europeia.

Todos os bairros possuem parques municipais desportivos equipados com piscinas e outros equipamentos indispensáveis à pratica desportiva dos municipes. 

Os espaços verdes da cidade foram recuperados e por todo o lado surgem novos jardins.

O que restavam dos bairros de barracas e casas abarracadas terminou conforme estava previsto. Os bairros históricos começaram a ser finalmente recuperados num ritmo nunca visto. 

O lixo e as enormes lixeiras que por todo o lado eram visíveis desapareceram da cidade.

A população que vive em bairros degradados na periferia voltou a morar cidade.

Andando pelas ruas salta à vista a profunda diferença com a anterior presidência.  No meio deste imenso trabalho, Santana Lopes, ainda teve tempo de anunciar um grandioso projecto a reanimação do Parque Mayer: a abertura de um Casino.

Revelando a sua enorme capacidade de trabalho, tudo isto e muito mais que não se disse, foi realizado nos intervalos da sua principal actividade: comentador político e desportivo, e objecto predilecto das revistas de salas de espera de clinicas, cabeleireiras, etc.

A obra seria imensa para um qualquer político, mas não para Santana Lopes. Ele sabe que a avaliação sua acção,  não será feita pelas promessas que não cumpriu, mas pela forma como conseguiu ou não livrar-se dos problemas domésticos que carrega. A julgar pela comunicação social a família e as ex-mulheres não lhe dão tréguas. Mal acabara de ser eleito, por exemplo, já um dos seus filhos estava a agredir a Polícia da capital. A imprensa continua a casa-lo e descasa-lo vezes sem conta.

Para estar à altura desta elevada pressão social, não há dinheiro que chegue. Esse é seu verdadeiro problema, não a cidade. Mas é aqui que aos olhos do comum dos cidadãos se joga o seu êxito.  "Como conseguirá ele safar-se de mais esta ou aquela bronca?". "Será que também é chamado a depor em Tribunal ? "Estas parecem ser as questões que interessam verdadeiramente  aos lisboetas sobre a actuação do presidente do seu município.

O prestigiado semanário Expresso, entre Janeiro de 2002 e Junho de 2004 dedicou-se pacientemente a enumerar as fontes de rendimento deste político aposentado da política. Umas são inerentes ao cargo político que exerce ou exerceu (reformas), outras resultam da sua fértil imaginação, outras ainda de "extras" que vai fazendo um pouco por todo o lado. A avaliar pela multiplicidade que actividade que exercem em simultâneo, temos que concluir que a Presidência da CML não é, pelos vistos, tão absorvente como se diz, ou então estamos perante um político com excepcionais qualidades de produtividade. Um exemplo para um país que se debate com problemas neste domínio.

Santana, por exemplo, para além do ordenado como presidente da CML, acumula ainda por inteiro o vencimento de administrador da Parque Expo, cargo para o qual se nomeou a si mesmo. Resta saber quantos mais cargos na CML até ao final do mandato, irá ainda se nomear a si próprio, acumulando os respectivos vencimentos. Um exemplo da actuação de Santana Lopes: Em 2002 chegou ao ponto de afastar uma funcionária da CML por a mesma se ter atrasado em dar-lhe um cartão de crédito ilimitado para pagar todas as suas despesas pessoais, nomeadamente uma viagem a Paris para assistir a um torneio de ténis, etc.(noticia avançada pelo Expresso e confirmada por várias fontes ).

Santana Lopes não opera sózinho nesta vilanagem, faz-se acompanhar por uma corte de amigos e muitas amigas. Não foi pois com surpresa, que a escandalosa acumulação de vencimentos começa-se logo após as eleições a alastrar-se pelos seus mais directos ou longínquos apoios. Os primeiros a serem referenciados, ainda em 2002, recorde-se foram o então vice-presidente da CML Carmona Rodrigues e o vereador Pedro Pinto, que repartiram entre si chorudos ordenados de administradores em empresas municipais. 

Realista quanto basta, Santana Lopes percebeu que a CML não era o local ideal para resolver todas as suas necessidades no futuro, pelo que em ainda em 2002  anuncia um novo projecto político do mais alto folgo: a Presidência da República. No caso de ser eleito, espera, segundo alguns comentadores, não apenas acumular uma nova reforma, mas sobretudo encontrar criados e um local para festas de arromba.  Criadagem não falta no Palácio de Belém, e depois com o Casino no Parque Mayer, a vida em Lisboa deixará de ter a presente monotonia que o começa a desesperar.

Os anos de 2002, 2003 e 2004 ficarão par a história da idade de Lisboa, como aqueles em que a gestão municipal atingiu o seu grau zero. Muito pouca obra, mas muitíssima propaganda. A CML gastou rios de dinheiro a fazer promessas que não cumpriu, a anunciar projectos que logo depois abandonou, e sobretudo a promover a figura do seu presidente. Apesar desta acção de propagandística, nas eleições europeias de 12 de Junho de 2004, a coligação que governa a cidade sofreu um duro revés nas urnas, recolhendo apenas 1 terço dos votos. 

Conselho de Ministros

O país entrou em estado de choque no dia 28 de Junho de 2004, ninguém queria acreditar no cenário que se perspectiva. Com a saída de Durão Barroso para a presidência da União Europeia, Santana Lopes tinha agora o caminho livre para chegar à presidência do PSD, e depois a primeiro-ministro de Portugal. Uma estão ruinosa ensaiada na CML tinha agora a possibilidade de se alargar à dimensão de um país. Os meios de propaganda postos ao serviço de Santana Lopes serão a partir daí muitíssimo maiores. Estarão os portugueses dispostos a correr este risco? 

CF

 

João Soares e Santana Lopes: 

Dois Estilos de Gestão em Análise

 

O que os diferencia não é a ideia que tem para Lisboa. Os que os diferencia verdadeiramente são duas maneiras de fazer política e gerir a câmara. É inútil procurar estas diferenças de estilos em questões ideológicas, elas não existem. Elas são antes de mais explicadas por percursos pessoais diversos. Esta é provavelmente a grande conclusão que dentro de algum tempo os lisboetas irão extrair quando possuírem mais elementos  para comparar as duas actuações. Jornal da Praceta antecipa-se e apresenta começa desde já a sistematizar a informação que permitirá esta análise. 

João Soares despontou para a política não por uma opção pessoal, mas porque a isso estava condenado pela família a que pertencia. Tratou-se de dar continuidade a uma prática familiar. É por isso que se revela incapaz de separar a actividade política da sua familia ou dos seus amigos que frequentam a sua casa paterna. 

Ao contrário do pai nunca teve um discurso fácil, é mesmo um mau comunicador. Para compensar esta fraqueza dedicou-se a uma outra forma de comunicar : a edição (É proprietário da editora  Perspectivas&Realidades). João Soares nunca soube lidar com a comunicação social, enquanto protagonista. Preferiu sempre actuar nos bastidores da "política espectáculo". A  única forma que encontrou para chamar sobre si as atenções, marcar por momentos a agenda política do país, foi realizar pontualmente  algumas actuações mediáticas de curto efeito, como a visita à Indonésia, para logo de seguida se remeter aos bastidores.

Entre as figuras políticas que mais admira, aponta Palma Inácio ( o primeiro pirata do ar), a personificação da política da acção sem palavras.  É por todas estas razões que procurava os compromissos ao confronto, o que o levava a adiar muitas das decisões ou a prodigalizar recursos camarários para agradar a gregos e a troianos. O compadrio e o clientelismo  acabou por medrar na CML à sua sombra.

Santana Lopes, vem de uma família católica, onde a política era olhada como suspeita, e revolucionários como Palma Inácio, a personificação do demónio. Em criança o seu maior desejo era ser padre, como o avó de João Soares antes de este se tornar um acérrimo republicano. Na Igreja de S. João de Brito, em Alvalade, onde fez a catequese e ajudou à missa, ficou fascinado com a S. João de Brito. Este martir jesuíta fez da palavra o instrumento  privilegiado da luta no Oriente. Combateu outras culturas, outras religiões e até os poderosos locais.  O poder encantatório e  mágico da palavra apreendeu-o nesta Igreja sob a inspiração deste santo. No Liceu Padre António Vieira, onde estudou, manteve-se sempre afastado do grupo mais politizado que acabaria preso pela PIDE. Só despertou para a política após o 25 de Abril e por duas razões fundamentais:

 1.O seu pai é saneado numa empresa por um grupo de "comunistas" que a haviam tomado; 

 2. A maioria dos seus professores da Faculdade de Direito são igualmente saneados, e é compelido a estudar por cartilhas "marxistas-leninistas" contrárias às suas crenças. 

O modelo de ruptura vai buscá-lo a Sá Carneiro que combate então todos aqueles que no PSD, haviam optado por um compromisso com o poder dos militares, se submetiam à Constituição de 1976 e defendiam uma aliança com o PS. Santana assume esta dimensão de ruptura, como S. João de Brito o havia feito no seu tempo, com paixão, esgrimindo o verbo. No PSD, apadrinhado por Sá Carneiro, esta atitude proporciona-lhe uma rápida ascensão política, acabando por se transformar na sua imagem de marca. Não tarda a perceber que as acções de ruptura são exactamente aquelas que a comunicação social mais procura. Não tarda também a servir-se dos seus dotes oratórios para as encenar em público, numa constante relação de amor-ódio com a comunicação social. Trata-se de um casamento mais dificil de manter do que aqueles que já contraiu. Santana sabe disso e por isso goza-o enquanto pode.   

Carlos Fontes

 

   





 

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