Observando a política camarária
sobre os espaços verdes é notório que a CML nos últimos anos apostou claramente
na criação de grandes espaços verdes, em detrimento dos pequenos jardins de
bairro. Se estes parques permitem uma maior economia nos custos de manutenção,
não deixam de alterar contudo a relação do lisboeta com a sua cidade. Os hábitos
de convívio associados aos pequenos jardins estão a ser substituídos pelos
percursos ruidosos dos "grupos" que vagueiam pelos parques.
As consequências desta política são
contudo mais profundas:
Primeiro, a relação com os
espaços verdes passa a ser mediatizada pelo automóvel. A sua frequência requer
agora o recurso ao automóvel. O que é fácil para os habitantes mais jovens
torna-se um problema para os mais idosos.
Segundo, a enorme extensão
destes parques não deixa de levantar sérios problemas de segurança. Nunca
haverá polícias em quantidade para os policiar a toda a hora, em especial quando
diminui a afluência ou começa a escurecer. O seu visitante tem tendência para
associar a segurança ao número de pessoas presentes. Entramos subtilmente numa
lógica que sustenta a frequência dos centros comerciais, como afirmam os
especialistas na matéria. O que não deixa de ser significativo sobre a
mentalidade dos dirigentes camarários.
Terceiro e último, o que esta
política está a alterar profundamente é a própria relação dos lisboetas com os
seus bairros. Vivendo em espaços degradados, em particular os seus jardins, o
bairro é rapidamente assumido como um dormitório, criando-se deste modo as
condições para a anomia (atomização social dos seus habitantes), cujas
consequências mais graves são a diminuição de preocupações com a preservação do
espaço envolvente, a indiferença perante os actos de vandalismos, etc..
O que está em jogo com esta política
de abandono dos pequenos jardins de bairro, é no fundo o modelo da própria
cidade. Carlos Fontes |