Espaço Público

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Bairro das Caixas

Reportagem em  2004

Excertos e imagens de uma ampla reportagem datada de  2004 sobre a barracaria que se espalhava pelos espaços públicos na freguesia de Alvalade,  e em particular sobre o "Bairro das Caixas". A situação continuou a agravar-se, como se pode comprovar comparando as imagens tiradas nos mesmos lugares .

 

Recordamos que no dia 13 de Abril de 2004, a Assembleia Municipal de Lisboa exigiu à CML, medidas concretas para acabar com a degradação dos logradouros do Bairro de Alvalade. A verdade é desde então, os serviços da CML nada fizeram para alterar a situação. Resultado: a barracaria não parou de aumentar. 

 

 

Imagens das barracas que pululam nas  traseiras entre a Rua José Lins do Rego e a Rua Fausto Guedes Teixeira (Freguesia do Campo Grande ). Foto: 2004

O Bairro de Alvalade foi logo a seguir à 2ª. Guerra Mundial (1939-1945) o grande projecto urbanístico de Lisboa, onde tudo foi devidamente pensado e planeado. O Bairro de Alvalade foi justamente considerado nos anos 50, 60 e 70 a imagem de Lisboa moderna e onde se desfrutava uma qualidade de vida que não existia noutras zonas da cidade.

No final dos anos 80 do século XX, começou a sua decadência. Um dos sintomas mais notórios foi a proliferação de barracas e construções abarracadas nas traseiras dos edifícios. 

Estas barracas servem para quase tudo: oficinas clandestinas, armazéns de lojas ou de material furtado, quartos de dormir para imigrantes, depósitos de lixo e até para algumas garagens. Alugam-se e subalugam-se. 

A questão tornou-se não apenas um problema social, mas também  um perigo para a saúde pública. Grande parte destas  traseiras estão transformadas em verdadeiras lixeiras, onde se podem encontrar até fossas a céu aberto, e se não existem mais ratos aos gatos se deve.

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Cumplicidade da CML e das Juntas de Freguesia. A CML procura ignorar a situação, recusa-se a intervir apesar das insistentes queixas de centenas de moradores. Para as antigas juntas de freguesia, em particular a do Campo Grande, o problema não existia. O edifício da Junta Freguesia do Campo Grande, como documentamos, estava rodeado de lixo e de construções abarracadas .

Posição da Assembleia Municipal. No meio desta situação vergonhosa para uma capital europeia, registam-se por vezes momentos hilariantes. A última foi a do deputado municipal João Carlos Santos Pessoa e Costa (PPD/PSD), quando na sessão do dia 23 de Março de 2004, na Assembleia Municipal de Lisboa,  negou de forma categórica que nestes logradouros existissem barracas, lixeiras, automóveis abandonados, negócios ilícitos. A risota foi geral na Assembleia, o que não impediu que o ilustre deputado continuasse a garantir que tudo não passava de uma grande mentira. 

Recorde-se que na sessão da Assembleia Municipal do 13 de Abril de 2004, quando foi abordada a questão do Parque de Estacionamento da Rua José Lins do Rêgo, esta Assembleia apreciou e votou favoravelmente um parecer da Comissão Permanente de Urbanismo, Rede Viária e Circulação (CPURVC), no qual se preconizava a elaboração pela CML de Plano de reordenamento do bairro de Alvalade.  Posição que foi prontamente saudada pelos moradores de Alvalade .

Protestos na Comunicação social. Moradores, arquitectos, paisagistas tem-se pronunciado sobre esta proliferação de barracas nos jornais, pondo em destaque a forma desastrosa como a CML está a gerir o assunto.

Incompetência Municipal. A CML confrontada com alternativas para um uso mais adequado destes terrenos, apresenta as desculpas mais esfarrapadas para nada fazer. Uma das mais usadas é que não sabe ao quem pertencem os ditos logradouros. A única certeza que tem é que os mesmo são do Estado, mas de quem não sabe o organismo. A questão é naturalmente ridícula e evidencia a forma caótica como alguns serviços públicos funcionam, onde ninguém sabe de nada,  mas apesar disso não deixam de passar a factura do seu sustento aos contribuintes deste país.

Três pistas para a descoberta do organismo do Estado que é proprietário dos terrenos baldios em Alvalade

1º. Os terrenos, incluindo toda a área onde seria construído o Bairro de Alvalade, começaram a ser expropiados a partir de 1938 por Duarte Pacheco, então Presidente da CML. Expropriações, projectos, construção e fiscalização das obras foram assegurados pelo município.

2º. A Federação das Caixas de Previdências interveio no processo na qualidade de entidade financiadora das construções, nomeadamente do Bairro das Caixas.

3º. Nos arquivos municipais do Alto da Eira e Arco Cego qualquer munícipe, desde que saiba ler, encontra a resposta que falta aos dirigentes camarários. Na Biblioteca Nacional Lisboa para os que não gostarem do pó dos arquivos, podem consultar abundante documentação impressa sobre o bairro de Alvalade. Está lá tudo escrito. É demais tanta incompetência!

 

Algumas das barracas estão alugadas a imigrantes que aqui vivem em condições infra-humanas. Outras são locais onde ocorrem inúmeras actividades ilícitas.

 

 

Planos Municipais de Re-Qualificação dos Logradouros

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Para completar este quadro que evidencia a bandalhice que reina na Câmara Municipal de Lisboa, recorde-se que em 1999, os serviços da autarquia publicaram dois importantes estudos sobre o Bairro de Alvalade, onde se diagnosticavam com rigor alguns dos seus problemas que o Bairro enfrenta e se apresentavam soluções concretas e exequíveis no curto prazo:

 

1. O primeiro estudo incidia sobre a parte do bairro que pertence à Freguesia do Campo Grande. Após uma rigorosa análise ao seu adiantado estado de degradação urbanística, os seus autores concluem alertando os serviços públicos para a necessidade de se tomarem medidas urgentes tendentes à sua preservação e recuperação. Ver

 

2. O segundo da autoria dos arquitecto Ribeiros Telles e Fátima Leitão, partindo da mesma área, desenvolve uma solução integrada do aproveitamento e requalificação dos espaços ocupados por lixeiras, construções  abarracadas, etc, que constituem a maior parte das traseiras do Bairro de Alvalade. Ver

 

É preciso dizer que os serviços camarários estão de acordo que a realização deste projecto resolveria muitos dos problemas da zona, incluindo  a questão do estacionamento. Contudo, estes mesmos serviços, como este Jornal repetidamente tem dito, actuam de um modo diverso. Autorizaram, por exemplo, construções privadas em jardins públicos, como ocorreu na Rua José Lins do Rego, e não actuam conforme o mais elementar bom senso recomendaria.

A Quem Interessa Esta Situação ?

Porque será que ninguém na CML quer mexer nos logradouros dos Bairro de Alvalade, em especial os situados no Campo Grande? 

A resposta mais ouvida dos moradores é a seguinte: - "Alguém com poder na autarquia anda a defender os negócios ilícitos que aqui ocorrem, nomeadamente o tráfico e o consumo de droga que se se processa à vista de todos". Note-se que nestas zonas do bairro são igualmente frequentes os roubos de crianças e moradores. 

O caso é tanto mais intrigante quando sabemos que a CML pretendeu durante 7 anos (1997-2004) destruir um jardim público na zona (o da Rua José Lins do Rego) para construir um parque privado de estacionamento, mas recusa-se a considerar as alternativas defendida pelos moradores e que passam pela limpeza e requalificação dos citados logradouros, nomeadamente para parques de estacionamento.

Proliferação de Barracas e Lixeiras no Bairro de Alvalade e Campo Grande

As barracas ocupam vastas zonas por detrás dos edifícios, misturando-se com o lixo que abundam no local, assim como as ratazanas. Na sua esmagadora maioria estas barracas servem para quase tudo, menos para garagens de automóveis.

Foi este cenário deprimente e fedorento que impressionou os deputados municipais que em Março de 2004 visitaram o local. 

Na sessão da Assembleia Municipal do 13 de Abril de 2004, quando foi abordada a questão do Parque de Estacionamento da Rua José Lins do Rêgo, esta Assembleia apreciou e votou favoravelmente um parecer da Comissão Permanente de Urbanismo, Rede Viária e Circulação (CPURVC), no qual se preconizava a elaboração pela CML de Plano de reordenamento do bairro de Alvalade. 

A CPURVC não tem dúvidas em propor a necessidade de um estudo para a reabilitação das zonas livres do interior dos quarteirões, nomeadamente para a criação de parques de estacionamento.

 
 

Aparentemente tratam-se de garagens, mas na realidade a sua finalidade é outra. (Logradouro entre  a Rua José Lins do Rego e a Rua Fausto Guedes Teixeira. Foto:2004)

Lixeiras e viaturas de todo o tipo abandonadas são uma constante nestes logradouros. (Logradouro entre a Rua José Lins do Rego e a Rua Fausto Guedes Teixeira. Foto:2004)

 

Exemplos recolhidos no

 "Bairro das Caixas" na Freguesia do Campo Grande

Proliferação de Barracas e Lixeiras no Bairro de Alvalade e Campo Grande

O que se passa nas traseiras do Bairro de Alvalade ultrapassa todos os limites do razoável. As ruas estão apinhadas de automóveis, mas as traseiras dos edifícios estão apinhadas de construções clandestinas, lixo, automóveis velhos, contentores de obras, etc. A Câmara Municipal de Lisboa num total cumplicidade com esta situação, em vez de a resolver - como lhe competia - está apenas preocupada em destruir o que resta dos jardins públicos no bairro, como foi o caso do Jardim da Rua José Lins do Rêgo.  

 
 

 

Compare estas fotografias tiradas em 2004 com as que tiramos  em 2015 nos mesmos locais. Toda a zona entrou num inacreditável processo de degradação fruto da inoperância da CML.

Aqui e ali descobriam-se escombros de construções abandonadas que serviam para albergar ninhos de ratos e depósitos de lixo. Ao fundo a Escola Primária nº.33. ( Este "bunker" foi sendo ampliado ao longo dos anos até dar origem a uma  enorme construção.  Foto: 2004

 

Entre as barracas, destacam-se aqui e ali pitorescos pombais. São ainda bem visíveis os restos das antigas calçadas dos percursos pedonais pelo interior do Bairro de Alvalade (Logradouro a poente da Escola Básica de Santo António).  Foto: 2004

As barracas bloquearam os acessos ao interior do bairro. Por  todo o lado acumula-se lixo ( Logradouro a sul da Escola Básica de Santo António). Foto: 2004

Entre as barracas e o lixo é possível descobrir ainda restos dos antigos caminhos pedonais( Logradouro a sul da Escola Básica de Santo António). Foto: 2004.

 

As traseiras dos prédios de Alvalade, em particular no Bairro das Caixa, existe  um mundo abandonado de  barracas, lixeiras e tapumes que bloqueiam o acesso às próprias habitações, constituindo verdadeiros focos de doenças.  Foto: 2004

 

Algumas barracas transformaram-se em enormes edificios construídos ilegalmente em terrenos públicos, redesenhando o próprio bairro de Alvalade. Logradouro a sul da Escola Básica de Santo António. Foto:2004

 

Os caminhos antigos caminhos pedonais foram sistematicamenet cortados por construções de forma a consolidarem a privatização de espaços públicos. Logradouro a poente da escola Básica de Santo António. Foto: 2003/4. 

 
 

Alguns logradouros transformarem-se em vazadouros de entulho de obras, mas onde se podiam também encontrar camiõe e automóveis abandonados. Este é mais um gritante exemplo da actual irracionalidade da gestão camarária.

Panorama da entrada no logradouro na Rua Antónia Pusich, a poente da Rua José Lins do Rego. Foto: 2003/4 

Uma das várias viaturas abandonadas que se podem encontrar nos logradouros de Alvalade. (Logradouro na Rua Antónia Pusich, a poente da Rua José Lins do Rego). Foto:2003/4.

Mais Informação:

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