Concertos Solidários
 

 Professora, venha cá. Está a andar !

Num dos laboratórios da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, ouvimos um grito de verdadeiro espanto: "Professora, venha cá. Está a andar!". Fomos também para lá, e descobrimos um grupo de quatro jovens que acabavam de pôr a funcionar um veículo, com a forma de uma coração, movido a energia fotovoltaica. Faziam parte de um grupo de alunos da Escola Secundária Rainha Dona Leonor (ESRDL), numa visita de estudo ao Departamento de Engenharia  Geográfica, Geofísica e Energia da FCUL. Não íam sózinhos, mas já lá vamos.

O professor Ivo Costa começou a visita chamando à atenção para o princípio básico da energia Fotovoltaica: a transformação da luz em electricidade, através do efeito fotovoltaico (deslocamento de elétrons). Uma energia renovável que as nossas sociedades necessitam em maior quantidade à medida que avançamos na descarbonização (substituição das energias fósseis). A questão não era nova para os alunos de duas turmas de humanidades. Também não foi dificil apreenderem algumas das questões que se colocam como a dificuldade do "armazenamento" da electricidade e os diversos meios para o superar. O papel que as barragens podem desempenhar neste processo de armazemanento não foi esquecido.

O grupo de 16 alunos era acompanhado por três professores, Eduarda Pina (geografia), Mª. João Carvalho (inglês) e João Pedro Ferreira (matemática) e dois estagiários do IGOT, que não só ouviam as explicações que eram dadas pelo professor da Faculdade de Ciências, mas observavam as reacções dos alunos ao que estava a ser exposto. Uma ou outra questão foi motivo de uma pergunta para esclarecer conceitos mais dificeis como a cinética (movimentos moleculares).

Entrados no laboratório, os alunos depararam-se como uma enorme variedade de painéis solares, instrumentos e aparelhos para os mais diversos fins. A explicação centrou-se agora na constituição e fabrico dos painéis solares: as células fotovoltaicas, responsáveis pela conversão da energia da luz do sol diretamente em energia elétrica. Sem grandes complexidades foi dito que estas células eram constituidas por sílica (dioxido de silico). Um dos óxidos mais abundantes na crosta terrestre, que encontramos em pedras, no quartzo, na areia da praia e outros materiais. Quantas mais células um painel tiver, em princípio, maior energia produz.

Após estas explicações, ilustradas com materiais em presença, seguiu-se a parte mais excitante: a construção de um veiculo movido a energia solar. Foram dadas explicações muito simples como se deviam fazer as ligações dos fios, e as nossas engenheiras e engenheiros envolveram-se na febril tarefa de fabricarem um "bólide" para uma corrida.

Foi neste compasso que entramos em conversa com a estagiária do IGOT.A Inês Oliveira, licenciada Geografia no IGOT da UL, frequenta actualmente o 2° ano do Mestrado em Ensino de Geografia na mesma instituição. Durante os dois anos do mestrado passou por 3 experiências profissionais diferentes, intituladas de Iniciação à Prática Profissional I, Iniciação à Prática Profissional II e Iniciação à Prática Profissional III. Na primeira experiência que realizou durante o 2º semestre do 1.o ano do Mestrado, acompanhou e lecionou algumas aulas na Escola Básica Eugénio dos Santos com o professor Luís Cordeiro (8°ano) e outras tantas na ESRDL (com a professora Maria Eduarda Pina (11°ano). Neste ano letivo 2021/22, no primeiro período escolar, realizou a segunda experiência profissional - Iniciação à Prática Profissional II, com a turma 10°8 do Curso de Línguas e Humanidades da ESRDL, com a mesma professora. Atualmente, está a redigir o Relatório de Prática de Ensino Supervisionada, aquilo que habitualmente é intitulado de tese. Esta fase final do mestrado é exclusivamente dedicada à última experiência profissional do curso - Iniciação à Prática Profissional III. Nela trabalhou igualmente com a mesma turma e com o mesmo professor cooperante da experiência anterior (IPPII). Tem como objetivo trabalhar os recursos programáticos, aplicar as Aprendizagens Essenciais e as estratégias a estas associadas e fomentar o Perfil do Aluno à saída da escolaridade obrigatória, assim como a Estratégia Nacional para a Cidadania, documentos orientadores no ensino português. Em janeiro de 2022 apresentou ao Conselho Científico e Pedagógico do IGOT, uma listagem completa sobre as atividades, instrumentos de aprendizagem e contributos para o ensino e para a escola que pretendia aplicar, e é daí que surge esta visita ao Campus Solar da FCUL. Esclareceu-nos que pertinência desta visita se devia ao facto de se encontrar a lecionar uma sequência letiva referente à Radiação Solar a uma das turmas presentes. Ficamos a saber que o seu colega de Mestrado, Rogério Santos, se encontra na mesma situação, mas com outra turma, tendo sido por isso também mobilizado para a visita.

Perante estas explicações tão detalhadas, era dificil fazer mais perguntas.

A verdade é que sobre as bancadas de trabalho os veiculos estavam a ganhar forma, e sem darmos conta surgiu a grito de espanto: "Está a andar", quando um foco de luz incidiu sobre os pequenos painéis de uma viatura. Os quatro "bólides" ficaram todos prontos a tempo. Para a grande corrida foi escolhido um cenário adequado: a cobertura de um edificio da Faculdade de Ciências, onde está uma das maiores instalações de produção de energia solar de Portugal em meio urbano. O percurso da corrida teve duas voltas. O vencedor que se saiu mal na primeira volta, mas revelou-se imbativel na segunda volta. Razão do sucesso: Na primeira volta a orientação dos paineis revelou-se inadequada para a exposição solar, o carro andava muito lentamente. Na segunda, a orientação dos painéis funcionaram na perfeição. No final todos ganharam pelo que aqui aprenderam.

À Faculdade de Ciências, na pessoa do professor Ivo Costa, os nossos agradecimentos por mais este serviço à comunidade.