Quem foi Eugénio dos Santos ?
"é Eugénio dos Santos, e só
ele, o "arquitecto pombalino", aquele que criou o "estilo pombalino", tomado na
sua pureza original, na sua essência e nas suas responsabilidades culturais
maiores, para com um novo tempo", José-Augusto França - Lisboa Pombalina e o
Iluminismo.
Eugénio dos Santos e Carvalho
(1711-1760), engenheiro militar (1). Frequentou a aula de arquitectura Civil da casa
das Obras dos Paços Reais e a Aula de Fortificação e Arquitectura Militar da
Ribeira das Naus (a partir de 1735).
A sua competência como
engenheiro-arquitecto militar foi posta à prova nas alterações que fez no Paço
-Castelo de Estremoz para instalar o Armazém de Guerra (1735-1742), e depois nas
obras reais de Nossa Senhora das Necessidades em Lisboa (1742-1752), construção
de habitações na rua das necessidades, etc.
Dado os excelente trabalho que
realizava foi nomeado, em 1750, arquitecto supranumerário da casa das Obras e
dos Paços Reais, e no ano seguinte, arquitecto do Senado de Lisboa.
Na sequência do terramoto de
1 de Novembro de 1755, o engenheiro-mor do reino,
Manuel da Maia (1677-1768), deu-lhe a chefia de uma das três equipas
encarregues de elaborarem propostas para a reconstrução da Lisboa.
A sua primeira proposta (planta
nº3, entregue a 31/03/1756), realizada em colaboração com António Carlos Andres
(act. 1750-1779), regulariza as artérias das ruas da área de intervenção, assim
como o espaço do antigo Terreiro do Paço. Uma solução que foi bem aceite. Nesse
sentido, coube-lhe elaborar uma nova plana (a nº5, entregue a 19/04/1756), que
veio a constituir o Plano Geral
de Reconstrução da Baixa.
Na nova Lisboa desenhada por
Eugénio dos Santos, e aprovada desde logo pelo Marques de Pombal, todas as construções que ainda restavam
deviam ser arrasadas. As ruas eram amplas e assentava num traçado rectilíneo,
e convergiam para uma imponente praça - a Praça do
Comércio (191x183 metros). No centro desta praça esboçou inclusive a estátua equestre de D. José, que veio a ser
concretizada por Machado de Castro (inaugurada Julho de 1775). Projectou
igualmente um arco o fecho da rua principal, a rua Augusta. A concepção urbanística é claramente iluminista.
Planta Final para o plano-piloto da Baixa-Chiado,
assinada por Eugénio dos Santos e Carlos Mardel e datada de 1758. Nesta planta a
área de intervenção foi consideravelmente alargada em relação à Planta de 1756
(a nº5), mas mantiveram-se os mesmos princípios estruturantes.
Em consequência da escolha da sua
proposta para a reconstrução de Lisboa foi a 12 de Junho de 1756 nomeado
director da casa do Risco das Obras Públicas, então criada para coordenar a obra
de reconstrução. Foi nomeado também arquitecto do Antigo Celeiro Público (1756),
Arsenal da Marinha - Ribeira das Naus (1757), Alfandega e Praça do Comércio
(1758), devem-se-lhe muitos outros edifícios e colaborações, tais como a Fábrica do Tabaco ou o
Mosteiro de S. Bento da Saúde (atual Assembleia da República).
Entre os seus
colaboradores destaca-se Carlos Mardel (1695- 1763) que lhe sucederá, em
1760, na direção da Casa do Risco e que suavizará o rigor militar da
arquitectura do capitão Eugénio dos Santos.
Coube a Carlos Mardel alterar
em 1760, alguns dos erros da planta de Eugénio dos Santos resultantes de
medições mal efectuadas, e desenhar a Praça do Rossio, um dos elementos
urbanísticos fundamentais da nova Lisboa (2).
Praça do Comércio. O projecto emblemático de Eugénio
dos Santos.
Praça do Comércio. Eugénio dos Santos projectou
também um marco para a ligação entre a Rua Augusta e a Praça do Comércio.
Alfandega da Lisboa - antigo Celeiro Público,
projecto de Eugénio dos Santos (1756). Este edificio fez parte do enorme
conjunto de empresas e património público que foi vendido ao desbarato entre
2011 e 2105 pelo governo de Passos Coelho-Paulo Portas (PSD-CDS).
Arsenal da Marinha, projecto inicial de Eugénio dos
Santos.
Na cidade do Porto é obra sua o tribunal e
a Cadeia da Relação, e nas
Caldas da Rainha o seu hospital termal.
Tribunal e Cadeia da Relação, Porto. Projecto de
Eugénio dos Santos
No relato que dele fez o seu
filho, nunca teve um dia de descanso, morrendo muito novo esgotado.
Carlos Fontes
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