É Possivel Melhorar

Caro director do Jornal da Praceta 

Depois de reflectir sosbre os espaços verdes na freguesia, penso que podemos melhorá-los e muito. Dou exemplos.

Avenida de Roma. Tem inúmeros espaços que foram no passado canteiros, junto do pé das poucas árvores que ali se encontram e actualmente estão calcetadas. Visivelmente para ter menos responsabilidade na manutenção.

É uma das inúmeras acções que se instalaram como política ambiental, silenciosamente são rasteiras àquilo que não se vê; a população não vê o abandono dos espaços verdes, porque simplesmente ele foi empedrado.

A obrigação e compromisso da Junta de Freguesia de Alvalade, como qualquer outra, para com a população é criar ambientes frescos e verdes nos eixos viários intensos, pois a vegetação absorve a poluição, reduz a temperatura e é mitigador do ruído dos veículos. Isto é elementar para quem tem formação especializada no tema e exerce funções nos diversos departamentos das Juntas e CML. Porém, faz-se vista grossa. E porque não se opta por mais verde?

Enumero a razão principal; minimizar a responsabilidade em manter espaços verdes na cidade. Que importa dizer que o presidente Carlos Moedas plantou 30.000 árvores na cidade, este ano, quando elas são abandonadas depois do plantio e jamais se focam onde precisamente as pessoas circulam, que são ruas e avenidas? Eu não partilho da ideia que o cidadão precisa de ir a um parque para encontrar alívio. Não, não é assim.

Vejam o exemplo de Badajoz, uma cidade ultraperiférica do país vizinho, com carências tremendas e exposta a um calor tórrido onde, porém, se qualquer um quiser pode caminhar pelas ruas e avenidas que TUDO é arborizado, criando uma ilha urbana de sombra, já que o calor é inevitável. E acumula como desafio graves problemas de seca. No entanto, dão prioridade à frescura verde da cidade. Lisboa é uma menina sem escolaridade nem cultura, perante a gestão destes problemas, e não faz porque quanto menos verde existir MENOS a Junta pode ser apontada, consequentemente a CML também.

O eixo principal da freguesia é a Av Roma e é a principal carente em arvoredo. O metro subterrâneo é o bode expiatório para não se plantar. Balelas. Existem opções de árvores de pequeno porte cujo sistema radicular não carece de tanto solo para se desenvolver E nos casos pontuais onde isso pode ser um problema criem canteiros sobrelevados, para aumentar os m3 de solo para plantar. E reguem, criem o hábito de manter.

A cobardia sistemática dos serviços da Junta em encontrar problemas e JAMAIS fazer parte de uma solução é tradicional da mentalidade do poder local. Diria mesmo hereditária, já que a nova, entenda-se jovem, geração de eleitos e responsáveis no exercício de cargos públicos ao serviço dos fregueses, assumem de imediato estas visões retrógradas, caduca, careta. Eu tenho 58 anos e não vejo o futuro penhorado como advogam nas Juntas de Freguesia. Tenho mundo e quando viajo, olho com cuidado para a qualidade de vida de cada cidade, pequena, provinciana, capital ou cosmopolita, para aprender as soluções que as sociedades ocidentais com culturas e hábitos paralelos à nossa, encontram para melhorar o ambiente natural, verde e ambiental, nos aglomerados urbanos. Falta, a começar pelos decisores das Juntas, educação ambiental para depois estarem capazes de promover soluções que contornem as características ecológicas da área geográfica da freguesia que governam. E não pensar como pensam em esterilizar o mais possível, com pedra e cimento. Parece que reflectem o pensamento petrificado e não o natural tão desejado e reivindicado pelo pensamento actual.

O eixo da Av. de Roma, todo ele, deveria ser um espaço arborizado em densidade, não é. E por aqui deveria começar a mudança do paradigma. Veja-se o quão é aprazível, caminhar na Av. de Igreja, com a cúpula do arvoredo em túnel (até alguém na Junta cometer o crime das podas que executa por tradição e teimosia), vendo o comércio a florescer em oposição à Av. Roma que morre lentamente entregue a um ambiente hostil. Há melhor exemplo dentro da própria freguesia?

Nuno Prates*

* "Sou levemente mais que um jardineiro. O interesse pelo naturalismo, paisagem, botânica, jardinagem e plantas, levou-me a aprender sozinho, de forma empírica, toda a sapiência que guardo sobre este tema. A minha formação académica nada se relaciona com esta disciplina, que confesso, acabo por ter mais conhecimento do que aquela que em bom rigor acabei por me formar. Mas, prefiro manter o estatuto de jardineiro, já que é nestes assuntos que mais sou útil à cidade. ", 5/03/2025, idem fotos.

Jardim das Plantas Doadas

Nuno Prates criou em Alvalade um  jardim publico, na Rua General Pimenta de Castro, com  plantas doadas pelos moradores. Um ideia que despertou a curiosidade da comunicação social e uma acção insensata por parte da  Junta de Freguesia. Eís um resumo do que nos contou.           

A ideia nasceu de um gesto cívico de cuidar de um espaço público que estava ao abandono. A rega automática estava quebrada. Sucessivos pedidos desde 2017 para a consertar foram sempre ignorados. No espaço sobreviviam algumas plantas, moribundas, sem brio e desidratadas. Começou a regá-las com água doméstica, paga pelo próprio, com o prazer de devolver um canteiro aprazível ao bairro. Foi plantando e com a mesma dedicação e amor deu brilho a outros talhões que dele careciam. Um morador, sabe-se lá porquê, resolveu denunciar à Junta o que estava a acontecer. Era uma ilegalidade. Os responsáveis pelos espaços verdes, sem o ouvirem, em Janeiro de 2020, ordenaram a uma equipa contratada para arrasarrem o que havia sido plantado. As plantas eram ornamentais. Nada foi apontado quanto ao  planeamento e harmonia posto na sua disposição . Os protestos dos moradores fizeram-se ouvir, ruidosos de tanta indignação. A Junta tentou retratar-se, e procurou  reverter a situação. Estavamos em Janeiro. Só a natureza faz milagres. Nuno Prates, mesmo assim, em pleno inverno  replantou tudo de novo. Não desistiu. 

Hoje moradores pedem-lhe apoio para cuidar dos talhões fronteiros aos prédios onde moram e o Jardim das Plantas Doadas é a confirmação daquilo que a JFA sempre afirmou não ser possível: a existência de um jardim enorme, comprido, sem apoio absolutamente nenhum, independente e quase autónomo. Hoje os moradores aplaudem e deixam plantas no jardim porque sabem que Nuno Prates as planta por eles. Agradecem-lhes e ajudam a proteger os espaços. Ele simplemente  fica feliz pela comunidade.Fotos: Maio de 2023