Leituras de Verão
As últimas eleições autárquicas ocorreram há quase um ano. O executivo que então foi eleito para a Junta de Freguesia de Alvalade resolveu agora publicar uma revista semestral para publicitar o seu presidente e dar conta do trabalho realizado (Julho/Dezembro de 2022). As diversas forças políticas eleitas com assento na Assembleia de Freguesia tiveram direito a um curto espaço na revista, o que é de saudar.
Acto Um
Como é habitual fizemos uma leitura atenta procurando registar aquilo que se reveste de alguma importância para a freguesia e os seus habitantes.
José Amaral Lopes (JAL). A personagem principal da revista que ocupa um quinto desta publicação, com uma tiragem de 18.700 exemplares. Dado o seu carácter palavroso vamos dissecar, numa linguagem simples e objectiva o que disse.
Este tipo de publicações como é habitual são de propaganda das ações dos executivos das juntas e câmaras municipais. JAL no editorial que assina diz que a revista é de "reflexão e fundamentação", mas o leitor ao longo da revista não vislumbra nem uma coisa nem a outra. Adiante.
Na longa entrevista que lhe é feita (nove páginas) dá conta das suas prioridades e da "obra feita" e dos milhões já gastos dos orçamento da Junta (5.800.000 euros), sem contar com os acréscimos dos contratos por delegação de competências com a CML.
1. Cultura. É o tema predilecto de JAL. Define a cultura como aquilo que "Cria" e que transforma o "homem" no Homem" (p.27). Depois de lermos o que escreveu ficamos sem saber o que entende por cultura. É uma salganhada. Não respeita a mais elementar das regras de uma definição: a) exprimir o sentido de um palavra e exprimir a natureza do próprio objecto que a palavra representa; b) descrever as caracteristicas essenciais de uma coisa, pelo seu género próximo e diferença especifica. Em resumo: Não perca tempo. Registe apenas que a Junta andou a construir uma "galeria dos inesquecíveis", organizar e subsidiar uns quantos espectáculos e a atribuir umas quantas medalhas.
2. Direitos Sociais. Se ficou confuso com a definição anterior mais ficará com esta. JAL perde-se completamente na definição daquilo que considera ser a "área social" ao fazer um longa enumeração da mesma: apoios sociais, reformas, bombeiros, educação, medicina, transportes, higiene doméstica e pessoal, segurança, desporto, etc. etc. "Tudo isto, afirma, é o que eu encaro dentro das obrigações sociais" (p. 28). Em termos de ações concretas levadas a cabo pela Junta de Freguesia, JAL não consegue indicar nenhuma... O que leitor encontra são iniciativas desgarradas publicitadas e promovidas por outras entidades públicas e privadas (18º. Esquadra do Campo Grande, Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, etc).
3. Estacionamento. Carlos Moedas durante a campanha eleitoral (Setembro de 2021) prometeu construir um grande parque de estacionamento junto à Avenida da Igreja. JAL chegou a acrescentar um segundo, nesta revista limita-se a afirmar que está tudo em estudo.
4. Higiene Urbana. A situação caótica da Higiene Urbana na freguesia não podia ser ignorada. JAL, honra lhe seja feita não a esquece. Explica que a deficiente limpeza do espaço público se deve ao facto muitos dos que estão afectos a esta área não têm as "capacidades a 100%" (p.30). Qual seria o objectivo do arraial que a Junta promoveu para os funcionários da higiene urbana durante os Santos Populares? . Capacitá-los com uma excelente sardinhada, boa música e deliciosas sobremesas e a que não faltou a presença do executivo (p.45)? Ou para esquecerem os comentários produzidos pelo presidente da Junta?.
JAL associa a higiene urbana ao espaço público, o que nos parece correcto, mas quanto a projectos de requalificação fica-se por um estudo do executivo anterior: a arborização da Avenida de Roma. Anuncia um candidatura ao PRR (Bairro Comercial Digital) mas circunscrito a uma pequena área de Alvalade. O leitor/freguês acha que é pouco? Estamos de acordo, mas é tudo que encontramos. O espaço público não é seguramente a prioridade do actual executivo.
5. Conselho Consutivo. Há meses que andam a ser anunciados. Serão consstituidos por um vasto conjunto de personalidades de renome nacional e internacional para ajudarem o executivo da Junta de Freguesia a decidir como agir para facilitar a vida ao comum dos fregueses. Não vamos perder tempo com mais uma ação de propaganda que o próprio JAL tem dificuldade em explicar (p.32).
6. Ideologia. O alegado fim das ideologias, uma questão típica dos anos sessenta do século XX preocupa o presidente da Junta de Alvalade. A caracteriítica essencial da sua deologia é acreditar na "economia privada e na iniciativa dos cidadãos" (p.26). Tentando dar alguma consistência a esta "ideologia", podemos acrescentar a sua crença que o "ser humano é UNO" (p.28) e todos são "sujeitos de direitos sociais". Como nada é fundamentado o espectro de opções ideológicas possiveis não nos permitem identificar a "sua" ideologia. Registamos traços de um liberalismo económico, ico, sugestões do personalismo de Emanuel Mounier e uma leitura apressada dos Direitos Humanos da chamada segunda geração.
Acto Dois
A parte substantiva da revista está nas páginas 54 e 55. O actual executivo é formado por elementos do PSD e do CDS-PP, e apoiado pela Iniciativa Liberal, Mudar Alvalade e o Chega. Esta aliança condiciona naturalmente a avaliação da ação do executivo. O PSD refere que estas duas páginas (54 e 55) são uma notável obra pública a favor do pluralismo, liberdade democrática, transparência e tudo o que se possa imaginar. O autor, num estilo arruaceiro, idêntico ao que temos observado na assembleia de freguesia, acusa a oposição de não apresentar propostas concretas. É facil de verificar que o rapaz está a mentir. O CDS-PP, confessa-se satisfeito pelos três vogais na assembleia e os dois lugares no executivo. Quanto ao resto afirma-se desapegado das grandes doutrinas morais ou éticas (!?). O importante é o trabalho em prol do que entende ser o melhor segundo o entendimento dos fregueses. Confuso ?.
A Iniciativa Liberal fica-se pela requalificação do Bairro de São João de Brito, para assinalar derrapagens nos custos ( um milhão de euros). Mudar Alvalade destaca duas preocupações: a construção de um parque de estacionamento junto ao Mercado de Alvalade e o aumento de efectivos na 18ª. Esquadra do Campo Grande. O Chega centra-se na segurança para reclamar por videovigilância, guardas nocturnos, melhorias na iluminação pública, para também criticar a deficiente higiene urbana, exigir a remoção dos obstáculos no passeios e por mais dinheiro para as paróquias da freguesia.
A Oposição constituida por três partidos - Partido Socialista (iderou o executivo da Junta entre 2013 e 2021), a CDU e o Bloco de Esquerda revela áreas onde se mostra mais sensível. O PS deixa nesta revista uma verdadeira declaração de princípios ao afirmar que "O espaço público é a mais nobre das funções da Junta de Freguesia de Alvalade, marcando o quotidiano das nossas vidas, as nossas memórias, os locais da nossa infância, os nossos filhos e netos". Foi uma área que a Junta nos dois mandatos anteriores investiu de forma significativa. Receberam na altura devida os nossos e logios e criticas. A esta declaração não é alheio o facto da limpeza das ruas, arranjo dos passeios, manutenção dos espaços verdes ou requalificação de áreas degradadas são para o actual executivo problemas secundários . A CDU evoca a sua intervenção na defesa do Clube Atlético de Alvalade quando esteve em risco de ser despejado. Depois vira-se para a questão da requalificação das escolas na freguesia, em especial a interdição do pavilhão da Escola Gago Coutinho e a urgente remoção do amianto na Escola Eugénio dos Santos. O Bloco de Esquerda assenta as baterias na mobilidade suave e sustentável.
Prometemos ser breves e foi o que tentamos fazer. Boas Férias.
Julho de 2022 |