A esquerda na Assembleia de
Freguesia do Campo Grande sempre teve uma peso político assinalável.
Nas últimas eleições autárquicas, em 1993 e 1997, averbou, por
exemplo, duas confortáveis maiorias absolutas, mas nas últimas
eleições foi o desaire. Perdeu para uma lista de cidadãos anónimos,
cuja militância ou envolvimento na resolução dos problemas do bairro
é nula, e que se apresentaram às urnas com um programa eleitoral
minimalista. Com esta votação os moradores quiseram sobretudo
manifestar que não queriam mais do mesmo.
As razões desta mudança do eleitorado
devem ser antes de mais procuradas na desastrosa actuação de Joaquim
Rocha Cabral que desde 1993 estava à frente da Junta de Freguesia.
Mantido no lugar por meras razões partidárias, era um político
totalmente incompetente para as funções que desempenhava. Ao
longo dos anos foi desbaratando todo o capital político que a Esquerda
possuía nesta freguesia. Não admira que tenha sido uma das raras freguesias em
Lisboa cuja presidência da Junta passou da coligação PS/PCP para o PSD/PPM.
Apostado em manter-se nas boas graças do
Partido Socialista que dirigia a CML, procurou a nível local silenciar
a voz dos moradores que protestavam por coisas tão evidentes, como a
falta de limpeza das ruas, a degradação dos espaços verdes, incluindo
o Jardim do Campo Grande, o transito caótico, aumento da insegurança
no bairro, etc,etc. Estar perto dos problemas dos moradores significava
evitar que estes abrissem a boca para criticarem a actuação dos
serviços camarários.
Apostado em conseguir algum apoio a
nível local, empenhou-se na distribuição de subsídios e na
organização de "festas populares" , numa imitação rasca da
célebre receita dos imperadores romanos: "pão e circo".
Calou-se perante a expansão de construções clandestinas no
"bairro das caixas" (as casas de renda económica entre a Av.
Brasil e a Av. dos EUA). Calou-se perante inúmeros problemas que afectam a
freguesia. Para divulgar o trabalho que não fez
passou a editar um "Boletim".
A verdade é que os problemas no bairro
não pararam de se agravar desde 1993: aumento da insegurança e da
degradação urbanística, transito e estacionamento caótico, lixeiras
por todo o lado, jardins e equipamentos municipais abandonados ou em
adiantado estado de degradação, elevados indices de poluição sonora
e atmosférica, tráfico de droga disseminado pela freguesia, etc.
A gestão da própria Junta de Freguesia
é um suceder de projectos falhados, cujo exemplo mais caricato são as
múltiplas tentativas para criar um "e-mail" e uma
"página na Internet". Só após vários anos de investimentos
e em plena campanha eleitoral, a Junta anunciou que tinha uma
"página" e um "e-mail". Consultando a página
verifica-se que está repleta de falhas técnicas.
O caso mais significativo desta
actuação desastrosa foi, contudo, o envolvimento da Junta na
construção de um parque de estacionamento privado no Jardim da Rua
José Lins do Rego. Ao longo destes anos, a Junta de Freguesia foi-se
tornando numa verdadeira "agência" ao serviço de uma
associação cujos membros são mantidos no completo segredo. É importante
assinalar que o vereador que promovia estes parques seja actualmente
alvo de um processo crime por alegada corrupção, tendo o jornal
Público também divulgado provas da sua ligação a empresas que operam
na construção e exploração de parques de estacionamento.
Como foi possível chegar até
aqui? Esta é a pergunta que muitos dos que mantiveram Joaquim
Rocha Cabral à frente da Junta do Campo Grande estarão provavelmente a fazer.
Para os moradores do Campo Grande o tempo é de mudança. Cá estaremos p`ra
ver.
Carlos Fontes, Campo Grande, 2001