Jornal da Praceta


Informação sobre a freguesia de Alvalade

(Alvalade, Campo Grande e São João de Brito )

 

Eleições Autárquicas - 2001

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Lisboa: uma cidade controlada por bandos de mafiosos?

O que se escreve na imprensa portuguesa sobre Lisboa, é de tal ordem que estamos perante uma situação similar à que ocorria em Itália, antes do terramoto político que assolou este país. 

1. Um vereador da CML, ainda em exercício de funções, e a quem já foi movido movido um inquérito-crime por um negócio de contornos pouco claros, é apontado como estando ligado directa ou indirectamente a negócios privados em áreas onde possui poder de decisão: os parques de estacionamento. (Público). Um outro começa a ser apontado, Fontão de Carvalho, pelo facto de ser genro, ao que parece, de um dos maiores construtores civis portugueses (Alves Ribeiro).

2. Um antigo dirigente da CML (Miguel Portas) afirma publicamente, que possui provas sobre o pagamento que esta câmara fez a uma empresa privada, de milhões de contos por uma obra cujo custo não ultrapassava as centenas de milhares de contos (Expresso.online).

3.Empresas municipais como a EMEL ou a EPUL são apontadas como exemplos de uma completa falta de transparência na gestão de dinheiros públicos (Expresso).

4.Jovens lisboetas acampam junto à CML para denunciarem a corrupção que terá existido num concurso para atribuição de casas, apontando o dedo a presidentes de juntas de freguesia (Público). 

5.A construção na cidade parece obedecer apenas a uma única lógica: a da especulação imobiliária. Lisboa está desde há décadas dominada por redes mafiosas de construtores, que operam em conivência com os serviços camarários (Expresso).    

6. Um dos candidatos (Santana Lopes) não pára de sugerir ligações do seu principal opositor (João Soares) aos "lobbies" da construção civil. Primeiro afirmou que este favoreceu nos licenciamentos camarários os seus amigos e até irmãos da Maçonaria (o presidente das CML é um confesso "maçon" da Grande Oriente Lusitano). Segundo, afirma que tem as "mãos limpas" (não está corrompido), ao contrário do seu opositor que faz a campanha com dinheiros de construtores civis. Terceiro, que se for eleito, a primeira prioridade é fazer uma auditoria às contas da CML, tal é a extensão da corrupção que irá encontrar. 

7. O Presidente da CML é apontado como tendo favorecido a Fundação do seu próprio pai transferindo para a mesma recursos públicos. E por último, de ter aumentado de forma também ilícita o património do Colégio Moderno propriedade da sua família (Diário Digital entre outros).

8. Dirigentes desportivos afirmam que o Presidente da CML lhes terá prometido milhões de contos para a construção de estádios de futebol, sem que o mesmo seja capaz de esclarecer a validade desta promessa (Expresso). 

9.Para cúmulo, um candidato a primeiro ministro (Paulo Portas) afirma que em Lisboa o que se discute não é a existência de corrupção na CML, mas sim a sua dimensão. Esta pode ser classificada, por vezes, de pequena, média ou grande. A sua questão está apenas na necessidade de introduzir rigor na aplicação dos vocábulos.(Expresso). 

10. Como se tudo isto não bastasse, organizações internacionais apontam-nos como os mais corruptos na União Europeia, afirmando que a corrupção atinge profundamente a máquina do Estado e em particular as autarquias (vários jornais).

Colocadas as questões neste ponto, é natural que qualquer cidadão, se interrogue o que anda a fazer a Procuradoria Geral da República, o Presidente da República, a Polícia Judiciária, a PSP, etc.  

Carlos Fontes, Lisboa, 2001

 

 

"Eu Fiz é Meu" 

Na última  semana de campanha eleitoral, assistiu-se em Lisboa a um episódio cujas repercussões  políticas e culturais estão longe de terem sido completamente retiradas. Um vasto coro de ilustres personalidades do regime - "capitães de Abril" (Vasco Lourenço, Durão Clemente, etc), ex-presidentes da República ( Ramalho Eanes, Mário Soares), uma ex-primeiro ministro  (Maria de Lurdes Pintasilgo) e até o histórico dirigente do Partido Comunista Português (Alvaro Cunhal) - intervém na campanha  a favor do candidato João Soares. Fazem-no não para defenderem as suas ideias, mas para reclamarem para o mesmo o direito inalienável a mais 4 anos à frente da CML. O candidato da oposição é sumariamente rotulado de "Direita", "Reaccionário", "Fascista" e até lhe é atribuída a intenção de pretender derrubar o "Estado Democrático".

Nos anos que se seguiram ao 25 de Abril de 1974, a "esquerda" utilizou-se até à exaustão este tipo discurso nos seus combates políticos com a "direita".  A mensagem era simples. A "Esquerda" identificava-se com a "Liberdade e a Democracia", a "Direita" era associada à "Ditadura". Tratava-se de uma luta entre a razão e o obscurantismo.

O problema é que todas estas figuras "históricas", se reclamaram não apenas de um pensamento de "Esquerda", mas assumem-se como os guardiões da "liberdade" e da própria "democracia" do Povo Português. A legitimidade de qualquer acto político decorre do seu prévio acordo. Durante alguns anos, os militares de Abril através do "Conselho da Revolução"  reclamaram também para si esta função legitimadora. Os militares que o constituíam arrogavam-se do direito de ter a última palavra sobre o que era melhor para o país. Faziam-no não porque demonstrassem maior sabedoria que o comum dos cidadãos, mas porque possuíam esse direito que decorriam do que tinham feito num certo dia. O princípio político em que se baseavam era simples: "Se 25 de Abril foi feito pelos capitães de Abril é portanto deles. Pertence-lhes".  Estamos perante um princípio político de uma monarquia pré-moderna, onde o Estado se identifica com a figura do seu detentor, o soberano. A ele cabe pôr e dispor dos seus domínios que herdou ou conquistou. A noção de coisa pública (República) não existe, ou confunde-se com o domínio do soberano.

Em Portugal nunca houve um verdadeiro espírito republicano mesmo entre os que se reclamam de serem republicanos. O que tem predominado são ideias pré-modernas da coisa pública. O melhor exemplo disto é dado pela análise da trajectória da maioria daqueles que um dia fizeram algo de relevante para a causa pública. Machado Santos, por exemplo, no 5 de Outubro de 1910, implantou o regime republicano, mas a partir desse momento tornou-se um problema para a própria República. Julgava que o novo regime lhe pertencia, era uma coisa sua. Não tardou a envolver-se em inúmeras tentativas de golpes de estado  para repor as coisas como achava que deveriam ser. Otelo Saraiva de Carvalho é outro exemplo paradigmático deste pensamento político pré-moderno, e que está profundamente enraizado na cultura portuguesa. Muitos dos que ocupam cargos públicos, neste país, apropriam-se da coisa pública como se esta lhes pertencesse. "Eu fiz é meu". Foi esta lógica pré-moderna marcou a última semana da campanha de João Soares, e da qual este candidato não se distanciou. A reacção que a mesma provocou no país revela, contudo, que algo terá já mudado na cultura política dos portugueses. Esta é talvez a maior lição que se pode colher das últimas eleições.

Carlos Fontes, Lisboa, 2001

 

   
   
 
 

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