Jornal da Praceta
Público, 4 de Dezembro de 2001

Autarca Nega Interesses na Gisparque

"Não tenho interesses nenhuns na Gisparques. Nem directos nem indirectos. Sou amigo do engenheiro António Moura e nada mais." Com esta afirmação, Machado Rodrigues limita as suas ligações àquela empresa de estacionamento à amizade pessoal que tem com o empresário que a controlou durante alguns anos - e que foi e é sócio de amigos, sócios e colaboradores seus.

Para explicar o facto de ter trabalhado, durante muitos anos, na mesma área em que tem competências executivas na Câmara de Lisboa, para a Tecnep - uma empresa de António Moura e de assessores seus - e para diversas entidades, incluindo autarquias e comissões de coordenação regional, sublinha: "Sou consultor de toda a gente desde que o trabalho e o honorário me agrade."

Segundo acrescenta, a única coisa que pediu aos seus amigos da Tecnep, quando ocupou o lugar de vereador, foi que não concorressem a quaisquer concursos da autarquia. E, para tentar clarificar a sua ligação a Domingos Moura, declara: "Trabalhei muitos anos na Tecnep a recibo verde, mas os estudos em que participei eram de circulação e o Moura era da área de projectos. A minha relação na Tecnep era com o engenheiro Proença Boavida (assessor do seu gabinete durante alguns anos)".

A intensa actividade profissional que desenvolve no sector dos transportes há 32 anos - passou pela Direcção-Geral dos Transportes e pelo Gabinete de Estudos e Planeamento do Ministério dos Transportes e foi secretário de Estado dos Transportes e Comunicações pouco depois do 25 de Abril - é uma das explicações que apresenta para a existência de amigos seus na equipa inicial da Gisparques.

Em qualquer dos casos, Machado Rodrigues garante que esta empresa nunca recebeu qualquer espécie de benefício da Câmara de Lisboa e desafia quem disser o contrário a prová-lo. "No caso dos parques em espaços expectantes [que se tornaram o principal negócio da Gisparques sob a direcção de Domingos Moura] limitávamo-nos a autorizar a localização das entradas e das saídas."

O vereador nega veemente que, depois da saída do seu fundador francês, Stephane Choisy-Bourgade, a Gisparques tenha beneficiado de informação privilegiada proveniente da câmara e assegura que as orientações do seu gabinete e a política de estacionamento da autarquia foram sempre públicas. "O negócio do francês eram os parques subterrâneos e os parquímetros. Ele convenceu-se de que, por estar ligado a alguns amigos meus, ia ganhar os concursos todos. Quando viu que não ganhava nenhum foi-se embora e vendeu a sua posição. Se o engenheiro Moura achou o nicho de mercado dos parques em espaços expectantes, só tenho que lhe tirar o chapéu."

Machado Rodrigues desmente também que a Gisparques alguma vez lhe tenha falado na hipótese de explorar espaços expectantes no tempo de Choisy-Bourgade, assim como desmente que tenha sido ele próprio a propor ao francês que se associasse a Domingos Moura.

Questionado sobre se não o incomodava o facto de o seu chefe de gabinete, um seu cunhado, e um seu ex-assessor terem sido sócios de Domingos Moura até há dois anos e de a Tecnep ter estado instalado no seu escritório durante uma dúzia de anos, o vereador responde: "Não me incomoda nada. Isso são tudo coincidências."

Quanto ao caso concreto do seu chefe de gabinete, acentua: "Não me choca essa relação [com Domingos Moura], porque confio a 100 por cento nele."

J.A.C

Gisparque, SA: Empresa de parques de estacionamento. 

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