História de Lisboa
Uma ideia para entender
Lisboa: o último porto seguro que existiu durante milhares de anos, situado na fronteira entre o mundo conhecido e um mar imenso que aterrorizava os
mais audazes navegantes.
A
ideia de "Finisterra"- onde tudo acaba ou começa - é algo que
está intimamente ligado ao imaginário de Lisboa.
Origens
Na tradição popular Lisboa foi fundada por
Ulisses, uma lenda que não deve ser levada a sério.
Na verdade, milhares
de anos antes de Homero ter
cantado os feitos deste mítico herói, já a região de Lisboa era habitada. Os
vestígios mais antigos da ocupação
humana em Lisboa datam do Acheulense ( 500 mil a 100 mil antes da nossa era ).
A partir deste
período multiplicam-se os achados arqueológicos que atestam a fixação de
muitos povos ao longos dos tempos ( fenícios, gregos, cartagineses, romanos,
etc).
Num
monte estratégico debruçado sobre o Tejo, onde hoje se encontra o castelo de
S. Jorge foi aí erigido um castro. Foi aqui que a cidade se começou a formar. Este
primeiro núcleo habitacional expandiu-se depois pela encosta virada a sul, onde
hoje se encontra o Bairro de Alfama.
Sugestão
para visita:
-
Castelo de S.Jorge, onde se constituiu o primeiro núcleo urbano na
pré-história.
Lisboa Romana
Os romanos chegaram a Lisboa (Olisipo) em 205
a.C., ocuparam o castro e aí erigiram uma acrópole. Da estratégica Felicitas Ivlia Olisipo,
descrita por Plínio, temos inúmeros achados arqueológicos um pouco por toda a
cidade ( casas, teatros, forum, circo, vias, pontes, cemitério, etc).
Sugestões para visitar::
- "Teatro Romano", na encosta do
Castelo (Rua de São Mamede ao Caldas).
Lisboa Visigótica e Islâmica
A cidade foi saqueada pelos Godos de Walia (419), sendo tomada pelos suevos e
depois pelos visigodos (453) que acabaram por ser dominados pelos muçulmanos em
714., Com os novos ocupantes a cidade expandiu-se. A Sé visigótica foi transformada numa enorme mesquita
(784). Lisboa afirma-se como uma grande cidade virada sobre o Oceano Atlântico,
o Mar Tenebroso.
Sugestões para visitar:
Lisboa Cristã
Muitas
foram as tentativas dos cristãos para reconquistar Lisboa aos muçulmanos,
o que só virá a acontecer, em 1147, pelo primeiro rei de Portugal D. Afonso Henriques,
contando para isso com a ajuda de Cruzados que se dirigiam para a Terra Santa.
Este rei deu-lhe o seu primeiro foral em
1179.
Lisboa
afirma-se como um ponto estratégico fundamental nas rotas marítimas entre o
norte da Europa e o Mediterrâneo. O porto de Lisboa adquirir uma crescente
importância, tendo nele se fixando inúmeros mercadores vindos de toda a
Europa. A prosperidade atraia os piratas, tornando-se frequentes a guerras
navais.
Devido
a esta posição estratégica, mas também ao seu desenvolvimento económico,
Lisboa é escolhida para capital do reino de Portugal (1255). Até ao século
XVI os Paços dos Reis situam-se no Castelo de S. Jorge.
No
Bairro de Alfama surge no século XIII a primeira universidade portuguesa, cuja
localização alternou até ao século XVI com a cidade de Coimbra, onde se
viria depois a fixar.
Sugestões para visitar:
-
Sé de Lisboa.
-
Rua das Escolas Gerais, junto ao Mosteiro de S. Vicente de Fora. No Pátio dos
Quintalinhos (n.º 3) fica o local onde segundo a tradição terá funcionado no
início a Universidade de Lisboa.
Lisboa das Descobertas
O
século XV irá marcar a cidade e o país. Com a conquista de Ceuta, no norte de
África (1415) teve inicio as descobertas geográficas que irão levar os portugueses a
todos os cantos do mundo. Lisboa é uma cidade aberta ao mundo conhecido e ao
desconhecido.
A
maioria dos grandes descobridores do mundo, como Bartolomeu Dias, Vasco da Gama, Cristovão
Colombo, Pedro Alvares
Cabral, John Cabot, Fernão de Magalhães viveram em Lisboa e as suas descobertas estão
intimamente ligadas a esta cidade.
Mesmo
falsos descobridores não deixavam de querer associar-se a Lisboa, como Américo
Vespúcio, o homem que deu o nome à América. De acordo com as suas
afirmações aqui viveu durante cinco anos e navegou ao serviço do rei de
Portugal.
Neste
período, para além de navegadores, aqui se encontravam os mais reputados
sábios do mundo em ciências como cosmografia, cartografia, matemática,
farmácia, construção naval, etc.
Lisboa
foi a capital do primeiro Estado Global do Mundo: Portugal.
Sugestões para visitar:
-
Torre de Belém.
-
Mosteiro dos Jerónimos
Lisboa de Luto
Entre
os séculos XVII e XIX, Lisboa vive momentos de glória, mas também de
destruição.
Primeiro foi a morte de D. Sebastião nas areias de Marrocos (1578), que trouxe a funesta vinda dos espanhóis, os quais só a custo acabarão por ser expulsos
(1640). A ocupação espanhola deixa Portugal destroçado, o seu vasto
Império é abandonado, instalando-se na sociedade um clima intolerância
religiosa. A Inquisição persegue e mata milhares de pessoas acusadas de
heresia. Lisboa durante largos anos é associada ao obscurantismo e
ao fanatismo religioso, uma imagem que contrasta com o seu passado de abertura
ao mundo.
Depois
desta desgraça, ocorreu uma outra, mas esta natural. Na manhã de 1 de Novembro de 1755
quando um violento sismo arrasou Lisboa destruindo cerca de 10.000 edifícios e
matando cerca de 15.000 pessoas. Este trágico acontecimento provoca uma
verdadeira revolução nos conceitos morais no mundo Ocidental. Voltaire, E.
Kant e tantos outros filósofos do tempo reflectem sobre as consequências
filosóficas da tragédia.
A
última grande tragédia a que a cidade assistiu, ocorreu no inicio do século
XIX, quando as tropas francesas invadem Portugal, apoiadas pelo governo espanhol. Em sucessivas invasões destroem, saqueiam bens e matam centenas de
milhares de pessoas. O país entre 1807 e 1813 transforma-se num imenso
campo de batalha. Lisboa é totalmente pilhada. O povo em armas, combate pela liberdade contra a tirania da França
imperial e o expansionismo espanhol.
Devido
à tenaz resistência da população, os ocupantes acabam por ser expulsos
deixando atrás de si um país devastado.
Sugestões para visitar:
-
Monumento aos Restauradores
-
Ruínas do Convento do Carmo
Lisboa Renascida
Os
acontecimentos trágicos entre 1580 e 1813 não desanimaram os lisboetas, pois
de imediato souberam come inteligência e energia reconstruirem a sua
cidade Lisboa, e ajudaram a reconstruir o país e o seu Império Colonial.
O
melhor exemplo desta capacidade construtiva está na campanha de obras que
realizaram logo após o terramoto de 1755, quando
projectaram a primeira cidade iluminista do mundo.
Sugestões para visitar:
-
Baixa Pombalina
- Miradouro do Arco da Rua Augusta
Lisboa Liberal
A
revolução liberal de 1822, marca o inicio de uma profunda revolução no
quotidiano lisboeta. Nada será como dantes.
O surto industrial que se faz
sentir a partir de meados do séc. XIX consolida a nova fisionomia urbana,
assistindo-se, assistindo-se à afirmação das ideias democráticas.
A
burguesia triunfante reconstrói a cidade à sua medida e imagem. O Teatro
Nacional S. Carlos, o Chiado e a Avenida da Liberdade são os seus locais
emblemáticos.
O
debate político é particularmente vivo nos novos espaços públicos, como os
clubes e cafés de Lisboa. Por todo o lado proliferam lojas maçónicas, grupos
republicanos, anarquistas e socialistas, conspirando contra o regime
monárquico, acusada de ser a principal causa dos problemas económicos com que
o país se debatia.
A
proclamação da República em 1910, nos Paços do Concelho de Lisboa, culminou
um longo processo de ruptura social e política, afirmando os valores da
laicidade republicana num país que se continuava a afirmar como católico.
Lisboa mergulha durante 16 anos (1910-1926) numa convulsão social.
Sugestões para visitar:
- Paços do Concelho de Lisboa.
-
Grémio Literário
-
Café Nicola, no Rossio.
Triste Lisboa
O
totalitarismo que varre todo o mundo, durante a primeira metade do século XX,
chega também a Portugal.
Em 1926 um golpe militar implanta uma longa ditadura
que durará até à madrugada do dia 25 de Abril de 1974. Milhares de cidadãos
são presos ou desterrados. A
sede da Polícia Política na Rua António Maria Cardoso, as prisões das
Mónicas e de Caxias (arredores de Lisboa) são os símbolos do novo
regime.
O regime ditatorial procura criar uma cidade à imagem de uma capital imperial. Duarte
Pacheco, o enérgico ministro do regime, inicia a obra ao rasgar alamedas,
avenidas e ruas numa escala sem precedentes. O ritmo de construção durante
duas décadas é
impressionante.
Todos
os grandes acontecimentos mundiais do século XX deixaram as suas marcas em
Lisboa, com especial destaque para a IIª. Guerra Mundial (1939-1945), quando
foi palco de lutas entre espiões e porto de abrigo para milhares de refugiados.
As guerras coloniais, a emigração e o desenvolvimento económico dos anos 60,
acabam por destruir este projecto. O exodo das populações dos campos para a cidade põe fim igualmente aos planos
de ordenamento da cidade. A sua períferia transforma-se num imenso caos urbanístico.
Sugestões para visitar:
-
Alameda Afonso Henriques
-
Parque Eduardo VII
-
Avenida Guerra Junqueiro
-
Praça do Areeiro
Lisboa Cosmopolita
A Revolução dos Cravos cuja noticia correu
mundo em 1974, incentiva a queda de muitos regimes ditatoriais. Lisboa libertada da ditadura e das colónias redescobre
rapidamente a sua vocação cosmopolita.
A
renovação da cidade tem sido feita contra a cidade tradicional e
frequentemente contra os seus habitantes. Os modernos centros comerciais
arruinaram o comércio tradicional. A especulação imobiliária, associada a
uma Lei de Rendas anacrónica, contribuiu para expulsar os novos habitantes para
a periferia.
Alguns acontecimentos
internacionais, como exposições, foram aproveitados para lançar interessantes
programas de requalificação urbana. O que teve maior impacto foi a Exposição
Mundial de 1998, na sequência da qual foi criada o Parque das Nações.
Desde
1974 uma inacreditável sucessão de executivos camarários incompetentes e
capturados por especuladores imobiliários e bandos ligados aos aparelhos
partidários, em vez de contribuírem para
resolverem os problemas da cidade agravaram-nos.
As
fachadas de magníficos edifícios foram descaracterizadas por marquises, os
passeios invadidos por automóveis, a maioria das praças destruídas. Edifícios históricos
demolidos. Os jardins e espaços verdes degradaram-se. Inúmeros equipamentos
urbanos foram abandonados. O património citadino entregue a ignorantes. Por
tudo isto Lisboa não parou de perder habitantes. Em 2007 tinha menos habitantes que em 1931.
Apesar
destas catástrofes políticas, Lisboa aqui e ali reage e ressurge com a sua
habitual energia cosmopolita, afirmando-se como uma das capitais mais
fascinantes do mundo pela sua diversidade e história.
Sugestões para visitar:
- Parque das Nações.
Carlos Fontes |