Um pouco de história da moda em Portugal
A criação da Escola Profissional Magestil, em 1989, culmina a grande renovação da formação em moda que ocorreu nos anos 80 em Portugal.
O elevado peso da industria de confecções e textil nas exportações nacionais, no final dos anos 70, carecia para a sua sustentação de uma formação adequada em todos os sectores. Havia uma clara consciência política que era necessário preparar as empresas a dificil transição do "trabalho a feitio" para a "produção própria". A entrada da CEE (atual UE), em 1986, faria subir os salários dos trabalhadores diminuindo as vantagens competitivas que o país dispunha baseada nos baixos salários.
Um processo que se inicia em 1982 com a criação do curso de Estilismo do CITEM, em Lisboa (Rua dos Salitre) e no Porto (Clube Fenianos), no ano seguinte surge a GUDI (Porto), a Academia de Artes e Oficios (Porto, 1984), o Colégio de Nª. Srª. do Perpétuo Socorro (Porto, 1984), Cooperativa Arvore (Porto), In-Moda Lisboa, 1987), etc. A ausência de uma ligação efectiva destas escolas às empresas de confecção limitava bastante o alcance da formação que ministravam.
Integradas no IEFP, com uma forte ligação à industria surgiram dois importantes centros de formação profissional: o CITEX no Porto e o Civec em Lisboa (1981), oferecendo um vasto leque de cursos para todas as suas áreas da industria de confecção e textil. No Citex foi criado curso de design de moda (1983). O Civec quando passou a ter melhores instalações (Benfica) lançou o curso de estilismo industrial (1986). A ampla formação ministrada nestes cursos de três anos de duração, estágio profissional e multiplas experiências proporcionadas aos formandos tornou-os rapidamente numa referência nacional incontornável. Os técnicos formados nos CIVEC e CITEX trouxeram às empresas e às novas escolas que se vieram a constituir uma enorme salto qualitativo em termos técnicos e artísticos.
Entretanto começaram a surgir os primeiros cursos superiores em design de moda: IADE (Lisboa,1984) e Faculdade de Arquitectura de Lisboa. A formação artística sobrepunha-se à formação técnica. Numa vertente técnica e articulada com a industria surgem os cursos de engenharia textil na Universidade da Beira Interior e na Universidade do Minho.
Alguns jovens desde finais dos anos 70 que haviam procurado no estrangeiro, sobretudo em Inglaterra (Central St. Martins), obter uma formação nesta área deram também, nos anos 80, um importante contributo nesta área. Alguns nomes de criadores portugueses, como Manuela Gonçalves, Helena Redondo, Zíugnio, Ana Salazar, José Carlos entre outros, deram rosto a este movimento.
Este movimento de renovação foi articulado com realização de feiras e eventos de grande dimensão, como a Portex (1977, Porto), Filmoda (1983)/Intermoda (Lisboa), Forum Moda (1987), os quais ajudaram a promover os novos criadores e as escolas emergentes.
Outros eventos paralelos, embora de menor dimensão, como as "Manobras de Maio" (1986) que se institucionalizou com a Moda Lisboa (1991) ajudaram a popularizar o movimento. O próprio Museu do Traje (inaugurado em 1977) nos anos 80 mostrou-se parricularmente ativo na promoção de eventos dedicados ao jovens criadores. O ICEP, de modo exaustivo depois de 1987 passou a promover a presença de criadores e empresas no estrangeiro em certames internacionais.
Foi também uma época em que surgiram várias publicações, os jornais de grande difusão passam a dedicar à moda secções especializadas. Numa vertente mais técnica, o CIVEC lança da revista "Vestir" e Greta Statter fecha a década com a criação do Gabinete deCentral St. Martinsprensa e Moda (1991).
Ultrapassada a fase de pioneirismo, típica dos anos 80, sobretudo a partir do século XXI, os desafios são outros, porque os contextos são também outros. Disso falaremos um dia.
Carlos Fontes |