CENTRO DR. ANTÓNIO FLORES
Gaspar
Santos* e José Teixeira**
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O Centro
Dr. António Flores para tratamento de dependências do alcool começou a funcionar
em 1966. Tendo desde início autonomia
técnica.
A sua
construção foi financiada pela Fundação Calouste Gulbenkian em 1963, e situa-se
junto à Av. do Brasil na parte mais a sul e poente do parque ocupado então pelas
instalações do Hospital Júlio de Matos.
Este
centro tem consulta externa, trata doentes em regime ambulatório, isto é,
acompanha periodicamente doentes sem internamento. Abriu com capacidade de
internamento de 30 doentes de sexo masculino e 10 do sexo feminino em unidades
hospitalares diferentes. Posteriormente, por unificação numa só unidade
hospitalar passou para 20 homens e 10 mulheres.
Os
doentes que assiste são alcoólicos. Doentes portadores de outras
toxicodependências, só trata, excepcionalmente, quando aliado à
toxicodependência o doente sofre também de alcoolismo.
Os
médicos, enfermeiros e assistentes sociais, pessoal administrativo e auxiliar
foram recrutados no HJM.
O
primeiro director foi Dr. Pompeu de Oliveira e Silva e, por sua morte, o Dr.
Artur Pistachini Galvão e a seguir a Drª Maria Odília Castelão.
O
primeiro enfermeiro chefe da parte masculina foi Vergílio Duarte Ribeiro, o
segundo foi enfermeiro chefe Cândido Barata e o terceiro o enfermeiro chefe
Brito.
Sendo da
parte feminina a primeira enfermeira chefe Júlia Marques.
A
primeira assistente social foi Elisa Cruz.
Em 1988
foi criado nas mesmas instalações o Centro Regional de Alcoologia de Lisboa
(Dec. Regulamentar nº 41/88 de 21 de Novembro). Uma mudança de nome e passagem a
autonomia técnica e administrativa sem prejuízo dos direitos do pessoal que
pertencia ao HJM. Mas inicia-se uma nova etapa, neste e nos Centros Regionais de
Alcoologia de Porto e de Coimbra, que tem a ver com a prevenção, conforme com o
Artº. 2º. que se transcreve:
“
Os Centros visam a prevenção dos problemas ligados ao álcool e a coordenação das
actividades no âmbito da alcoologia e tratamento nas respectivas zonas e
desenvolverão a sua actividade em articulação com as administrações regionais de
saúde e centro de saúde nelas integrados, com hospitais psiquiátricos e centros
de saúde mental, com institutos de clínica geral e com outras instituições e
grupos responsáveis pela saúde e bem estar da comunidade.”
Modelo terapêutico
A
terapêutica baseia-se em desintoxicação, acompanhamento psicológico desabituação
e reinserção social.
Na
entrada do doente há um período de desintoxicação, com hidratação e nutrição com
injecções de soros e vitaminas. Respeitando sempre abstinência total de bebidas
alcoólicas. Esta fase nos casos de doentes fisicamente mais conservados terá uma
duração de pouco mais de uma semana. Sendo mais demorada se o doente já tem uma
acentuada degradação física.
Acompanhamento psicológico
Desde a
primeira consulta e internamento, se for este o caso, um médico psiquiatra
ocupa-se do doente, colhendo todas as informações clínicas, seguindo o doente e
prescrevendo os tratamentos até à alta, e com as recomendações para a reinserção
social.
Desabituação
Desabituação consiste em criar no doente repugnância ao tipo de alcool que
habitualmente bebia. Quando o médico entendia, preparava o doente para aceitar
esta fase do tratamento. Mas nem todos os doentes a faziam.
Esta era
feita em sessões com a frequência que o médico prescrevia. Começava cada sessão
por uma injecção de Apomorfirna. Depois fazia-se uma reunião de grupo
supervisionada pelo médico e a presença de enfermeiro. O grupo era constituído,
conforme o número de doentes necessitados, por cerca de cinco doentes.
A fraca
iluminação da sala e o cenário que se preparava era tanto quanto possível
nauseabundo, para gerar no doente repugnância. Reuniam sentados em torno de
baldes individuais para onde vomitavam. Em mesa ao lado estavam copos e o tipo
de alcool (cerveja, vinho branco ou tinto, aguardente etc.) que cada doente
habitualmente bebia.
Quando
era suposto a injecção já ter produzido efeito, cada doente começava a ingerir o
seu copo e a ter arranques de vómito. Se vomitava muito bem, continuava a beber
e a vomitar, se não vomitava era-lhe deitada uma ampola de Emetina num copo de
água para forçar o vómito.
Há
variantes a esta forma de criar o reflexo de repugnância ao alcool:
- Uma é
por via hipnótica sugerir a provocação do vómito, sem a aplicação de fármacos,
com a ingestão de bebida durante a sessão de grupo. Que porém não teve muito
êxito.
- Outra
é a tomada de comprimidos de Antabus durante vários dias e sem recorrer à
sessão de grupo com ingestão de bebida. Mas que não teve muita prática corrente
neste Centro. É mais destinada a doentes que se tratam em casa.
Reinserção Social
O
regresso ao meio familiar e ao trabalho era preparado e acompanhado pelo serviço
social junto das famílias e das empresas a quem era dita e explicada a
necessidade de futuras consultas periódicas para prevenir recaídas.
Em traços
largos o método terapêutico é hoje o que descrevemos. Já é antigo, de mais de
meio século. Mas a sua aplicação e o uso que os clínicos dele fazem tem-se
aperfeiçoado em face da experiência que se acumulou. Naturalmente de acordo com
a personalidade do doente e os danos corporais e psíquicos já produzidos pelo
alcool. E ainda da experiência e perícia do cada médico.
Gaspar
Santos* e José Teixeira**
*Engenheiro reformado da EDP. Enfermeiro no HJM entre 1956 e 1965.
** Enfermeiro
Chefe aposentado HMB. Enfermeiro no Centro Dr. António Flores desde a sua
abertura.
Rua Prof. António Flores na Cidade Universitária de Lisboa (Alvalade)