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Público, 1 de Julho de 2004.
Jardins
da Freguesia de São João de Brito ao Abandono
Por DIANA RALHA
Quem entra na Avenida dos Estados Unidos da América,
vindo do Aeroporto de Lisboa, está longe de adivinhar, pelo que encontra à
vista desarmada, que esta é uma das zonas mais inflacionadas da capital, em
termos imobiliários. Actualmente, o cenário dos espaços verdes nesta avenida
de Lisboa situa-se, metaforicamente, entre a "paisagem lunar" e o
"bairro de lata" - o verde dos jardins foi substituído por uma
desoladora cor de palha, por falta de rega, os equipamentos de lazer ou não
existem ou estão degradados, e o lixo acumula-se.
Todos os anos, no Inverno, caem árvores na
Estados Unidos da América, que acabam por sucumbir às privações de água
durante o Verão, explica uma moradora: "O ano passado caíram dois chopos
no Inverno e, se não tivesse sido um vizinho a aproveitar a lenha, ainda aí
estariam caídos no jardim", queixa-se Margarida Oliveira, moradora do número
22. "Taparam as bocas de rega há mais de dois anos e desde aí estes
jardins nunca mais foram regados", lamenta.
Um pouco mais à frente, na Avenida Rio de
Janeiro, o quadro é idêntico: não há tanto lixo espalhado, mas as raquíticas
árvores, plantadas após a construção de estacionamento pago, estão mortas.
Continuando caminho, até à zona do Mercado de
Alvalade Norte, o lixo acumula-se nos vários canteiros e a vegetação que
sobrevive resume-se a ervas daninhas. Ali muito perto, as árvores da Avenida da
Igreja sobrevivem todos os verões sem uma gota de água.
Situações caricatas
O cenário é desolador e todos estes espaços têm
uma semelhança: situam-se na freguesia de São João de Brito. Esmeraldo Cruz,
vice-presidente da autarquia, descarta responsabilidades quanto à degradação
dos jardins da Avenida Estados Unidos da América. "Nunca esteve a nosso
cargo. É da responsabilidade da câmara."
O gabinete da vereadora dos Espaços Verdes e
Juventude, Ana Sofia Bettencourt, confirmou esta indicação ao PÚBLICO, mas
também fez notar que a Avenida dos Estados Unidos da América, devido à sua
grande extensão geográfica, pertence a três juntas de freguesia distintas -
Campo Grande, Alvalade e São João de Brito - e que apenas São João de Brito
não quis protocolar com a Câmara Municipal de Lisboa (CML) a transferência da
manutenção dos espaços verdes para a sua competência directa.
De facto, a situação chega a ser caricata:
diariamente, a junta de Alvalade rega o separador central de trânsito da
avenida e, do outro lado da rua (que pertence a São João de Brito), todos os
jardins estão a morrer de sede. A CML garantiu ao PÚBLICO não ter registo de
qualquer reclamação naquela zona e disse estar a substituir os sistemas de
rega um pouco por toda a cidade.
A junta de freguesia não está interessada em
resolver ela própria o problema. "Realmente, não estamos
interessados", disse ao PÚBLICO Esmeraldo Cruz, acrescentando, também, o
desinteresse da junta no que diz respeito aos espaços verdes da Avenida Gago
Coutinho, que também estão ao cargo da CML.
"Não temos capacidade para suportar a sua
manutenção", disse o autarca, acrescentando que existem 40 mil metros
quadrados de espaços verdes na freguesia e que a junta só tem dois
jardineiros.
Relativamente às avenida Rio de Janeiro e da
Igreja, essas sim a cargo de São João de Brito, a junta justifica a degradação
e abandono dos espaços verdes pela falta de contadores de água que, segundo
Esmeraldo Cruz, têm que ser pedidos à EPAL pela CML.
Segundo o vice-presidente da junta, existe um
pedido de fornecimento de água à câmara: "O engenheiro João Paulo, da
CML, está a fazer o projecto para apresentar à EPAL", precisou.
Contactada pelo PÚBLICO, a CML disse desconhecer tal pedido.
Segundo Esmeraldo Cruz, a junta já construiu
toda a estrutura de rega na Avenida da Igreja, faltando apenas onde ir buscar a
água. "Não ligamos a água clandestinamente", garantiu o
vice-presidente da junta de São João de Brito. Devido ao impasse burocrático,
a vegetação da freguesia vai morrendo aos poucos. |