Leituras de Inverno

Por dever de ofício lemos e resumimos a segunda revista que o actual executivo publicou: Alvalade, nº. 26 (Dez. 2022-Mar. 2023). Confessamos que é uma penosa tarefa não pela densidade dos textos, mas pelo inquietante entendimento que o executivo faz dos fregueses de Alvalade.

"E aqueles que por obras valerosas / Se vão da lei da morte libertando" (Camões, Lusíadas Canto I ),

1. Homenagens. O actual presidente da Junta almeja aprender alguma coisa com os "imortais", para deste modo também não ser esquecido. Quer ser lembrado no partido, amigos ou entre os fregueses nas próximas eleições. Pouco importa se os homenageados nada tenham feito pela melhoria da qualidade de vida na freguesia. O que procura, assim o entendemos, é um contacto físico com os imortais, e que seja devidamente documentado, com registos fotográficos, videos, posts e outros material. O ideal seria em granito era menos perecivel. O pretexto que arranjou para estes contactos transcendentes, como podemos observar na revista, tem sido o de andar a distribuir medalhas de "honra", de "mérito" ou de "bons serviços", a mandar pintar paredes de "imortais" como Paulo de Carvalho ou a encomendar um busto para "imortalizar" outro dos "imortais" Ruy de Carvalho. Tudo bem encenado, acompanhado e serviço por profissionais competentes. Estas homenagens a imortais e outros nem tanto, ocupam dezassete páginas da revista.

Oito páginas são também dedicadas a pessoas que trabalham na freguesia, a maioria não teve direito a nenhuma medalha, nem a uma pequena festinha. Pertencem ao comum dos mortais.

2. Terceira Idade. O leitor mais atento ao ver a capa da revista terá pensado que seria finalmente revelado o que tem sido feito para apoiar os mais idosos na freguesia. A fotografia na capa da senhora Zulmira Oliveira de 91 anos de idade, padeira na Travessa Henrique Cardoso (medalha de bons serviços) conduz naturalmente a esta ilação. Depois porque o actual presidente da Junta e a filha de Ruy de Carvalho, com o pelouro dos "Direitos Sociais" prometeram mundos e fundos para apoiar os idosos. Por mais que vasculhemos por acções consistentes que tenham sido realizadas, o que conseguimos descobrir foram anúncios. De "obra" encontramos apenas as habituais referências às actividades dos "Briosos", e à sua possível mudança de nome, em 2023, para Universidade Sénior de Alvalade. Uma nota especial vai para a sessão número 607 com o "inesquecível" e "imortal" ator Ruy de Carvalho.

3. Educação: 1º. Ciclo. Ficamos a saber que uma vez por mês, as crianças de quatro escolas de Alvalade tem uma sessão de programação informática, robótica, design, aulas experimentais de física, química e biologia. Tudo em bloco? Não sabemos. Tem igualmente sessões mais esporádicas de música dirigidas a alguns alunos do 1º. e 2º. ciclo. Segundo a opinião da neucientista Ana Rita Costenla (vogal da educação) tem sido já importantissimas para o estabelecer novas conexões neuronais. A crer nos escreventes da revista, os alunos que tem estes curtos contactos mensais, afirmam que é o dia mais feliz para eles. O que permite até aos professores fazerem chantagem com os mesmos: ou de portas bem nas aulas ou não vais à robótica. Mais modestas são as referências às habituais férias das crianças e à "oficina" do vogal do desporto (uma espécie de clube privativo do vogal).

4. Espaços Públicos. O prato forte da revista é a entrevista com o vogal dos Espaços Públicos, Equipamentos, Economia e Inovação. O nome é grande para tão modestos resultados. É sabido que este excutivo secundarizou a intervenção nos espaços públicos, por isso não é surpresa que este vogal tenha apenas promessas para apresentar ao longo de oito páginas. Promessas de intervenções que nem sequer são da responsabilidade da Junta de Freguesia, mas sim de Carlos Moedas, actual presidente da Câmara Municipal de Lisboa. A sua concretização é da competência da CML. A única obra que a Junta se compromete a realizar, é na "requalificação" dos espaços verdes do Bairro das Estacas, que alguns moradores vandalizaram nos últimos meses (Até fins de Fevereiro de 2023 nada fora requalificado).

Posições Partidárias

Este interessante espaço da revista permite-nos perceber o que andam a fazer os eleitos na assembleia de freguesia. Os representantes do PSD, com grande coerência, referem as promessas e realizações de Carlos Moedas. Não tem nada a dizer sobre a actividade da Junta. O CDS-PP, um partido em extinção, mostra-se precupado com a situação do Colégio Eduardo Claparède. Preocupação que partilhamos. Entre os apoiantes do actual executivo, as posições são pouco dispares: a IL, mostrar-se-ía satisfeita se o lixo acumulado por todo a freguesia fosse removido. A isto se reduz o seu discurso liberal (!). Mudar Alvalade desde que a dívida para com a Junta lhe foi "perdoada" passou a centrar a sua atenção em problemas que são da competência do governo e não das Juntas de Freguesia. As suas inúmeras medidas para revolucionar Alvalade desapareceram por magia. O Chega, repete o seu habitual discurso securitário, sugerindo que estamos à beira de uma guerra civil que irá devastar Portugal, fruto de uma cabala internacional. A Oposição insiste em outros temas: o PS apela que o membros da Junta andem pela freguesia, a observarem situações que carecem de melhoria ou solução. Duvidamos do resultado, pois é uma tarefa que dá trabalho. O PCP-PV, centra-se na higiene urbana e na falta da mesma. O Bloco, mais apagado do que nunca, refere o "Bairro dos 15 minutos". Diz estar atento, nomeadamente ao abandono do bairro da Boa Esperança, ao pavimento que falta na Mata (José Gomes Ferreira) e às velocidades praticadas em áreas residenciais.

Janeiro de 2023