Dá-me Música

A Junta de Freguesia distribuiu em meados de Outubro o nº. 28 da revista Alvalade (Agosto/Novembro de 2023). No total são mais de 17 mil exemplares, o que dá uma revista por cada dois habitantes. É muito papel. Da leitura do seu conteúdo, trouxe-nos à memória a conhecida canção interpretada por Ruth Marlene - Dá-me Música. O prato forte da revista não é a freguesia, os espaços públicos, mas espectáculos, festas, cerimónias de entrega de medalhas, festas de carnaval, marchas populares e outros eventos similares promovidos pelo actual executivo da Junta (2021-2025). Faz pois todo o sentido, a fotografia de José Cid na capa.

Quanto ao resto, a informação embora escassa, não deixa de ser relevante. Eís a síntese indispensavel do seu conteúdo.  

- Higiene Urbana. A vogal responsável pelo pelouro, "fazedora e operacional", como a si própria se considera,  coordena nesta área uma equipa de 16 pessoas que coordenam por sua vez o trabalho dos 41 operacionais, os únicos que andam na rua a limpar o lixo. Apesar desta enorme coordenação, e das suas superiores capacidades,  admite que a limpeza das ruas piorou na freguesia.  As razões para esta consensual situação são duas: a primeira foi a Pandemia que quebrou rotinas de limpeza. Os fregueses estão cada vez mais desleixados com a higiene urbana. A outra razão, não menos importante,  é a multidão de turistas inundou Alvalade e emporcalha as ruas. A questão é tanto masi estranha, quando um quadro na pag. 46, informa o leitor que o orçamento para a Higiene Urbana não tem parado de aumentar. Aparentemente estamos perante uma gritante falta de eficiência. A solução todavia, segundo a vogal, passa por contratar mais trabalhadores para a limpeza das ruas, adquirir mais máquinas, remodelar o posto das Murtas, aumentar o número de coordenadores e eventualmente contratar um ou outro assessor para a coordenação geral. É muito trabalho para a vogal.

- Avareza. Nuno Lopes, o lider do grupo Mudar Alvalade, membro da assembleia de freguesia e presidente do Clube de S. J. Brito, escreveu uma das tiradas antológicas desta revista. Na página 64 da revista, afirma que os dinheiros públicos devem ser gastos com eficiência, o que não está a ser feito. Começa por dar como exemplo, a forma como tem sido financiado os ATLs (ocupação dos tempos livres nas escolas). Um violento ataque à vogal do CDS que anda a esbanjar dinheiro com aulas de robótica para a criançada. Pede rigor na aplicação dos dinheiros públicos. Não se fica por aqui, critica o dinheiro que a Junta atribuiu à MUSSOC. Foi dinheiro desbaratado, atirado à rua, quando se sabe que o número de beneficiados era inexpressivo. A JF de Alvalade desde 2016 apoiava um programa desta associação destinado a crianças e jovens do Bairro Fonsecas e Calçada com problemas de inclusão social (Projecto Selfie, Torneio FootALL ). Em 2021 recebeu 33.339, 20 euros; 2022 - 31.830, 77 euros e em 2023 - 21.780 euros (proposta 104/2023). A 27/07/2023 os apoios foram cancelados.  

Quem fala assim, dir-se-á que prima pela lizura, o que não parece ser o caso. Como é sabido, o Clube a que preside foi posto em Tribunal pela Junta de Freguesia de Alvalade e pela  Câmara Muncipal de Lisboa por ineficiência na aplicação de dinheiros públicos. A Junta reclamou a devolução de verbas, a Câmara pediu uma indemnização. A verdade é que Nuno Lopes, tem prestado um apoio fundamental à manutenção do actual executivo da Junta (2021-2025), e este tem-lhe sido generoso: primeiro resolveu-lhe a questão das dividas, e agora prometeu-lhe um importante subsídio para o Clube pôr as crianças das creches a nadar... Moral da História: Nuno Lopes quer tudo só para ele?

- Opiniões. As entrevistas com ilustres personagens da Freguesia, ajudam a criar nos leitores a ideia de um amplo consenso em torno do executivo. 

Maria José Morgado, ao longo de seis páginas, diz que mora desde 1993 na Rua Conde de Sabugosa. Sobre o bairro onde vive, sem rodeios, afirma "nunca tive muito tempo para pensar no bairro". Tem pena do desaparecimento nas ruas do "comércio variado". O Ginásio e o jardim que frequenta são ambos de outra freguesia. 

Maria Emília Monteiro, investigadora, em seis páginas, desabafa que só descobriu o Bairro após a chegada de um neto e dois familiares séniores vindos da beira interior. Lança a ideia uma ideia deveras inovadora: transformar Alvalade num "lugar" de equilibrio entre gerações, de crianças e animais, migrantes e habitantes, residentes e trabalhadores  e ... de transportes e poluição (!!!!). 

José Cid, não mora em Alvalade, mas teve direito a 9 páginas. Um fartote.  À pergunta se tinha ligações a Lisboa e a Alvalade? A resposta foi directa: "Sou um cantor do mundo. Sou cidadão de Alvalade ou da Foz do Porto." Foi pago para cantar num arraial, quanto ao resto não contém com ele.

- Fotografias.  As fotografias desta revista são verdadeiramente memoravéis. Dizem muito sobre o não dito nos textos. A pose vogal junto a uma carrinha de recolha do lixo é digna de ser comentada. José Amaral Lopes (pag.39) com uma fatiota de "padrinho" da marcha infantil é muito significativa da sua ansia de notoriedade. Este são apenas dois dos exemplos que merecem uma análise detalhada.