Breve História da Freguesia de Alvalade

 

 

Introdução. Idade Média . Idade Moderna

  Século XIX.  Século XX. Hoje

 

Introdução

O que distingue a actual freguesia de Alvalade no concelho de Lisboa?. Um grande projecto de urbanização do Estado Novo? A elevada concentração de estabelecimentos de ensino superior? É tudo isto e seguramente muito mais. A longa história de Alvalade não permite semelhante interpretação.  

A breve história da freguesia de Alvalade de que nos vamos ocupar, não é por certo alheia a esta problemática, a que os historiadores designam por "reconstrução social do passado": os povos estão sempre a reconstruir as suas memórias, a reinterpretar os factos à luz dos seus interesses actuais. As memórias dos lugares são sempre selectivas e intencionais. Procuram veicular uma dada imagem que valoriza a auto-estima dos que neles habitam. 

Numa visão diacrónica, podemos distinguir quatro momentos na história dos campos de Alvalade.

O primeiro que se estende até meados dos século XIX, é marcado pelo facto destes campos funcionarem como uma zona estratégica para a entrada na cidade e abastecimento dos habitantes.

O segundo até meados do século XX, é caracterizado pela sua progressiva integração na cidade, funcionando agora como um espaço de reserva para a expansão da malha urbana. A sua reduzida ocupação de construções e proximidade núcleo histórico da cidade, permite a sua utilização intensiva como um espaço de recreio e de desportos.  

O terceiro momento ocorre nos anos quarenta e cinquenta do século XX, quando se produz uma rápida urbanização e criação de um "campus universitário" que alteram por completo a fisionomia da zona. Alvalade é então sinónimo de classes médias e de elevados padrões de qualidade de vida no contexto lisboeta. 

O quarto momento, o vivido actualmente, é marcado por uma situação de encruzilhada: ou se prossegue no caminho da degradação urbana, ou se empreende a requalificação desta zona. A situação apresenta-se repleta de sinais contraditórios, não se vislumbrando nenhuma lógica de actuação que não seja a especulação imobiliária, ou, como no caso da cidade universitária, o simples aproveitamento do espaço disponível para novas construções. 

Estas páginas são mais do que uma história possivel de Alvalade, constituem igualmente um pretexto para um debate sobre o local que marcou e marca as vivências dos seus moradores.

A CGD em 1995 recuperou a lápida que assinavalava a "batalha", construiu  um pequeno jardim- auditório ao ar livre e ofereceu igualmente uma escultura  - Vice-reis da India a Cavalo da autoria de Luís Pinto Coelho. Foto:10/09/2021

Idade Média

Alvalade durante a Idade Média não passava de uma zona dos arredores de Lisboa, sem nada que a distinguisse de outros arrabaldes.  Fazia parte do termo da cidade que se constitui depois da reconquista em 1147. A administração de Lisboa não se limitava à area intramuros, urbanizada, abrangia um vasto território com vilas, aldeias e lugares dos arrabaldes. Em 1385, por exemplo, faziam parte do termo de Lisboa, a Vila de Sintra, a Vila de Torres Vedras, a Vila de Alenquer, Vila Verde, Colares, Ericeira e Mafra. Este território foi sendo alterado ao longo dos tempos, mudando a administração de Alvalade.    

Alguns aspectos relevantes que irão marcar os campos de Alvalade durante séculos.

Real Estrada

Nas ligações de Lisboa ao norte existam duas "estradas" principais que se mantiveram até ao século XX: uma estrada a Leste que passava pelo Pote de Água e outra a Oeste que percorria o Campo Grande. A primeira veio a bifurcar-se na chamada Estrada da Charneca e na Estrada da Portela de Sacavém.  A última era a antiga estrada romana que ligava Lisboa a Braga, atravessava o actual Campo Grande em direção a Loures,  Torres Vedras ou Santarém.

Abastecimento de Lisboa. Proprietários

Alvalade, situada num planalto possuia terrenos bastante férteis, assumindo a sua vocação de abastecimento de Lisboa, nomeadamente em vinho, azeite e vegetais. 

Após a reconquista da cidade (1147) os reis deram estes terrenos a igrejas e mosteiros, mas também a particulares. O Mosteiro de S. Vicente de Fora desde 1208 era o grande detentor dos terrenos de Alvalade, por doação ou aquisição, seguindo-se o Mosteiro de São Félix e Santo Adrião de Chelas. Os mosteiros de Almoster e da Graça tinham aqui também grandes propriedades. 

Até ao século XVI não temos neste local nenhuma povoação. Um topónimo continua por localizar - Benalfarzom ou Benefarzom, que ficaria nos limites de Alvalade, mas na sua dependência. Na vizinhaça  sobressaiam as povoações do Lumiar e das Telheiras.    

Paróquia

A primeira paroquia dos moradores de Alvalade foi a de Santa Justa na cidade de Lisboa. A mudança ocorreu em 1276, quando por decisão do Bispo de Lisboa D.Mateus constituiu-se a Paróquia de São João Baptista do Lumiar, cujo território abrangia os lugares de Alvalade, Ameixoeira, Carnide, Charneca, Concha, Lumiar, Palma e Telheiras. Temos noticias, ainda que vagas, da criação em Alvalade de pelo menos uma Ermida, cujo orago desconhecemos.

Campo Militar

A posição estratégica do Campo Grande, integrado num planalto, à entrada de Lisboa conferiu-lhe uma grande importância militar, de que são exemplo os seguintes: A posição estratégica do Campo Grande, integrado num planalto, à entrada de Lisboa conferiu-lhe uma grande importância militar, de que são exemplo os seguintes:

A célebre Contenda no Campo de Alvalade em 1323, onde estiveram prestes a confrontarem-se as forças de D. Dinis e as do infante D. Afonso (futuro Afonso IV), seu filho. Sendo herdeiro legitimo do trono e receando ser espoliado pelos seus irmãos revoltou-se contra o seu pai. Graças à intervenção da rainha Dona Isabel a guerra foi evitada. No local (Arco Cego) foi colocada uma lápida a assinalar o acontecimente, vandalizada no final do século XX.

Durante a crise dinástica de 1383/85, as forças castelhanas quando se dirigiam para cercaram Lisboa, em 1384, estiveram acampadas nos campos de Alvalade.

Estes acontecimentos colocam em evidência a localização estratégica desta zona para quem entrava ou saía da cidade de Lisboa.

Carlos Fontes

Continuação