24 horas com aviões sobre o céu de Lisboa

 

Aumento Exponencial da Poluição em Alvalade

O aumento do trafego aéreo no Aeroporto de Lisboa tem graves consequências para a população de Alvalade: o aumento da poluição sonora e atmosférica, mas também um elevado risco de potenciais acidentes na aterragem e deslocagem.

Quando em 1969 o número de passageiros atingiu os 2 milhões/ano, o goveno da altura mandou estudar a deslocalização do aeroporto da Portela para a margem sul. Ao longo dos anos avançou-se com multiplas hipóteses para sua localização, a sul e a norte do Tejo, mas nenhuma decisão foi tomada.

Em 2008, o governo de José Socrates, com base em estudos do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, determinou que o novo aeroporto ficaria em Alcochete. A crise económica internacional que ocorreu neste ano, provocou uma mudança de governo. O governo de Direita que acabou empossado, em 2012 vendeu a ANA, a empresa pública geria os aeroportos do país, a uma multinacional (VINCI), cuja concessão termina em 2072 !. A partir desta data deixou de falar-se da saída do aeroporto de Lisboa. A única opção que passou a ser referida é Portela + Montijo. A VINCE pretende, como é obvio, explorar ao máximo o aeroporto de Lisboa, independentemente das suas consequências para a saúde e segurança da população de Lisboa.

O trafego aereo não tem parado de aumentar. Em 2015 o aeroporto registou um movimento de 20,1 milhões de passageiros, impulsionado pelo turismo e as companhias de Low Cost. Em 2016 registou 22,4 milhões de passageiros, números que em 2019 ultrapassavam os 30 milhões. Para dar resposta a esta procura a VINCI aboliu a segunda pista, diminuindo a segurança, nomeadamente em ventos cruzados.

A Pandemia durante 2020 e uma parte de 2021 implicou uma enorme redução do tráfego aéreo, mas rapidamente tudo está a voltar aos valores pré-pandémicos.

Para os habitantes de Alvalade estes números reflectem-se numa degradação da sua qualidade de vida, não apenas pelo aumento do barulho e poluição dos aviões e dos transportes de e para o aeroporto.

A utilização do aeroporto militar do Montijo para voos civis não irá parar o aumento do trafego aéreo em Lisboa, muito pelo contrário. O aeroporto do Montijo será sempre uma solução provisória, ainda que lhe sejam construidas não uma mas duas pistas. Um opção com brutais custos ambientais.

Entretanto, uma coisa é certa, a freguesia de Alvalade, com os seus 33 mil habitantes, tornar-se-á progressivamente na mais barulhenta e com pior qualidade de ar na cidade de Lisboa, sem que tenha qualquer compensação por ter um aeroporto dentro de portas.

"Porque é que o aeroporto precisa sair da Portela ?"

A CDU (PCP/Os Verdes) resolveu retomar na pré-campanha para as legislativas de 2022 a questão que havia colocado em Alvalade nas eleições autárquicas: a saída do aeroporto de Lisboa ( consultar ). Uma questão pertinente e da maior importância para os habitantes da freguesia de Alvalade. O debate que decorreu no Centro Civico Edmundo Pedro no 15/12/2021, serviu sobretudo para relembrar questões que não podem ser ignoradas. O eterno candidato João Ferreira elencou os maleficios e perigos de um aeroporto no centro da cidade. O ex-deputado Bruno Dias disse que depois da ANA ser privatizada pelo governo de Passos Coelho (2012) deixou de falar-se da saída do aeroporto de Lisboa. Uma saída que estava em estudo desde 1969 !. A VINCI, a multinacional que ficou com a ANA tem uma concessão até 2072, e a sua única preocupação, legitima numa lógica capitalista, é explorar ao máximo o aeroporto da Portela, maximizando a concessão e os lucros. Tudo o mais é secundário. Por esta razão, passou falar-se apenas da opção Portela+Montijo, ignorando a questão da saída de Lisboa. A novidade para o debate veio de um convidado que apresentou documentos que comprovavam que os novos estudos incidiam agora sobre a construção não de uma mas de duas pistas no Montijo. O objectivo seria transformar o Montijo no principal aeroporto e a Portela num aeroporto complementar. Uma opção que mitiga o problema mas não o resolve , apenas o adia a contento da multinacional que explora os aeroportos de Portugal.

 

Arquivo

Afinal não saí ! será ? (2008)

Problemas de um aeroporto dentro da cidade

Ninguém dúvida que um aeroporto internacional dentro da cidade de Lisboa é um perigo permanente para todos os seus habitantes. Os riscos da queda de um avião, dos muitos que diariamente atravessam a cidade, é uma ameaça séria de mais para ser ignorada.

Segurança

Cerca de 70% dos acidentes de aviação ocorrem durante a descolagem e aterragem. Lisboa é a única capital europeia que é permanentemente sobrevoada por aviões. A saúde da população corre graves riscos resultantes da poluição sonora e atmosférica, mas também em termos de segurança.

Poluição Atmosférica

Lisboa está a transformar-se numa das cidades mais poluídas da Europa. O tráfego automóvel é a principal causa. A poluição devida ao trafego aéreo atinge valores igualmente preocupantes , nomeadamente  nas zonas junto ao aeroporto (freguesias de S.João de Brito, Campo Grande, etc).

Poluição Sonora

Em certas zonas da cidade, junto ao aeroporto, o ruído atinge os 90 décibeis quando o limite máximo permitido é  45. O tráfego aéreo está condicionado durante 10 horas por dia, devido a exigências comunitárias. 

As construções em curso, nomeadamente na zona do Alto do Lumiar irão aumentar todo estes riscos e impactos negativos.

Limitações

O Aeroporto de Lisboa, na Portela, está à beira de atingir o seu limite de capacidade (passageiros, mercadorias, etc), aumentando também os riscos nas deslocagens e aterragens resultantes do congestionamento do tráfego. 

Pressão Urbanística

No Alto do Lumiar, muitos dos edifícios em construção para cerca de 50 mil pessoas, situam-se a menos de 300 metros do Aeroporto da Portela. 

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Vantagens de um Aeroporto dentro da Cidade

Os que se opõe à saída do aeroporto de dentro da cidade de Lisboa, tem alegado as seguintes razões:

- Vantagem competitiva face a outras cidades europeias:  o aeroporto de Madrid fica a 13 kms da cidade, Paris/Orly a 14 kms, Londres/Heathrow a 24 kms, Roma a 26kms, Berlim a 8 kms, Bruxelas a 12 kms, Budapeste a 24 kms, Viena a 6 kms ... (Na Europa vários aeroportos estão situados a mais de 40 kms de grandes cidades como Paris (Charles de Gaulle), Milão, Estocolmo, etc.. A OTA não seria um caso isolado).  

- O turismo (hotelaria e viagens ) é o sector mais beneficiado com a actual localização. 

- Os residentes nos Açores e Madeira, que têm de se deslocar frequentemente a Lisboa para tratar dos mais variados assuntos, chegam mais depressa ao destino.

. Portela. Os defensores da continuação do aeroporto da Portela insistem que o mesmo tem ainda capacidades de expansão, nomeadamente para a zona do aeroporto militar de Figo Maduro, Aeródromo de Trânsito nº.1, barracões da CML, etc. 

Apresentam os seguintes argumentos para a sua manutenção neste local:

1. A poluição atmosférica e sonora é "suportável" se tivermos em conta as vantagens económicas (turismo, negócios);

2. Os riscos para a população não são relevantes;

3 . A capacidade do aeroporto está longe de estar esgotada, a solução está numa melhor organização do aeroporto, eliminando as deficiências no transporte das malas e dos passageiros nas pistas, o tempo desmesurado nos check-in,etc);

4. Os "picos" de tráfego reduzem-se a dois períodos durante o dia ( de manhã e ao fim do dia);

5. É irrelevante que na Portela não possam aterrar já hoje os maiores aviões do mundo, podem sempre fazê-lo em Beja.    

Alternativas

. Ota. Zona situada a 40 km a norte de Lisboa. A distância implica um custo acrescido para os passageiros que se dirigem para Lisboa. A zona é muito sensível em termos ecológicos, mas também geológicos. É atravessado por dois rios e uma ribeira. As terraplanagens levarão pelo menos 3 anos. 

Argumenta-se igualmente que o corredor entre Lisboa e a Ota irá ser completamente edificado, criando-se um contínuo de betão.

Em termos de transportes a Ota ficará muito bem servida por redes de auto-estradas e comboios de alta velocidade. 

. Rio Frio, Poceirão, Montijo. Zonas situadas na margem sul do Rio Tejo. Estas localizações tem graves problemas ambientais e logisticos, implicando sempre a construção de uma nova ponte sobre o Tejo. Para além do problema das aves, os solos são muito pouco consistentes, etc.

. Alcochete. Em Junho de 2007 é relançada esta localização como alternativa à Ota, também sitauda na margem sul do Tejo: 1.Não exige grandes terraplanagens; 2. Permite uma expansão ilimitada do aeroporto; 3. Os terrenos para construção são do Estado (cerca de 7 hectares do Campo de Tiro); 4. Está mais próximo de Lisboa do que a Ota; 5. O tempo de construção e o seu custo é inferior.  

. Portela  + Alverca, Montijo. Mantém-se o actual aeroporto e utilizam-se comercialmente outros aeroportos militares situados à volta de Lisboa para voos de baixo custo (low cost ). Os seus defensores afirmavam, em 2008, que com esta combinação a Portela atingiria os 18 milhões de passageiros anos e o Montijo os 4 milhões ( low cost ). Números que foram completamente ultrapassados em 2017 só no aeroporto da Portela !

. Cluster aeroportuário: a) Portela -voos de valor acrescentado; b ) Tires- Aviação particular; c) Beja (Alentejo) - Mercadorias e "charters" de baixo custo; d ) Montijo -manutenção; 

Nas opções que mantém a Portela coloca-se quase sempre a hipótese de concentrar em Beja todos os serviços de manutenção e treino aéreos, transferindo igualmente para este aeroporto as OGMA (manutenção) de Alverca.

A discussão (séria ) em Junho de 2007 interrogava-se sobre o que se pretendia com este novo aeroporto.

1. A OTA é uma boa opção para um novo aeroporto internacional;

2. Alcochete é a melhor opção para uma cidade aeroportuária, dada a capacidade ilimitada de expansão. A maioria dos analistas está de acordo num ponto: a continuação da Portela não é recomendável

.

 

Cronologia do Processo 

A ideia de mudar o aeroporto de Lisboa colocou-se pela primeira vez nos anos 60, Ainda durante a ditadura fizeram-se os primeiros estudos (1969) e chegou-se a anunciar a construção do novo aeroporto (1973). As localizações apontadas eram a Fonte da Telha, Montijo, Alcochete, Porto Alto e Rio rio, todas nas margem sul do Tejo.

 Após o regresso à democracia (1974), os estudos prosseguiram e no princípio dos anos 80 aparecem novas localizações: Santa Cruz, Ota, Azambuja, Alverca, Granja, Tires, Marateca. A questão eterniza-se e nenhuma decisão foi tomada.

Em 1994, durante o governo de Cavaco Silva, os estudos continuam, e perante o impasse avança-se para estudos de soluções de compromisso: Base Aérea do Montijo + Portela ampliada. Ninguém se entende.  

Durante o governo de António Guterres- PS(1995-2001) continuaram a  fazerem-se estudos e chegou-se a uma conclusão: era necessário construir um novo aeroporto. Foi escolhido o local ( Ota ) e encontradas fontes de financiamento. 

Em Novembro de 2003, o Governo do PSD-CDS revogou a interdição em todo o país de aterragens e descolagens nos aeroportos entre a meia-noite e as seis horas da manhã. Esta interdição, recorde-se, fora decretada em Maio de 2002, visando diminuir a elevada poluição sonora que se verifica nas cidades e em especial na de Lisboa.

Estamos assim perante um claro retrocesso nas políticas ambientais do país, que irá contribuir para a degradação da qualidade de vida nos bairros sobrevoados por aviões, como é o caso das Freguesias do Campo Grande, São João de Brito e Alvalade, mas também de muitos outros bairros que envolvem a Portela nos concelhos de Lisboa e Loures. ...

O Governo de Durão Barrroso(PSD/PP), pela voz do ministro das obras públicas Carmona Rodrigues (abril de 2003-julho de 2004), concluiu que não se justificava esta obra (Junho de 2003). As razões que apontou foram as seguintes:

O tráfego aéreo internacional está a diminuir e não é previsível que venha a crescer muito mais.

Os turistas preferem aeroportos perto dos centros das cidades e esta é uma vantagem competitiva de Lisboa.

O actual aeroporto tem ainda zonas para expansão (a zona militar) e com com alguns arranjos pode aumentar facilmente o número de passageiros (16 milhões por ano nos próximos tempos). 

Pouco interessa, nesta perspectiva, se os "arranjos" no aeroporto da Portela venham a custar mais do que a comparticipação do Estado português no aeroporto que seria construído na OTA. Também pouco interessa que o problema seja adiado e não resolvido. 

Os argumentos de Carmona Rodrigues não têm qualquer consistência, mas o mais grave é o que eles traduzem: um enorme desprezo pelos problemas dos moradores da cidade de Lisboa e uma total falta de visão sobre o seu desenvolvimento. As medidas deste ministro foram sempre erráticas e ao sabor dos interesses do momento. Cumpre não decide. A sua "especialidade" é a hidráulica (a água) não a gestão de um país.

É hoje muito claro a razão porque Durão Barroso, escolheu Carmona Rodrigues para Ministro das Obras Públicas. Ele foi escolhido para parar obras necessárias, não para as promover. Esteve no governo para obedecer e não para decidir. Na verdade quando foi vice-presidente da CML (1992-1993) todas as suas medidas foram marcadas por um constante improviso. Daí que os problemas de Lisboa, como o transito, continuaram e até se agravaram durante o seu mandato. (ver).

O Governo de Santana Lopes - PSD/CDS, durante seis meses foi pródigo disparates que envergonharam o país pela incompetência demonstrada. A OTA continuou a ser a localização preferida e a única a ser estudada em profundidade. 

Após as eleições de Março de 2005, o Governo de José Sócrates ( Partido Socialista) retomou o projecto da mudança do Aeroporto de Lisboa para a Ota. Pela primeira vez, o país parece ter alguém que neste domínio revela respeito pelas pessoas, capacidade de decisão e visão de futuro. Um dos problemas mais polémicos desta decisão foi a de interligar a construção do novo aeroporto com a privatização da ANA- Aeroportos de Portugalal

Em 2007 o PSD transformou a questão da localização do aeroporto na OTA, na principal bandeira da sua Oposição ao Governo de Sócrates, numa campanha onde se misturou informação e desinformação. .

Com o famigerado governo de Passos Coelho (PSD, 2011-2013), a construção de um novo aeroporto de Lisboa foi diabolizada e tendo sido suspensos todos os projectos. A empresa publica que geria os aeroportos nacionais foi vendida em 2012 a uma multinacional que se mostra pouco interessada em deslocalizar o aeroporto. Tem uma concessão até 2072.

Em 2016 o Aeroporto de Lisboa atingiu a sua capacidade máxima, começando a partir de 2017 a recusar novos voos. Cerca de 2 milhões pessoas, só neste ano, não poderão voar para Lisboa porque o aeroporto não tem disponibilidades de espaços para tantos aviões. A alternativa foi diminuir a segurança no aeroporto, abolindo a segunda pista...

Carlos Fontes

 

Os melhores locais para observar os aviões que aterram ou levantam voo do Aeroporto de Lisboa é a partir das casas dos moradores. Um antigo autarca do Campo Grande confessou em tempos que temia que um avião lhe entrasse um dia pela janela adentro, tão perto eles voam junto às casas.

As esplanadas de muitos dos cafés de Alvalade constituem excelentes locais para observação dos aviões.

Esteja em casa ou num jardim os aviões são uma constante. A paixão que a Junta de Freguesia de Alvalade tem pelos aviões levou-a a construir, em 2017, um observatório de aviões como se tal fosse efectivamente necessário.

Os arquitectos de alguns edificios de Alvalade, transformaram os últimos andares em verdadeiras "torres de controlo aéreo", tal é a omnipresença nos aviões.