Jornal da Praceta 

Fundado em 2001


Informação sobre a freguesia de Alvalade em Lisboa


 

 

Histórias do Hospital Júlio de Matos

 

António José Pereira Flores (1883-1957).

O Centro de Alcoologia de Lisboa no Hospital Júlio de Matos, em 1966, recebeu o nome de António Flores, numa justa homenagem pela sua brilhante carreira como professor, neurologista e psiquiatra. Foi professor da professor na Faculdade de Medicina e seu director (1944 - 1947).Secretário da Associação dos Médicos Portugueses (1912), presidente da Comissão Instaladora e Administrativa do Hospital e da Direcção Médica do Hospital Júlio de Matos (1939 – 1941), bastonário da Ordem dos Médicos (1940 - 1943), director do Hospital Miguel Bombarda (1941-1953), presidente da Sociedade de Reumatologia e da Direcção do Centro de Estudos Egas Moniz (1957) e 1º Presidente da Sociedade Portuguesa de Neurologia e Psiquiatria.

Anterior

 

 

CENTRO DR. ANTÓNIO FLORES

Gaspar Santos* e José Teixeira**
 


O Centro Dr. António Flores para tratamento de dependências do alcool começou a funcionar em 1966. Tendo desde início autonomia técnica.

A sua construção foi financiada pela Fundação Calouste Gulbenkian em 1963, e situa-se junto à Av. do Brasil na parte mais a sul e poente do parque ocupado então pelas instalações do Hospital Júlio de Matos.

Este centro tem consulta externa, trata doentes em regime ambulatório, isto é, acompanha periodicamente doentes sem internamento. Abriu com capacidade de internamento de 30 doentes de sexo masculino e 10 do sexo feminino em unidades hospitalares diferentes. Posteriormente, por unificação numa só unidade hospitalar passou para 20 homens e 10 mulheres.

Os doentes que assiste são alcoólicos. Doentes portadores de outras toxicodependências, só trata, excepcionalmente, quando aliado à toxicodependência o doente sofre também de alcoolismo.

Os médicos, enfermeiros e assistentes sociais, pessoal administrativo e auxiliar foram recrutados no HJM.

O primeiro director foi  Dr. Pompeu de Oliveira e Silva e, por sua morte,  o Dr. Artur Pistachini Galvão e a seguir a Drª Maria Odília Castelão.

O primeiro enfermeiro chefe da parte masculina foi Vergílio Duarte Ribeiro, o segundo foi enfermeiro chefe Cândido Barata e o terceiro o enfermeiro chefe Brito.

Sendo da parte feminina a primeira enfermeira chefe Júlia Marques.

A primeira assistente social foi Elisa Cruz.

Em 1988 foi criado nas mesmas instalações o Centro Regional de Alcoologia de Lisboa (Dec. Regulamentar nº 41/88 de 21 de Novembro). Uma mudança de nome e passagem a autonomia técnica e administrativa sem prejuízo dos direitos do pessoal que pertencia ao HJM. Mas inicia-se uma nova etapa, neste e nos Centros Regionais de Alcoologia de Porto e de Coimbra, que tem a ver com a prevenção, conforme com o Artº. 2º. que se transcreve:

Os Centros visam a prevenção dos problemas ligados ao álcool e a coordenação das actividades no âmbito da alcoologia e tratamento nas respectivas zonas e desenvolverão a sua actividade em articulação com as administrações regionais de saúde e centro de saúde nelas integrados, com hospitais psiquiátricos e centros de saúde mental, com institutos de clínica geral e com outras instituições e grupos responsáveis pela saúde e bem estar da comunidade.

 

Modelo terapêutico

A terapêutica baseia-se em desintoxicação, acompanhamento psicológico desabituação e reinserção social.

Na entrada do doente há um período de desintoxicação, com hidratação e nutrição com injecções de soros e vitaminas. Respeitando sempre abstinência total de bebidas alcoólicas. Esta fase nos casos de doentes fisicamente mais conservados terá uma duração de pouco mais de uma semana. Sendo mais demorada se o doente já tem uma acentuada degradação física.

Acompanhamento psicológico

Desde a primeira consulta e internamento, se for este o caso, um médico psiquiatra ocupa-se do doente, colhendo todas as informações clínicas,  seguindo o doente e prescrevendo os tratamentos até à alta, e com as recomendações para a reinserção social.

Desabituação

Desabituação consiste em criar no doente repugnância ao tipo de alcool que habitualmente bebia. Quando o médico entendia, preparava o doente para aceitar esta fase do tratamento. Mas nem todos os doentes a faziam.

Esta era feita em sessões com a frequência que o médico prescrevia. Começava cada sessão por uma injecção de Apomorfirna. Depois fazia-se uma reunião de grupo supervisionada pelo médico e a presença de enfermeiro. O grupo era constituído, conforme o número de doentes necessitados, por cerca de cinco doentes.

A fraca iluminação da sala e o cenário que se preparava era tanto quanto possível nauseabundo, para gerar no doente repugnância. Reuniam sentados em torno de baldes individuais para onde vomitavam. Em mesa ao lado estavam copos e o tipo de alcool (cerveja, vinho branco ou tinto, aguardente etc.) que cada doente habitualmente bebia.

Quando era suposto a injecção já ter produzido efeito, cada doente começava a ingerir o seu copo e a ter arranques de vómito. Se vomitava muito bem, continuava a beber e a vomitar, se não vomitava era-lhe deitada uma ampola de Emetina num copo de água  para forçar o vómito.

 Há variantes a esta forma de criar o reflexo de repugnância ao alcool:

 - Uma é por via hipnótica sugerir a provocação do vómito, sem a aplicação de fármacos, com a ingestão de bebida durante a sessão de grupo. Que porém não teve muito êxito.

 - Outra é a tomada de comprimidos de Antabus durante vários dias e sem  recorrer à sessão de grupo com ingestão de bebida. Mas que não teve muita prática corrente neste Centro. É mais destinada a doentes que se tratam em casa.

Reinserção Social

O regresso ao meio familiar e ao trabalho era preparado e acompanhado pelo serviço social junto das famílias e das empresas a quem era dita e explicada a necessidade de futuras consultas periódicas para prevenir recaídas.                                 

Em traços largos o método terapêutico é hoje o que descrevemos. Já é antigo, de mais de meio século. Mas a sua aplicação e o uso que os clínicos dele fazem tem-se aperfeiçoado em face da experiência que se  acumulou. Naturalmente de acordo com a personalidade do doente e os danos corporais e psíquicos já produzidos pelo alcool. E ainda da experiência e perícia do cada médico.

                                       Gaspar Santos* e José Teixeira**

 

*Engenheiro reformado da EDP.  Enfermeiro no HJM entre 1956 e 1965.

** Enfermeiro Chefe aposentado HMB. Enfermeiro no Centro Dr. António Flores desde a sua abertura.

Rua Prof. António Flores na Cidade Universitária de Lisboa (Alvalade)





 

  
   
 
 
 
 
 
 
  
  
  
   
   
   
   

 



 

 


 

 Anterior

Para nos contactarjornalpraceta@sapo.pt